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sexta-feira, 12 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25374: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-Chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte XV: as ondas hertzianas também chegavam a Nhala, Gadamael, Pirada, Canquelifá...

1. O nosso camarada Eduardo Estrela (ex-fur mil at inf, CCAÇ 14, Cuntima e Farim, 1969/71) escreveu em comentário ao poste P25364 (*):


(..:) "Não vivi o 25 de Abril de 1974 na Guiné, mas lembro-me bem de a bordo do Niassa, depois de termos zarpado de Lisboa em 24 de maio de 1969, alguém ter dito em surdina que éramos nós que íamos fazer a comissão liquidatária da Guiné.

Infelizmente não foi assim e muitos outros ainda foram enviados para o matadouro. Mas por este pormaior se pode ver a enorme vontade que já havia em acabar com uma guerra que nunca devia ter começado." (...)

Pois é, Eduardo, fomos juntos no T/T Niassa, que ainda muitas viagens teve que fazer, levando e trazendo tropa, armas e bagagens... No dia 9 de abril de1974, já não partiu do Cais da Rocha Conde Óbidos: foi vítima de bomba, num atentado atribuido às Brigadas Revolucionárias. Ninguém soube, ou muita pouca gente... A censura continuava de lápís azul na mão...

Em Bissau, também se conspirava há muito... O gen Bettencourt Rodrigues parece que foi o último a saber, na madrugad de 26 de Abril de 1974 (*).

Continuamos a publicar mais alguns singelos testemunhos de camaradas nossos que lá estavam, no CTIG, cumprindo o seu dever... E que foram apanhados, como todos nós, aui na metrópole,mpelas notícias que rapidamente se propagaram pelas ondas hertzianas...


António Murta, ex-alf mil, 2ª CCaç / BCaç  4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74)

 (...) «25 de Abril de 1974 – Estava no mato a uns quilómetros de Nhala. Eram umas 3 ou 4 horas da tarde quando chegou numa Berliet um furriel “periquito”  com uma escolta, aos berros,  para que regressássemos porque a guerra ia acabar. Na Metrópole tinha havido uma revolução! 

Fiquei doido. O pessoal do meu grupo parece que não percebeu muito bem a notícia. Mas subiram alegres para a viatura. Eu e o furriel “periquito”, sentados nos guarda-lamas da Berliet, à frente, berrávamos para o ar e agitávamos as espingardas. Os soldados riam-se e faziam barulho. Pergunto ao furriel por mais pormenores e ele:
— Não se sabe mais nada. Houve uma revolução em Lisboa e prenderam os Pides. Não se sabe mais nada.

“...e prenderam os Pides”. O meu coração quase rebentava. A comoção perturbava-me. Chegámos ao quartel e estava tudo na maior confusão, agarrados aos rádios, mas pouco se adiantava. Quis ver e interpretar as caras das pessoas, ver as suas reacções e, de facto, elas eram diferentes, embora a generalidade estivesse radiante. Ainda era cedo para as pessoas se definirem e manifestarem, quer pela sua despolitização, quer pela incerteza dos pormenores dos acontecimentos».

A desinformação era tal, que os acontecimentos só me mereceriam nova referência em 5 de Maio, onde dou conta de ocorrências graves em Bissau: rebentamentos nas ruas, perseguições a Pides e, até, a agressão à esposa de um deles, frente ao Mercado de Bissau, em que a senhora foi completamente despida. A tropa interveio e impediu coisas certamente mais graves. Eram os rumores que iam chegando. (...) (**)

C. Martins,ex-cmdt., 15º Pel Art (Gadamael, 1972/74)


(...) Bem,eu estava em Gadamael,e após fazer a minha ronda higiénica,  liguei o rádio em onda curta e percorri as ondas do "éter"..."rádio Habana, Cuba, território libre in America", nada; "rádio Moscovo", nada; "Deutchsvella", nada: "rádio Globo", nada.."BBC.. golpe militar em Portugal, general Spinola, coiso e tal"... O  quê ?... Porra,.finalmente!...

Contactei o Sr. comandante H. Patrício, dizendo-lhe que estava a decorrer um golpe militar,e este pergunta se era o nosso General Spínola que estava à frente... E eu..claro que é.. (eram 7 da manhã e eu não fazia a mais pequena ideia)... Ah, sendo assim eu alinho...Boa.

Não houve a flagelação da ordem, já não saiu uma companhia para o mato  e o resto continuou tudo como dantes... Apenas troca intensa de mensagens com Bissau, que pouco ou nada sabiam,ou não queriam dizer.

Foi assim o meu 25A.(***)

Carlos Ferreira, ex-fur mil at cav,  3ª CCav/BCav 8323 (Pirada, set73/set74)

Um dia inesquecível, para mim. Estava em Pirada, em uniforme nº. 2, pronto para embarcar numa aeronave, com destino a Bissau, via Lisboa, para gozar as minhas férias disciplinares. Nesse interim, fomos atacados pelo IN, com um potencial de fogo muito superior ao do ataque que tivemos em Março.

Saltei para a vala mais próxima e aguardei que acabasse a flagelação. Não houve vítimas militares, mas pereceram, creio que 8 senegaleses, que se encontravm ao balcão, de uma loja, de um comerciante local. (***)

Joaquim Vicente da Silva, ex- 1º cabo at cav, 3ª/BCav 8323 (Pirada, set1973/set1974

(...) Vou contar a história do violento ataque que sofremos em Pirada,  exactamente no dia 25 de Abril de 1974.

No dia 25 de Abril de madrugada, saímos dois pelotões, mais os sapadores. Fomos levantar algumas minas que estavam na picada em direcção a Gabu (Nova Lamego). Regressámos a Pirada por volta das dez da manhã. Participei nesta saída, tínhamos de fazer a protecção aos sapadores.

Eram mais ou menos dez e meia, eu já tinha tomado banho e estava no meu quarto, abrigo nº. 1, deitado em cima da minha cama e ouvi um pequeno estalido. Um colega que estava cá fora sentado num banco, gritou logo:

- Saiam para a vala que isto é o início de um ataque!...

Naquele dia o PAIGG bombardeou Pirada com muitos mísseis e morteiros, alguns caíram bem perto do local onde eu me encontrava, eu não morri por sorte. A meu lado, morreram três africanos nossos colegas, um míssil caiu-lhes aos pés e cortou-os em pedaços. Nunca tinha visto nada daquilo. Fiquei horrorizado, ainda hoje mexe comigo.

Nós, soldados brancos, não morremos nenhum, porque estávamos bem agachados nas valas ou trincheiras. Vieram juntar-se a nós vários oficiais, incluindo o alferes médico que nos disse para nos espalharmos mais pelas valas porque aquilo estava a ficar feio.

Este bombardeamento durou cerca de duas horas. Nós respondemos com os morteiros 81, os nossos obuses 10.5 e o nosso obus 14 que estava junto à pista de aviação  de Pirada.  Bajocunda também nos deu apoio de fogo com o obus 14 deles. Foi um inferno. Só se ouviam bombas a voar, outras a assobiar e a rebentar por cima ou perto de nós.

Assim que terminou o ataque, mandaram-nos equipar para sair. Fomos patrulhar em volta de Pirada e encontrámos, para o lado do Senegal,  o mato todo a arder, mas felizmente não vimos ninguém do PAIGC. Caiu um míssil na casa de um comerciante branco, de nome António Palhas, que escapou ileso, mas morreram seis africanos que estavam noutro compartimento da casa.

Nesse dia,  nós, cabos e soldados,  não sabíamos nada do que estava a acontecer cá na Metrópole. Só à noite, através da BBC é que tivemos conhecimento do golpe de Estado. Foi uma grande alegria para todos nós porque pensámos logo que a guerra acabava naquele dia. Festejámos com muitas cervejas.

No dia seguinte na telefonia, começámos a ouvir a Grândola, Vila Morena e outras músicas do Zeca Afonso. A guerra ia acabar, que alegria! (...) (****)

Carlos Costa, ex-fur mil,  2ªC/BCAÇ 4516 /73 (Aldeia Formosa, Mampatá, Colibuia, Canquelifá, Ilone, Canquelifá, Bissau, jul73/set74)

Nesse dia estava eu em Canquelifá, a notícia foi recebida com natural surpresa e curiosidade de saber o que na verdade se estaria a passar. Escutávamos a rádio,  ávidos de saber notícias. 

No dia seguinte o capitão chamou,  a uma reunião, sargentos e oficiais, comunicando-nos que tinha duas mensagens para nos transmitir, um seria dada a conhecer naquele momento e a outra passadas 24 horas. Assim a mensagem lida de imediato anunciava que estaria iminente mais um ataque do PAIGC. 

Passaram-se as 24 horas, debaixo de uma enorme tensão, à espera do primeiro "buuu, BCAÇ m" que não chegou a acontecer. Foi então lida a 2ª mensagem que revelava ter havido os primeiros contactos do MFA com os movimentos de libertação das colónias, tendo sido acordado que as escaramuças seriam evitadas: não haveria mais ataques e, se encontros houvesse no mato, haveria apenas alguns tiros para o ar, sinalizando a presença, seguindo cada força em sentidos opostos. 

Os dias que se seguiram foram calmos,  com uma excepção,  com os paraquedistas em segurança de uma coluna,  um deles pisou uma mina, perdeu a vida. 

Como eu era do batalhão de intervenção da Guiné BCAÇ 4516/73, , passado algum tempo regressámos (a 2ª Companhia) a Bissau e,  até Setembro, mês do regresso à metrópole,  fizemos segurança à cidade.


José Carlos Gabriel, ex-1.º Cabo Op. Cripto, 2.ª CCAÇ/BCAC 4513
Nhala, 1973/74

Camarada António Murta: Embora me encontre na Alemanha junto aos meus netos (deixaram-me agora respirar um pouco), entrei no Blogue e vi a tua mensagem.  (..:)

Como me lembro dessa noite em que recebemos a mensagem sobre a revolução e que dizia o seguinte; 

252245NABR RELAMPAGO “Agências noticiosas informam Governo Professor MARCELO CAETANO derrubado por movimento Forças Armadas “. 

A festa que foi feita nessa altura por toda a companhia e, se a memória me não falha,  já ninguém foi mais para a cama e penso que até o “cantinas“ foi abrir a mesma mas já não tenho a certeza.  (...) (*****)
____________

Notas do editor:
 
(*) Último poste da série > 10 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25364: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-Chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte XIV: Foi pela rádio, a BBC e outras emissoras, que a malta ouviu a notícia do golpe de Estado em Lisboa... Uns em Bissau, outros em Bissorã, Canssissé, Guidaje, Xitole...

(**) 15 e abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12988: No 25 de abril eu estava em... (20): No mato, algures entre Nhala e Buba, emboscado, junto à estrada nova que ligava as duas povoações... (António Murta, ex-al mil, 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4513, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973-74)

segunda-feira, 18 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25284: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Inf Bettencourt Rodrigues, Governador-geral e Com-chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte XI: Nhala, 23 de abril, a última visita a um quartel no mato (António Murta, ex-alf mil, 2ª C/BCAÇ 4513, Nhala, 1973/74)


Foto 4 > Guiné > Região de Tombali > Sector S2 (Aldeia Formosa) > Nhala >  2ª C/BCAÇ 4513 (Nhala, 1973/74) >  23 de Abril de 1974 > Já no centro do aquartelamento o general dialoga com o cmdt de Nhala; de costas, o coronel Hugo da Silva, Chefe do Estado-Maior.


Foto 8 > Guiné > Região de Tombali > Sector S2 (Aldeia Formosa) > Nhala > 2ª C/BCAÇ 4513 (Nhala, 1973/74) > 23 de Abril de 1974 > Diálogo à porta do cmdt de companhia, com a presença de um "homem grande" que deve ser um “notável” da tabanca, mas de quem não me recordo.



Foto 11 > Guiné > Região de Tombali > Sector S2 (Aldeia Formosa) > Nhala > 2ª C/BCAÇ 4513 (Nhala, 1973/74) > 23 de Abril de 1974 >  As visitas preparam-se para partir; oo volante do jipe, o cmdt do Batalhão, ten cor Carlos Ramalheira e, ainda a subir, à esquerda, o cmdt de Operações, capitão Cerveira; de cigarro na boca, à direita, o coronel Hugo da Silva; no jipe de trás o resto da comitiva, apenas se reconhecendo ao volante o major Dias Marques; a comitiva dirigiu-se a Aldeia Formosa, onde o general almoçou regressando logo a seguir a Bissau.

Fotos (e legendas): © António Murta (2015). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Terá sido mesmo a última visita que o Com-Chefe, gen Bettencourt  Rodrigues, fez a guarnições no mato: referimo-no à sua ida ao Sector S2, e nomeadamente a Aldeia Formosa  e Nhala. Chegou de manhã, visitou a frente de trabalhos da estrada Aldeia Formosa-Buba, e regressou a Bissau depois do almoço.

O nosso camarada António Murta, ex-alf mil, 2ª C/BCAÇ 4513 (Nhala, 1973/74) tem uma reportagem completa sobre a visita a Nhala (*). Selecionámos 11  das suas 18 fotos, para esta série de "A 23ª hora" (**)




(i) Apontamento: O general Bettencourt Rodrigues.

O General Bettencourt Rodrigues foi um militar brilhante e teve uma carreira longa e preenchida de altos cargos, ensombrada apenas por um final inesperado e sem glória, quem sabe, por preferir manter-se coeso com os seus ideais a aderir ao Movimento das Forças Armadas que acabara de depor o governo de Lisboa. 

Por via deste desfecho, nunca saberemos que impacto teria a sua acção na administração da Guiné e no evoluir da guerra que, naquela época e nalguns sectores, atingia estádios decisivos e preocupantes, mormente no meu Sector S-2, (com informações ainda muito secretas mas alarmantes sobre os planos do PAIGC), como mais tarde darei conta.(...)


 (ii) História da Unidade do BCAÇ 4513:

(...) "23Abr74 – Pelas 08h00 chegou a Aldeia Formosa  Sua Excelência o General e Comandante-Chefe, acompanhado pelo seu Chefe do Estado Maior, cor Hugo da Silva, comandante do BENG,  ten cor Maia e Costa,  e ajudante de campo, a fim de visitarem a frente de trabalhos da estrada Aldeia Formosa - Buba. 

Depois de serem prestadas as honras do estilo, Sua Excelência percorreu demoradamente o aquartelamento, apreciando as obras em curso. 

Depois de um briefing no Gabinete de Operações, e acompanhado pelo comandante e 2º comandante do Batalhão e restante comitiva deslocou-se à frente de estrada e ao aquartelamento de Nhala.

Na frente de trabalhos reuniu-se com o pessoal de Engenharia, a qual felicitou pelo trabalho desenvolvido. Após esta visita regressou a Aldeia Formosa, onde almoçou, seguindo depois do mesmo para Bissaum.  (...)."

(iii) Das minhas memórias desse dia:

(...) 23 de Abril de 1974, terça-feira:  A visita do General.

A visita do General Bettencourt Rodrigues a Aldeia Formosa e a Nhala foi, provavelmente, a última que fez na Guiné na qualidade de Comandante-Chefe. 

Pareceu-me uma pessoa muito acessível, afável e atenta aos problemas que lhe eram colocados. Mas foi a impressão de um contacto muito breve.

Nas imagens que mostrarei a seguir, “reportagem” que não é de todo exaustiva, pode notar-se uma certa ausência de tropa em Nhala, pela mesma razão da ocorrida aquando da visita da Cilinha, mas que não referi no relato que dela fiz. Essa ausência deve-se ao que a História da Unidade do BCAÇ 4513 expressa sem rodeios:

“(...) 23Abr74 – (...). Em virtude da visita de Sua Excelência o Comandante-Chefe, foi montado na estrada Aldeia Formosa-Buba  um dispositivo especial de segurança, com forças da 1.ª CCAÇ, 2.ª CCAÇ, 3.ª CCAÇ/4513, CART 6250”.(...)

Como última nota referente a este dia, diz ainda o seguinte a História da Unidade:

“Pelas 22h30 Gr IN destruiu um pontão da estrada alcatroada Buba-Nhala, em região XITOLE 2 G 7-39”.

Mas o senhor General já não ouviria o grande estouro, recatado em Bissau para onde regressou após ter almoçado em Aldeia Formosa.  (...)



Foto 1 > Guiné > Região de Tombali > Sector S2 (Aldeia Fomosa) > Nhala >  2ª NC/BCAÇ 4513 (Nhala, 1973/74) >  23 de Abril de 1974 >  Chegada do gen Bettencourt Rodrigues às imediações do aquartelamento, descendo a base recente da estrada nova; na frente do jeep, preparando-se para descer, o comandante do BCAÇ 4513, ten cor Carlos Alberto Ramalheira.



Foto 2 > Guiné > Região de Tombali > Sector S2 (Aldeia Fomosa) > Nhala >  2ª C/BCAÇ 4513 (Nhala, 1973/74) >  23 de Abril de 1974 > Depois das honras militares o general cumprimenta o cmdt  de Nhala, Cap Braga da Cruz, da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513. Atrás de si, o Oficial de Dia, Alf Mil Campos Pereira.


Foto 3 > Guiné > Região de Tombali > Sector S2 (Aldeia Fomosa) > Nhala >  2ª C/BCAÇ 4513 (Nhala, 1973/74) > 23 de Abril de 1974 > A comitiva dirige-se para o aquartelamento. À esquerda da imagem o coronel Hugo da Silva, Chefe do Estado-Maior, cumprimenta o Oficial de Dia. Em primeiro plano, de Kalashnikov, o tenente Ajudante de Campo. E guarda-costas, pareceu-me.



Foto 5   
 > Guiné > Região de Tombali > Sector S2 (Aldeia Fomosa) > Nhala >  2ª C/BCAÇ 4513 (Nhala, 1973/74) >  23 de Abril de 1974 > O tenente guarda-costas (que ostenta o crachá dos cmds na boinma, e está equipado com uma Kalash),  aproveita para ler uma carta chegada da Metrópole, quero crer. Porquê? Porque o envelope é debruado pelo tracejado característico do correio aéreo.
~


Foto 6    > Guiné > Região de Tombali > Sector S2 (Aldeia Fomosa) > Nhala >  2ª C/BCAÇ 4513 (Nhala, 1973/74) >23 de Abril de 1974 > Por uma mania que ainda uso quando calha, fechei num círculo visitantes e anfitriões. De bigode, fitando-me, o mjor Dias Marques, que percebeu a maldade (inocente, diga-se), parece pensar: "Lá está este gajo outra vez com as suas maluqueiras"...


Foto 7    > Guiné > Região de Tombali > Sector S2 (Aldeia Fomosa) > Nhala >  2ª C/BCAÇ 4513 (Nhala, 1973/74) > 23 de Abril de 1974 > Após inspecção ao depósito de géneros (com cão a sair), da responsabilidade do fur mil vagomestre Sebastião Oliveira.




Fotos 9/10   > Guiné > Região de Tombali > Sector S2 (Aldeia Fomosa) > Nhala >  2ª C/BCAÇ 4513 (Nhala, 1973/74) >  23 de Abril de 1974 > Outro homem grande chega-se à conversa, enquanto começam a aparecer as mulheres da tabanca com ar decidido, começa o ajuntamento popular movido pela curiosidade e pelo tributo de honra ao homem grande da tropa, manga de ronco; j
á não vai haver hipótese de reunir no gabinete; tudo irá a “despacho” ali à porta.

 (Seleção, revisão / fixação de texto, edição parcial  e renumerção das fotos: LG)

_______________

Notas do editor: 

quinta-feira, 7 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25245: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Bettencourt Rodrigues, Governador e Com-chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte IX: O adeus a Aldeia Formosa, onde também tinha um sobrinho, madeirense [Fernando Costa (1951-2018), ex-fur mil trms, e músico, CCS/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, março de 1973/ setembro de 1974)]


Guiné > Região de Tombali > Aldeia Formosa > s/d [ 23 de abril de  1974, segundo o António Murta] > BCAC 4513 > A última visita do Com-Chefe e Governador Geral Bettencourt Rodrigues (de costas, de camuflado, à direita, recebendo honras militares)


Guiné > Região de Quínara > Região de Tomabali >  Porta de armas do aquartelamento ao tempo do  Comando, CCS e 1ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (março de 1973/ setembro de 74)... As outras suas unidades orgânicas estiveram em Buba (a 1ª CCAÇ) e em Nhala (2ª CCAÇ)...

Fotos (e legendagem): © Fernando Costa (2009).Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do Fernando Costa (1951-2018), ex-fur mil trms, CCS/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Março de 1973/Setembro de 1974) (*), membro da nossa Tabanca Grabde desde 25/10/2009 (*):

Caros amigos,

Volto ao vosso contacto para enviar uma foto onde aparece o Cmdt das Forças Armadas da Guiné, General Bettencourt Rodrigues, naquela que foi a última visita a Aldeia Formosa. 

Os militares que estão a fazer a guarda de honra, são do BCaç 4513. Esta foto, se assim o entenderem, pode ser incluída com as que se encontram no poste P5160 (*).

Um forte abraço, ex-furriel mil Fernando Costa


2. Comentário do editor LG:

Lembro-me de ter falado com o Fernando Costa na noite de 1/11/2009 (**). Foi ele que me ligou. Portanto, já fez 14 anos... E há cinco ou seis anos que ele morreu!...

Já que aqui escrevi que tivemos  então uma longa conversa ao telefone. Ele era (foi a impressão com que fiquei)  um homem das Arábias, e acabava de ingressar na Tabanca Grande

Para além de chefe das transmissões em Aldeia Formosa (na ausência do alferes da CCS que ficara no em Bissau, a tomar conta das antenas das telecomunicações...), foi um homem dos sete ofícios... E sobretudo foi músico, chegou a acompanhar a Cilinha, que tinha a mania que sabia cantar o fado, nas visitas aos quartéis do sul... 

Ainda apanhou o gen Spínola, duas vezes, de visita a Aldeia Formosa.  Numa delas o Com-Chefe terá vimdo expressamente para dar uma porrada num 1.º cabo de uma das companhias do Batalhão... Com o pessoal formado e alinhado na parada, rapou de um papel e chamou o cabo. Quando este compareceu perante o velho general, arrancou-lhe as divisas e deu-lhe dois pares de estalos...

O seu sucessor, o gen Bettencourt Rodrigues, terá ido lá, uma única vez (não nos finais  de 1973 ou princípios de 1974, mas sim em 23 de abril, segundo o António Murta)... Tinha lá um sobrinho, madeirense. (***)
 ____________

Notas do editor:


(**) 2 de novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5193: Memória dos lugares (50): Aldeia Formosa, BCAÇ 4513: A última visita do Gen Bettencourt Rodrigues (Fernando Costa)

sábado, 24 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25209: Por onde andam os nossos fotógrafos? (21): António Murta, ex-alf mil inf MA, 2ª C/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74) - Parte VII: Patrulhando a estrada Buba-Nhala, em construção

 

Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 5

Foto nº 6


Foto nº 7


Foto nº 8


Foto nº 9

Guiné > Região de Quínara > 2ª C/BCAÇ 4513 (Nhala, 1973/74) >  Abril de 1974 > Estrada de Buba - Nhala em construção


Fotos (e legendas): © António Murta (2015). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


António Murta. Vive em Buarcos, 
Figueira da Foz


1. Continuamos a selecionar (e a reeditar) algumas das melhores fotos  do álbum do António Murta, ex-alf mil inf, Minas e Armadilhas, 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74).


Legendas (António Murta):

Foto 1 > O 3.º e o 4.º Grupos de combate da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 transportados em viaturas pela estrada Buba-Nhala, iniciam depois um patrulhamento apeado comandados pelo alf mil Tibério Barros e por mim, respectivamente.

Foto 2 > As viaturas regressam a Nhala. Os grupos prosseguem até se embrenharem na mata, lá mais à frente, para interceptarem o carreiro da guerrilha que cruza aquela zona. Repare-se que a estrada continua por alcatroar, tal como noutros troços, por falta de alcatrão.

Foto 3 > O meu grupo de combate aguarda que se ganhem distâncias para poder avançar. À frente vai o 3.º grupo. Em primeiro plano, de costas, o soldado Frade de Coimbra. Creio que era o único casado do grupo.

Foto 4 > Ainda na estrada, imagem agora colhida da frente da coluna, vendo-se os homens do 3.º grupo de combate.

Foto 5 > Pessoal do 3.ºgrupo, trilhando o carreiro da guerrilha.

Foto 6 > Regresso a Nhala pela velha e saudosa picada. Na imagem, homem da bazuca do 3.º grupo e, em segundo plano e à direita, o Furriel Pastor do meu grupo.

Foto 7 > Ainda do mesmo ponto de vista, em primeiro plano o radiotelegrafista Bento seguido do 1.º cabo maqueiro Baptista Custódio, ambos do meu grupo.

Foto 8 > O meu grupo de combate, quase sem baixas, a gozar o merecido descanso. Nesta imagem faltam os dois furriéis.

Foto 9 > O 3.º grupo de combate também a descansar. O alferes Barros é o do lenço azul e à sua esquerda a olhar para o fotógrafo, o furriel Félix.

Excertos do poste P15504 (**)

(...) Desde o início da construção da estrada Aldeia Formosa-Buba, em outubro de 1973, até quase ao final de maio de 1974, é recorrente na HU do BCAÇ 4513, o seguinte registo: 

“Forças do Batalhão e de reforço continuam a dar segurança aos trabalhos de Engenharia, assim como a executar patrulhamentos para as regiões de fronteira e contra-penetrações nos tradicionais corredores de passagem IN”

A maioria desses patrulhamentos, para as regiões frequentemente vigiadas, não me deixaram grandes memórias. Eram as rotinas. Mas os que fiz por caminhos nunca antes calcorreados, para regiões que me eram indicadas no mapa da sala de operações, pelo contrário, deixavam-me quase sempre memórias indeléveis. Por isso, ainda hoje, sou capaz de os descrever sem necessidade de recorrer a notas escritas. Mesmo que não acontecesse nada de grave, e eu tive quase sempre a sorte de não me acontecer nada, (faço por esquecer o que penámos enquanto Companhia de intervenção nos chãos massacrados de Cumbijã, Nhacobá e arredores), às vezes bastava uma pequena descoberta, deparar-me com um sítio estranho ou uma paisagem desconcertante, e não esquecia mais. (...)

(...) Muito mais fácil e sem tensões, foi um patrulhamento que fizemos em bigrupo, iniciado pela estrada nova em direcção a Buba em viaturas, depois calcorreando um trilho da guerrilha e regressando pela picada Buba-Nhala. Com o meu grupo, o 4.º, saiu o 3.º grupo do alferes Barros. Como tudo correu bem e, no final deste patrulhamento rotineiro, (ou contra-penetração?), podíamos dizer que fora um belo passeio. Refiro isto como pretexto para deixar aqui mais algumas fotografias, até porque não tenho muitos registos fotográficos de saídas em bigrupo. (...)

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 20 de fevereiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25190: Por onde andam os nossos fotógrafos? (20): António Murta, ex-alf mil inf MA, 2ª C/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74) - Parte VI: O Rio Grande de Buba

(**) Vd. poste de 24 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15404: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (30): Abril de 1974

terça-feira, 20 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25190: Por onde andam os nossos fotógrafos? (20): António Murta, ex-alf mil inf MA, 2ª C/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74) - Parte VI: O Rio Grande de Buba
















Guiné > Região de Quínara > Nhala > 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74) >  Buba e o Rio Grande Buba

Fotos (e legendas): © António Murta (2015). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Algumas das melhores fotos do Rio Grande de Buba... são do álbum do António Murta, ex-alf mil inf, Minas e Armadilhas, 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74).

È um dois rios mais importantes da Guiné-Bissau. No séc. XV e XVI, quando os navegadores portugueses andaram por aqui, era conhecido apenas por Rio Grande.  

É um rio navegável numa grande extensão, comunica com o Geba, passa na cidade de Buba, tem uma bacia com uma área de 285 km2. É rico em peixe. Nele vvem o peixe-boi e algunas espécies de tartarugas. É uma região (incluindo o Parque Natural das Lagoas de Cufada) de grande biodiversidade, dispondo das maiores reservas de água doce do país.  Há várais ameaças sobre esta riqueza natural, incluindo a cnstrução de um porto comercial e mineiro (paar escoar a bauxite do Boé), 

As suas margens são de grande fertilidade para a agricultura e ladeadas por florestas. Desagua no oceano Atlântico junto à ilha de Bolama.

A sua navegabilidade   deve-se a alguns características particulares: (i) é  relativamente profundo e pouco propenso a assoreamento; (ii) o seu  leito, assente em base laterítica, é estável. (Fonte: Wikipedia).

Sobre o Rio Grande de Buba, escreveu o nosso fotógrafo, o António Murta (*)::

(...) O meu rio próximo, e de estimação, era o Rio Grande de Buba, grande via de comunicação para pessoas, mercadorias e equipamentos militares.

Era a ligação para o Mundo a partir destes confins perdidos, para as cargas pesadas e os contingentes militares impossíveis de deslocar por via aérea. 

Mas era também, à falta de melhor, o parque aquático onde muitos se refrescavam e pescavam - que não eu -, fazendo de Buba uma espécie de estância balnear, única em toda a zona. 

Isso implicava alguns riscos e retraía os menos afoitos, mas, logo após o estabelecimento da paz em Abril de 1974, chegámos a fazer várias deslocações a Buba só para o pessoal se refrescar.

Não posso dizer que conhecia bem este rio, pois só o naveguei uma vez e de noite

Também a visão que dele se tinha a partir do cais de Buba era relativamente limitada e, depois de banalizada, deixava-nos indiferentes às suas escassas belezas, tirando um ou outro pôr-do-sol mais flamejante.(...)

As fotos que selecionado de um lote de duas dezenas, e que reeditámis, dispensa legendas. (**)

[Seleção e reedição de fotos, revisão / fixação de texto para efeitos de edição neste blogue, itálicos e negritos: LG]

2. No Guia Turístico: À Descoberta da Guiné-Bissau, 2ªedição revista e atualizada, da autoria da Joana Benzinho e Marta Rosa (Afectos ComLetars e União Europeia, 2018, 176 pp.) pode ler-se sobre os canais do rio Grande de Buba (pág. 111)

(...) "O Rio Grande de Buba, um dos mais importantes da Guiné-Bissau, com uma superfície de 285 Km² e o santuário por excelência para a desova da barracuda, merece um passeio pelos seus canais bordados de mangais. 

"Os manatins ou peixe-boi (Trichecus senegaelensis) e algumas espécies de tartarugas também são presenças constantes nestas águas. Este rio, que desagua no Atlântico junto à Ilha de Bolama, tem uma grande diversidade de espécies marinhas e é ponto de passagem de uma grande variedade de aves. 

"Vale assim a pena fazer um circuito de barco para observação destas aves e da natureza, bem como uma paragem para um piquenique numa das pequenas ilhas deste rio. (..:)
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


domingo, 11 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25157: Por onde andam os nossos fotógrafos? (19): António Murta, ex-alf mil inf MA, 2ª C/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74) - Parte V: A visita da "Cilinha" a Nhala a um mês e meio do 25 de Abril de 1974


Foto nº 1


Foto nº 2

Foto nº 3

Foto nº 4

Foto nº 5

Foto nº 6

Foto nº 7

Foto nº 8 

Foto nº 9


Foto nº 10

Froto nº 11

Guiné > Região de Tombali > Nhala > 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74) >  Domingo, 10 de março de 1974 > A visita da Cecília Supinco Pinto ("Cilinha")

Legendas:

Fotos nº 1 >   Cilinha, à chegada, num momento de descontração. Boas vindas da companhia com os apertivis possíveis.

Foto nº 2 -  A Cilinha a dialogar com o cmdt do BCAÇ 4513 (Buba); em primeiro plano o cap João Brás Dias, comandante da 1.ª CCAÇ/ BCAÇ 4513 (Buba).

Foto nº- 3 >  Messe de oficiais de Nhala. O Comandante do Batalhão diz umas palavras de circunstância.

Foto nº 4 > Deois de ter falado para  um pequeno juntamento de militares e nativos, a Presidente do MNF prepara-se para partir para Aldeia Formosa.

Foto nº 5 > A  "Cilinha",  oten- cor Carlos Ramalheirao  e  cmdt da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Nhala), cap Braga da Cruz. 

Foto nº 6 > A "Cilinha", com a ajuda do ten-cor Ramalheitra, sobe para a Berliet.

Foto nº  7 > A "Cilinha" e o  ten-cor Ramalheitra acomodam-se na  Berliet.,

Foto nº 8 > Beijo de despedida do cap Braga da Cruz.

Fotoo nº 9 > A "Cilinha" despede-se de um alferes náo identificado  
 
Foto nº 10 - Último adeus da "Cilinha" ao pessoal de Nhala. 

Foto nº  11 -  Partida +ara Mampatá, o aquartelamento seguinte. (A mim pareceu-me mal que a Cilinha e o Comandante de Batalhão tivessem seguido à cabeça da coluna numa Berliet rebenta-minas; ao lado direito; a escolta foi feita por  fuzileiros do destacamento de Cacine.)

Fotos (e legendas): © António Murta  (2015). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. A visita da Cilinha  (seu nome de guerra) era sempre motivo para algum alvoroço nos nossos aquartelamentos... Antes de mais, pela curiosidade de  ser uma das raríssimas  mulheres brancas que se podia ver no mato, em plena guerra, em carne e osso... E sempre bem vestida. Secundariamente,  por ser a histórica e carismática líder do MNF - Movimento Nacional Feminino que, para alguns  nossos soldados,  tinha sobretudo a função de "Pai Natal": com sorte, um pedido ao MNF, desde que não fosse exorbitante,  era atendido (livros, instrumentos musicais, equipamentos de futebol, etc.).

Cilinha tinha um carinho especial pela Guiné (a sua "Guinezinha")  e pelos militares que aí "defendiam a Pátria", a avaliar pelas diversas vezes (quatro)  que visitou o território, a última das quais já em março de 1974, a um escasso mês e meio do golpe de Estado do MFA. 

A melhor reportagem, documentada, por texto e fotos, que já aqui apresentada sobre uma visita da Cilinha ao mato, é a do nosso camarada António Murta,  ex-alf mil inf,  MA,   2.ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74).

De uma lote de cerca de duas dezenas, selecionámos e  reeditámos onze fotos (*), Segue também um excerto do enquadramento feito pelo fotógrafo.


A visita da Cilinha a Nhala em 3 de março de 1974

Texto e fotos: António Murta (**)


(...) Este mês de Março ficou marcado por alguns acontecimentos empolgantes, para variar, como a ligação de Nhala à estrada nova Aldeia Formosa-Buba e a visita da Presidente do Movimento Nacional Feminino, Cecília Supico Pinto.

Sobretudo esta visita, trouxe uma animação inusitada às tropas de Nhala – e do Sector -, mas não se pode dizer que tivesse, também, quebrado a monotonia e a rotina, simplesmente porque naquela época, o que tínhamos menos era monotonia e rotina, tal era a actividade operacional.(...) 

10 de Março de 1974 – (domingo) – A visita da Cilinha 


Cecília Maria de Castro Pereira de Carvalho Supico Pinto [Lisboa. 1921 – Cascais, 2011],  Cilinha, como gostava de ser tratada, (diminutivo que lhe vinha da infância), era descendente de aristocratas e uma Senhora do Regime.

Não precisa de grandes apresentações porque sobre ela quase tudo já foi dito. Muito antes de a ter conhecido em Nhala, já tinha por ela uma elevada consideração e um grande respeito, pela sua coragem, tenacidade e coerência.

Durante treze anos, de 1961 a 1974, foi presidente do MNF que ela fundou, tendo em vista acções de sensibilização da sociedade portuguesa para a defesa das colónias ultramarinas, o seu Ultramar.  

Tudo fez nesse sentido, desdobrando-se em iniciativas na Metrópole e calcorreando as colónias, tentando dar alento a tropas desmotivadas e politicamente amorfas.

Era por ser assim, e não pelos seus objectivos, que a admirava e a minha consideração elevou-se depois de a ter conhecido. Porque, sendo coerente com as suas convicções, saiu do seu confortável cantinho e dos salões solenes e elegantes, e veio para o terreno com o seu camuflado pôr na prática aquilo em que acreditava, correndo riscos e sofrendo privações.

E via-se que gostava do que fazia, exibindo uma alegria contagiante e uma disponibilidade total, atributos que passavam para quem a via e ouvia, por a reconhecerem como “um deles”. Politicamente, eu estava nos antípodas. Para mim, a Cilinha, pelas suas ideias e acções e pela sua proximidade (intimidade) com o Regime, representava o Regime.

Politicamente, portanto, eu era contra a sua filosofia de manutenção das colónias, contra tudo o que dizia e fazia nesse sentido, que era, um pouco do que já fizera na sua juventude em prol da caridadezinha.

Paradoxo, incoerência da minha parte? Não. Repito que, como pessoa, tinha por ela o meu maior respeito e consideração. Aliás, soube já depois da sua morte que, nesse aspecto de respeitar o “outro” mesmo não concordando com “ele”, ela não era muito diferente de mim.

Dois exemplos: foi sempre amiga, desde a infância, da Sofia de Mello Breyner, mesmo estando em campos políticos opostos; uma vez disse, revelando nobreza de carácter: “Admiro Cunhal pela sua coerência”.

Para terminar, lamento que, após o 25 de Abril e até à sua morte, tenha sido desprezada pela esquerda e ostracizada pelos seus correligionários de direita. Tudo apanágios de gente de baixa índole. Sei que nunca foi hostilizada, ainda assim, merecera mais consideração.

À chegada a Nhala, a Cilinha foi alvo de calorosa recepção por parte da tropa e de alguma população, sobretudo crianças. Mais pelo inédito da situação e pela curiosidade por esta mulher branca que se aventurava no mato para chegar perto deles, com estímulos e uma palavra amiga.

Almoçou na messe de oficiais após uns descontraídos aperitivos, mais para pôr a conversa em dia. Vinha acompanhada pelo Comandante do Batalhão, Ten Cor Carlos Alberto Ramalheira e por um séquito de outros oficiais que foi arrastando por onde passou.

Após o almoço (ou antes?) houve tempo para falar aos soldados, cantar o fado e, até, dançar com alguns. Depois partiu rumo a Mampatá, após demoradas e sentidas despedidas. 

Admito que foi o acontecimento do mês, mas não poderia adivinhar que o mês seguinte traria acontecimentos muito mais importantes e marcantes do que este, efémero e superficial. (...)

[Seleção e reedição de fotos, revisão / fixação de texto para efeitos de edição neste blogue, itálicos e negritos: LG]

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 25 de janeiroo de 2024 > Guiné 61/74 - P25109: Por onde andam os nossos fotógrafos? (18): António Murta, ex-alf mil inf MA, 2ª C/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74) - Parte IV: Bem-vindos a Nhala!


Vd. tanbém poste de 15 de setembro de  2020 > Guiné 61/74 - P21361: (De)Caras (160): Cecília Supico Pinto (1921-2011)... "Cilinha, uma mulher que aprendi a admirar e a respeitar, mesmo discordando dos seus objetivos políticos" (António Murta, autor de uma belíssima reportagem fotográfica da visita da histórica líder do MNF a Nhala, em 10/3/1974, e que ela nunca viu em vida)