domingo, 18 de fevereiro de 2018

Guiné 61/74 - P18329: Blogpoesia (553): "Sobressaltos...", "Libertação...", e "Poesia do calcanhar...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Sobressaltos…

Inesperados, surgem de repente.
Revoltam a vida.
Atordoam. Escurecem.
Fica-se suspenso.
Desaparece o futuro.
O passado ardeu.
Estilhaçou-se a esperança.
Quem havia de dizer!...
Logo a mim.
Sempre foi na casa dos outros.
Desta vez, fui eu.
Por mais rico e forte.
Todos sujeitos.
É bom reflectir antes que seja.
Seja o que for, é preciso acalmar.
Fiquemos de pé.
Com tempo, a ordem virá.
Montanha sem vale, não há.
O caminho é subir e descer.
Desistir é perder passado e futuro…

Berlim, 12 de Fevereiro de 2018
8h31m
Jlmg

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Libertação…

Corrigir o caminho que nos leva ao abismo,
Voltar para casa ileso dum assalto violento,
Sair da falência que nos pôs na miséria,
Vencer o tumor, sentença de morte,
Sem a ajuda da químio,
Abrir o carro com a chave perdida,
Encontrar a carteira com tudo lá dentro,
Regressar são duma guerra malvada,
Recuperar o romance inteirinho que o computador escondeu,
Acordar de manhã e poder trabalhar,
Apanhar o comboio que já estava a apitar,
Deixar de fumar e começar a viver,
Sair da prisão a meio da pena, voltar para lá,
Conseguir o perdão na hora da morte
Que não chegou a chegar,
É como morrer e voltar a nascer…

Berlim, 14 de Fevereiro de 2018
8h34m
Jlmg

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Poesia do calcanhar…

É servil e humilde por função.
Ali está. Suportando o corpo na vertical.
Um par. Gémeo. Missão igual.
Ponto de partida e chegada.
Elegante, na marcha.
Se eleva e avança.
Com equilíbrio, pisa e aguenta.
O outro se lança.
Vence a distância.
Aproxima o distante. Ufano, segue atrás a planta do pé.
Segundo plano.
Que importa?
O que interessa é chegar.
Cisne volante,
Corpo a dançar.
Sente o chão.
Detesta tacões.
Com engenho, arguto,
Se arma de calos, contra as pedras e espinhos da terra.
Se agarra à perna como a quilha dum barco.
Ora, prá frente, ora para trás.
Repousa à sombra, deitado de lado…

Ouvindo “fantasia” em fá menor, de Schubert em piano
Berlim, 15 de Fevereiro de 2018
7h39m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18307: Blogpoesia (552): "Ao alcance da mão...", "Brandenburg", e "Saiu um vedor...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

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