Mostrar mensagens com a etiqueta BENG 447. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta BENG 447. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 5 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25340: Reordenamentos Populacionais (2): Em louvor do BENG 447 e do PTE - Pelotão de Transportes Especiais (João Rodrigues Lobo, ex-alf mil, cmdt do PTE / BENG 447, Brá, 1967/1971)



Capa do livro "A Engenharia Militar na Guiné - O Batalhão de Engenharia". Coord. Gabinete de Estudos Arqueológicos da Engenharia Militar. Lisboa : Direcção de Infraestruturas do Exército, 2014, 166 p. : il. ; 23 cm. PT 378364/14 ISBN 978-972-99877-8-6.  (O livro parece estar esgotado. Há uma recensão publicada no nosso blogue.)



1. Dois comentários do João Rdrigues Lobo ao poste P 25336 (*):




João Rodrigues Lobo, ex-alf mil, 
cmdt do PTE (Pelotão de Transportes 
Especiais) / BENG 447 (Bissau, Brá, 
dez1967/fev1971)


(i) (...) Para a grande obra dos reordenamentos (**) também gostava de salientar o contributo do PTE - Pelotão de Transportes Especiais do BENG 447 que coordenou as descargas, cargas e transportou todos os materiais listados neste poste (P25336). 

E, saliento o seu contributo para minizar o "desaparecimento" de muitos deles antes do seu destino (só esta parte dava uma "história "). 

Na minha comissão o PTE do BENG 447 era compsto por um alferes miliciano, dois sargentos, quatro furriéis milicianos e cerca de noventa condutores. Com dezenas de viaturas de todos os tipos.

Os seus condutores-auto são dignos de apreço.

(ii) Não possuo documentação nem sei muita história do BENG 447. 

Fui em rendição individual em dezembro de 1968 e saí em Janeiro de 1971. Não conheci quem fui substituir nem conheci quem me substituiu. 

Quando cheguei apercebi-me porém do grande trabalho que se desenvolvia no Batalhão e da sua presença não só em Brá, em várias valências todas importantes para a sua missão, mas em toda a Guiné onde se desenrolavam obras. 

A minha estadia teve dois comandos. Sou de firme convicção que Spinola fez e mandou fazer grande obra, nomeadamente construção de estradas e reordenamentos (estes não só para apoio às populações mas também por estratégia militar). 

Sobre o BENG 447, Spinola sempres depositou grande atenção e "impôs" a nomeação do Major Lopes da Conceição para o seu comando, e consequente graduação em tenente coronel para poder comandar o Batalhão. 

Aliás um dos "defeitos" que os nossos engenheiros atribuiam a Spinola era a imposição de prazos para concluir as obras quer das estradas quer dos reordenamentos. Prazos que só eram excedidos por razões técnicas e sempre com a devida explicação prévia do Comando do BENG. 

Só posso pois descrever o trabalho desenvolvido pelo PTE - Pelotão de Transportes. Sem saber o que se teria passado antes de mim, constatei nos primeiros dias a grande "confusão" do Pelotão. Tendo o total apoio do Comando, e, do determinado por Spinola, reorganizei o Pelotão, racionalizando os movimentos dos homens e viaturas, estabelecendo controlos de movimentações e, com a satisfação de todos,  pois sabíamos o que faziamos e como o fazíamos. 

Trabalhámos por turnos as 24 horas quer nas descargas dos navios fretados quer nas cargas das LDG, e LDM. Dada a enorme quantidade dos materiais envolvidos e seu transporte urgente, nas descargas utilizávamos também viaturas civis contratadas pelo Quartel General quando as nossas eram insuficientes, mesmo usando a Enorme Continental conduzida pelo Grande Simão que ocupava toda a estrada sempre precedida pela Policia militar a abrir caminho, e pelas Plataformas de transporte de Máquinas e Catterpilars. 

Em colunas protegidas fazíamos transportes por terra. Os nossos condutores e viaturas davam apoio nas obras das estradas e reordenamentos.

O "desaparecimento" de materiais era enorme e para mim irracional como se considerava normal. O cimento (era considerado pelo QG uma quebra normal entre 5 e 10% !!!), as chapas de zinco e as rachas de cibe, como muitas peças para máquinas, "evaporavam-se" nas descargas em Bissau e nos transportes para as unidades de destino. 

Nas descargas a "evaporação" desapareceu em pouco tempo. No transporte para as unidades, com o apoio da Marinha e de um homem nosso armado em cima das cargas também desapareceu. 

De salientar que nem tudo foi fácil e nem tudo bem recebido, mas valeu-nos o total apoio do Comando do Batalhão e, do Comandante Spinola, para o conseguirmos. 

Sobre o cimento já falei em post anterior (***), sobre as chapas de zinco, rachas de cibe e peças, ainda nada mais digo.

Concluindo por agora, o BENG 447 foi um grande Batalhão, com camaradas muito capazes e bons engenheiros. Fez muita obra bastante impulsionada e exigida pelo Comandante Spinola. 

Sobre o "meu" PTE nada mais soube desde que saí e só espero que o camarada que me substituiu tenha tido o apoio que eu tive. Muitas pequenas histórias aconteceram neste anos, algumas já contei, outras ainda contarei.

Grande abraço para os que tiveram a pachorra de me ler e, os que me considerarem imodesto têm razão.


__________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 4  de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25336: A nossa guerra em números (25): Reordenamentos populacionais: materiais (das rachas de cibe às chapas de zinco) e custos

(**) Último poste da série > 2 de julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3013: Reordenamentos Populacionais (1): Gadamael, o primeiro, na sequência da retirada de Sangonhá e Cacoca em meados de 1968 (António J. Pereira da Costa)

(***) Vd. poste 23 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23380: Reavivando memórias do BENG 447 (João Rodrigues Lobo, ex-Alf Mil, cmdt do Pelotão de Transportes Especiais, Brá, 1968/71) - Parte X: A "guerra do cimento"

quinta-feira, 4 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25336: A nossa guerra em números (25): Reordenamentos populacionais: materiais (das rachas de cibe às chapas de zinco) e custos


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L1 ( Bambadinca) > Xime > Cais fluvial do Xime >1970 > 2º Gr Comb da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) >  Ao centro, em segundo plano, de óculos escuros e boné azul (da FAP),  o fur mil op esp Humberto Reis, cujo grupo de combate estava encarregue de escoltar o transporte de milhares de rachas de cibe, desembarcadas no cais do Xime, e destinadas ao reordenamento de Nhabijões, um dos maiores da época (iniciado com o BCAÇ 2852, 1968/70, e continuado com o BART 2917, 1970/72)... Este 2º Pel ficou cedo sem alferes, o António Manuel Carlão (1947-2018), destacado para a equipa do reordenamento de Nhabijões.

Foto: © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luis Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné > Região de Tombali > Gadamael > CCAÇ 2769 (Gadamael e Quinhamel, de janeiro de 1971 a outubro de 1972) > Vista aérea de Gadamael Porto, em finas do ano de 1971:  reordenamento, de dimensão média (c. 110 casas, cobertas a chapa de zinco, com o quartel à direita, em primeiro plano.  Foto do cor art ref António Carlos Morais da Silva, e por ele gentilmente cedida ao nosso camarada Manuel Vaz.

Foto: © Morais da Silva (2012) Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].

Citação: (1972), "Diário de Lisboa", nº 17849, Ano 52, Quinta, 31 de Agosto de 1972, Fundação Mário Soares / DRR - Documentos Ruella Ramos, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_5170 (2022-5-3)

1. Não sabemos se há estudos sobre a historial (e também o custo) dos reordenamentos da Guiné. É possível que existam, no Arquivo Histórico-Militar, muita informação técnica e económico-financeira sobre os reordenamentos das populações. Deixemos isso para os investigadores. (*)

Temos, no nosso blogue, alguns dados, parciais e dispersos,  sobre os reordenamentos populacionais, que foram um peça fundamental da política spinolista "Por uma Guiné Melhor".

É verdade que não foi o Spinola quem "inventou" a figura do "reordenamento" (já havia a experiência francesa das "agrovilles", na guerra da Indochina, nos anos 50,  depois o "Strategic Hamlet Plan" dos americanos no Vietname, com as suas "aldeias estratégicas";  e de novo os "regouprements" franceses na guerra na Argélia, nos anos 60).

Mas também é  verdade que a palavra "reordenamentos" praticamente não se ouvia antes do "consulado" de Spínola (1968-1973): nos livros da CECA sobre a actividade operacional no CTIG, a palava não aparece no livro 1 (até finais de 1966) (há duas referências com o descritor "reordenamentos", um deles no âmbito da criação, em 1973 (quando entrou em vigor o Estatuto Político-Administrativo da Província da Guiné), do Conselho Provincial de Educação Física e Desportos e Reordenamemtos, no âmbito dos nova orgânica dos Serviços da Administração Central... 

 Já no  livro 2 (1967-1970) há  cerca de 70 referências (Reordenamento / reordenamentos). 

Logo em 3jun68, na sequência de uma reunião no QG/CTIG, é publicada a Directiva n° 2/68, que "ordena o estudo imediato da remodelação do dispositivo na área de Aldeia Formosa por forma a obter o rápido reordenamento e instalação das tabancas em autodefesa, respeitando o princípio da concentração de meios", a ser concretizada "antes da época das chuvas".

 Em 30 de setembro, sai outra importante diretiva,   Directiva nº 43/68, de 30Set ("Porque o reordenamento das populações e a sequente organização das tabancas em autodefesa é um problema complexo e que requer técnica especializada, é determinado o seu estudo num dos departamentos do Gabinete Militar do Comando-Chefe "(...).

No essencial, a doutrina do Com-chefe sobre sobre o assunto ("Reordenamento das populações e organização da autodefesa") é definida nesta época (1968/70).

Em 1969, na época seca, deu-se início â construção dos primeiros grandes reordenamentos. Noutra ocasião daremos notícia mais detalhada sobre estas atividades. 

No último livro da CECA sobre a atividade operacional na Guiné (1971/74) são 63 as referências aos descritores reordenamento/reordenamentos. (*)

Em meados de 1972, e regundo informação do Avelino Rodrigues, em trabalho de reportagem sobre a Guiné de Spínola, haveria uma centena de "aldeias de zinco", coo Nhabijões.

2. Vejamos agora um memorandum elaborado pelo Serviço de Reordenamentos do Batalhão de Engenharia 447  entregue, em julho de 1971, aquando da visita à Guiné de uma delegação da ONU (***).

(...) Tem o Serviço de Reordenamentos do Batalhão de Engenharia habilitado inúmeros oficiais, sargentos e cabos com o estágio de reordenamentos. Esses elementos, formando equipas constituídas por um oficial (alferes), um encarregado de obras (furriel),  um pedreiro (cabo) e um carpinteiro (cabo),  executaram no interior da província com a colaboração das populações, cerca de 8.000 casas cobertas a colmo e 3.880 cobertas a zinco nos últimos anos.

O Serviço de Reordenamentos do Batalhão de Engenharia 447 tem apoiado essas construções com material e, quando solicitado, tem prestado assistência ténica localmente.

A esse volume de trabalho correspondem as seguintes quantidades de materiais:
  • Rachas de cibe - 542.000
  • Chapas de zinco - 550.960
  • Ripas - 756.600 metros
  • Pregos - 120.280 kg
  • Anilhas de chumbo - 27.160 kg
  • Cimento - 19.400 sacos

Ainda segundo a mesma fonte, para, por exemplo, 60 casas T2, havia necessidade de adquirir:
  • 11.700 ripas; 
  • 780 kg de pregos n.º 15; 
  • 600 kg de pregos n.º 7; 
  • 480 kg de pregos zincados; 
  • 420 anilhas de chumbo 6/8"
  • e 8.520 chapas de zinco (em média, 142 chapas por casa T2)

3. Segundo o gen Bettencourt Rodrigues. o último com-chefe do CTIG, até ao final de 1973, as Forças Armadas tinham construído 15.700 casas, 167 escolas, 50 postos sanitários, 56 fontenários e 3 mesquitas, e aberto 144 furos para abastecimento de água. (pág. 115) (****)

Destas 15,7 mil casas, 2/3 deviam ser cobertas a colmo, e as restantes (c. 5200) a zinco (estimativa nossa)

A casa com cobertura de zinco era, na época, o supremo luxo para um guineense a viver no interior (ou na cidade, em Bissau)... O colmo tinha que ser substituído todos os anos, exigindo maior volume de mão de obra. Mais ecológico e mais aconcelhado do ponto de vista térmico, aumentava, todavia, o risco de incêndio. 

O zinco, importado, deveria ser o materia mais caro da casa. No total, podemos estimar em 738,4 mil as chapas de zinco fornecidas pelo BENG 447 para os reordenamentos populacionais... 

Hoje um metro quadrado chapa de zinco deve custar em média 7 euros...Admitindo que as chapas usadas nos reordenamentos fosse de 100 cm x 100 cm (1 metro quadrado) , teríamos um custo de c. de 5,2 milhões de euros, a preços de 1971 (ano médio do "consulado" de Sínla, 1968/73) seria qualquer coisa como 315 mil contos (mais ou menos o orçamento anual da província!)...

Mas havias outros materiais a contabilizar...como, por exemplo, as rachas de cibe.


3. Já não nos lembramos quantas rachas de cibe levava uma casa... Só a estrutura do telhado, com cobertura de folha de zinco, deveria levar pelo menos umas 20... Mais outro lado, para suportar o telhado ao longo do varandim a toda a volta.. 

O total de casas em construção em Nhabijões era de 350, fora os equipamentos coletivos ou sociais...  Na altura falava-se que cada racha de cibe ficava ao exército em 7$50 (sete pesos e meio)... 

Um total de 15 mil rachas de cibe,  é nossa estimativa do material transportado do Xime para Nhabijões, com um custo direto de mais 100 contos.  (Em 1970, a preços de hoje, seria qualquer coisa como 33,5 mil euros)... 

Se, entre 1969 e 1974, as Forças Armadas no CTIG ajudaram a construir 15  mil casas, no total das tabancas reordenadas e, admitindo que cada casa, com colmo ou chapa de zinco, levasse pelo menos 50 rachas de cibe, temos um total de 750 mil rachas de cibe, com um custo de 5,6 mil contos (a preços de 1971  representariam hoje cerca de 1 milhão e 700 mil euros...

Uma tal quantidade de rachas de cibe (e admitindo  que um tronco dava 4 rachas) terá implicado o abate de 187,5 mil palmeiras, dependendo da altura de cada uma (o que, num pequeno território como o da Guiné, corresponderia a um gigantesco palmeiral;  o nome científico desta palmeira é Borassus aethiopum;  tem tradicionalmente  grande importância na construção civil; pode atingir os 20-30 metros de altura, pelo que o seu espique ou tronco dará mais do que 4 rachas).

Para além das chapas de zinco e das rachas de cibe, haveria ainda que contabilizar as ripas, as portas e janelas, os pregos, as ferragens, o cimento... Tudo isso custava dinheiro. O resto, a mão de obra (civil e militar), os transportes, a segurança, outros materiais como os tijolos de adobe, etc.  tudo era de borla (mas tinha um custo, indireto e oculto). 

 O PAIGC não gostou da "brincadeira": em 13 de janeiro de 1971, as NT accionam duas potentes minas A/C à saída do reordenamento de Nhabijões, de que resultaram 1 morto e bastantes feridos graves... (Por sorte, para a população local e possivelmente com a sua conivência, não havia civis a bordo do Unimog 411 que às 11h00 ia a Bambadinca, como era habitual, buscar o almoço para os militares destacados. )

Em outubro de 1973,  e pela primeira vez na história da guerra, o grande reordenamento de Nhabijões, de maioria balanta e onde vivia gente com parentes no "mato", foi flagelado, ao mesmo tempo que o destacamento do Mato Cão. Aviso intimidatório ? Retaliação ? 

Nhabijões, no subsetor de Bambadinca, era então, no final de 1969,  um importante aglomerado habitado por gente com parentes no "mato", e que era tradicionalmente considerado, antes do reordenamento, como um conjunto de núcleos habitacionais ribeirinhos "sob duplo controlo".  

Só a CCAÇ12, deu 1 alferes, 1 furriel e 1 cabo (metropolitanos) e 1 soldado (guineense) para integrar a equipa técnica do reordenamento de Nhabijões... E destacava periodicamente militares para a sua defesa... O seu primeiro morto foi o sold cond Manuel Soares, em 13/1/1971. Nhabijões foram, por isso,  também "regados com o nosso sangue"...

De qualquer modo, Marcelo Caetano mais os seus ministros da Defesa, do Ultramar e das Finanças tramaram a política spinolista "Por Uma Guiné Melhor"...
 Ao que se sabe, o sucessor de Spínola já não terá tido a mesma abundância de dinheiro para continuar a fazer a "psico"... 

Ora, quer se goste ou não, há uma Guiné antes e depois de Spínola:

  • Quando ele chega em meados de 1968, o território tinha 60 quilómetros de estrada alcatroada;
  • Cinco anos depois, são 550 km de estrada alcatroafa;
  • No ano escolar de 1970/71, a tropa administra 127 das 298 escolas primárias do território, ou seja cerca de 43%.; o resto eram as escolas oficiais , como a de Bambadinca (30%)  e as particulares,como escolas das Missões Católicas (27%);
  • Spínola deixa o território com uma criança em cada três, em idade escolar, a frequentar a escola
Spínola chegou a ser  uma ameaça série ao PAIGC... Mas homens como António Spínola ou Sarmento Rodrigues foram exceções na história da administração colonial na Guiné...
____________

Notas do editor:


(**) Vd. CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico- Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da Actividade Operacional: Tomo II - Guiné - Livro 1 (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2014, 533 pp.)

CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico- Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da Actividade Operacional: Tomo II - Guiné - Livro 2 (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2014, 604 pp.)

CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico- Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 6.º Volume - Aspectos da Actividade Operacional: Tomo II - Guiné - Livro 3 (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2015, 554 pp)

(**) Último poste da série > 28 de março de 2024 > Guiné 61/74 - P25312: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Inf Bettencourt Rodrigues, Governador-geral e Com-Chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte XIII: Cerca de 95% do total dos médicos e 75% dos professores em serviço no território eram militares...

(***) Vd. poste de 18 de etembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12057: "Memórias da Guiné", por Fernando Valente (Magro) (9): Os reordenamentos populacionais

(****) Vd. poste de 28 de março de  2024 > Guiné 61/74 - P25312: A 23ª hora: Memórias do consulado do Gen Inf Bettencourt Rodrigues, Governador-geral e Com-Chefe do CTIG (21 de setembro de 1973-26 de abril de 1974) - Parte XIII: Cerca de 95% do total dos médicos e 75% dos professores em serviço no território eram militares...

sábado, 7 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24733: Álbum fotográfico do António Alves da Cruz, ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Buba, 1973/74) (10): A proteção aos trabalhos de construção da nova estrada Buba - Nhala - Aldeia Formosa

 
Foto nº 43


Foto nº 46


Foto nº 47


Foto nº 48


Foto nº 49


Foto nº 45


Foto nº 44

Guiné > Região de Quínara> Buba > 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Bula, 1973/74) > Proteção aos trabalhos de construção da nova estrada Buba - Aldeia Formosa (via Nhala).

Fotos (e legendas): © António Alves da Cruz (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



António Alves da Cruz, foto atual:
lisboeta de Belém, vive em Almada (onde trabalhou na Lisnave)



1. Continuação da publicação de uma seleção de fotos do álbum do António Alves da Cruz (ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 45113/72, Buba, 1973/74), que tem 17 referências n0 nosso blogue. O descritor Buba tem 380 referências.

São imagens, que falam por si,  do "suplício de Sísifo" que era a proteção quotidiana dos trabalhos de construção da estrada Bula - Nhala - Aldeia Formosa (presumimos que a empresa adjucatária fosse a TECNIL, responsável por outros troços como Xime-Bambadinca ou Piche-Buruntuma).

Legendagem:

F43 > Regresso a Buba

F44 > Por vezes no final da coluna eram enviadas duas viaturas para dar uma merecida boleia de regresso a Buba.

F45  > Proteção à Engenharia ( com o meu amigo Dinis ) na construção da estrada Buba - Aldeia Formosa.

F46, 47, 48 e 49 >  Máquinas da Engenharia na construção da estrada.
___________

segunda-feira, 2 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24718: Blogues da nossa blogosfera (184): Histórias da vida real, de Fernando Magro (1936-2023): cenas pícaras da vida de um topógrafo

1. O nosso camarada Fernando Valente (Magro) (1936-2023), que nos deixou recentemente aos 87 anos,  tinha um blogue, "Portugal e o Passsado", onde publicou, entre 2011 e 2014, duas dezenas de pequenos textos sobre alguns temas da História de Portugal, que lhe eram caros, e de que já transcrevemos um, sobre a Maria da Fonte (*).

Outro dos seus blogues tinha por título "Histórias da vida real", publicado em 2016. Tem 21 postes ou postagens. Deste blogue, tomamos a liberdade de publicar um apontamento, bem humorado, retirado das sua experència profissional como topógrafo.

Recorde-se que o nosso saudoso camarada Fernando de Pinho Valente Magro (ex-cap mil art, BENG 447, Bissau, 1970/72), era engenheiro técnico de formação. Deixou-nos, em livro (e aqui publicadas no blogue) as suas "Memórias da Guiné" (Lisboa, Edições Polvo, 2005, 86 pp.). 

Era o nosso tabanqueiro nº 622, tendo ingressado na Tabanca Grande em 5/7/2013, pela mão do mano, mais novo, Abílio Magro (ex-fur mil amanuense, CSJD/QG/CTIG, 1973/74),

"A gesta de seis irmãos Magro que cumpriram Serviço Militar em África (Angola, Guiné e Moçambique)", também pode ser aqui recordada no blogue, criado pelo Abílio Magro, .Os Magros do capim.




2. Blogues da Nossa Blogosfera > "Histórias da vida real",> quarta-feira, 13 de julho de 2016 > Os trabalhos de topografia

Na minha vida profissional procedi a diversos levantamentos topográficos quer para a execução de projectos de vias rodoviárias e de abastecimentos de água a populações quer para a implantação de edifícios.

Utilizava nesses trabalhos um taqueómetro, aparelho destinado à obtenção e registo dos elementos necessários ao cálculo de distâncias e de desníveis e ao desenho dos levantamentos topográficos (plantas, perfis longitudinais e transversais).

O referido aparelho é munido de uma luneta que permite ver à distância como um binóculo. No decorrer desses meus trabalhos de campo algumas vezes me deparei com situações curiosas.

Certa vez em Bissau, na Guiné, prestando serviço para a Empresa Tecnil, tive de proceder ao levantamento topográfico de uma apreciável área de terreno, tendo em vista a implantação no local das novas instalações da referida empresa.

No fim da tarde, com o trabalho terminado, tive a ideia de fazer algumas miradas sobre os arredores do lugar algo ermo e pouco frequentado onde me encontrava. E aconteceu-me a certa altura deparar com um longínquo grupo de jovens mulheres negras e mulatas completamente nuas tomando banho num riacho. Fiquei surpreendido com tal aparição e por alguns momentos não deixei de gozar o espectáculo que elas proporcionavam.

Pude perceber que se tratava de um grupo de lavadeiras de roupa que, depois de executarem o seu trabalho, se banhavam no riacho, todas nuas, para se refrescarem possivelmente pelos seus corpos estarem transpirados devido ao trabalho que haviam efectuado ao calor inclemente da Guiné.

De outra vez estava eu a executar o projecto de uma estrada municipal entre Lamego e Resende, na região do Douro, acompanhado de um topógrafo quando tive outra divertida surpresa.

Depois de ter implantado no terreno diversas bandeirolas definindo a directriz de parte da referida estrada regressei à estação onde operava o referido topógrafo.
Encontrei-o sozinho a rir-se, soltando sonoras gargalhadas. Pensando que o meu colaborador tinha "pirado" perguntei-lhe o que se passava com ele.

- Venha, venha ver ! - foi a sua reposta.

Aproximei-me do taqueómetro, olhei pela luneta e o que vejo: uma jovem rapariga, lá longe com as mamas de fora do corpete, quando tentava atravessar uma corrente de água. A travessia dessa corrente fazia-se caminhando por uma espécie de barragem constituída por calhaus rolados.

A rapariga desequilibrava-se ao caminhar por cima dos calhaus e como era dotada de seios volumosos os mesmo com a ginástica que tinha de fazer para se aguentar de pé na passagem da levada, libertavam-se do "soutien" e saiam cá para fora. Por mais que ela tentasse acomodá-los no interior da roupa nada conseguia pois, desequilibrando-se, eles voltavam a aparecer à luz do dia.

Também me ri com a situação. Depois passei o taqueómetro ao meu companheiro que continuou a seguir a rapariga por alguns minutos e a rir-se como um desalmado.

_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 21 de setembro de  2023 > Guiné 61/74 - P24681: Blogues da nossa blogosfera (183): "Portugal e o passado", de Fernando Magro (1936-2023): a "revolta da Maria da Fonte" (1846)

quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24678: In Memoriam (486): Fernando de Pinho Valente Magro (10/05/1936 - 18/09/2023), ex-Cap Mil Art do BENG 447 (Bissau, 1970/72) (Abílio Magro)

IN MEMORIAM

Fernando de Pinho Valente Magro (10/05/1936 - 18/09/2023)
Ex-Cap Mil Art (BENG 447 - 1970/72)


Conforme a notícia veiculada pelo seu mano Abílio Magro, faleceu no passado dia 18, no Hospital Eduardo Santos Silva de Vila Nova de Gaia, o nosso camarada Fernando de Pinho Valente Magro, ex-Cap Mil Art, que entre 1970 e 1972 cumpriu a sua comissão de servço no CTIG ao serviço do BENG 447.

Foi sepultado hoje pelas 10h00 da manhã no jazigo de família, no cemitério de Gulpilhares, onde repousa já a sua esposa, a senhora D. Maria Helena, companheira de toda a vida, até em Bissau.

A tertúlia do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, associando-se à dor da família deste nosso amigo e camarada, apresenta, especialmente ao seu filho Fernando Manuel e aos manos Magro, as mais sentidas condolências. 


********************

O Cap Mil Art Fernando Valente Magro foi apresentado à tertúlia pelo seu irmão Abílio, em 5 de Julho de 2013 - (Vd. P11806), e que assumiu a tarefa de nos enviar, para publicação no Blogue, o livro "Memórias da Guiné", que Fernando Magro escreveu a propósito da sua comissão de serviço.

Neste livro podemos encontar narrativas de ordem pessoal e profissional, usos e costumes do povo guineense assim como os acontecimentos mais importantes, contemporâneos da permanência do autor na Guiné enquanto oficial do BENG e professor na Escola Comercial e Industrial de Bissau. 


Quem não tiver o livro "Memórias da Guiné", que se lêem com agrado, podem aceder a este marcador "Memórias da Guiné".

Por último, lembra-se que o Cap Mil Fernando Magro foi um dos 6 manos Magro que estiveram na Guerra do Ultramar, e um dos 3 que fizeram a sua comissão de serviço na Guiné.

Honremos a sua memória
____________

Nota do editor

Último poste da série de 15 DE SETEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24658: In Memoriam (485): Fernando da Silva Costa (1951-2018), ex-fur mil trms da CCS/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa 1973/74)... Faleceu em 2018

sábado, 22 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24240: Convívios (955): 38º Encontro Nacional dos Ex-Oficiais, Sargentos e Praças, BENG 447, Brá, Guiné: Caldas da Rainha, 20/5/2023... E ainda: almoço-convívio dos Antigos Aunos do Externato Ramalho Ortigão (ERO), também nas Caldas da Rainha, a 6/5/2023 (João Rodrigues Lobo)


Anúncio do 38.º Encontro Nacional dos Ex-Oficiais, Sargentos e Praças, BENG 447, Brá, Guiné, a realizar nas Caldas da Rainha, no restaurante O Cortiço, em 20 de maio de 2023.



Fonte: Página do Facebook dos Antigos Alunos do Externato Ramalho Ortigão



1, Mensagem do nosso camarada João Rodrigues Lobo, ex-alf mil, cmdt do Pelotão de Transportes Especiais, BENG 447 (Brá, 1968/71):


Data - quinta, 30/03/2023, 10:52Assunto . Almoços de confraternizaçáo

Bom dia,

Primeiro com um grande abraço de solidariedade pelo momento que passas, e esperando também que as maleitas fisicas já estejam ultrapassadas.

Depois solicitando , se possível, a publicação no blog deste dois convites que as organizações me enviaram.

O da Guiné (pessoal do BENG 447) é óbvio, é pena eu não poder ir, mas nesse dia estou longe.(Contactos do BENG 447 : Lima Ferreira 919977304 - F. Araújo 963154718.

O dos Antigos Alunos do Externato Ramalho Ortigão (ERO), das Caldas da Rainha é no pressuposto que de tantos alunos que este teve ao longo da sua existência, e pelas datas, é altamente provável que alguns tenham passado pela Guiné e leiam o "nosso" blog. A este vou pois ainda cá estou.

Realiza-se a 6 de maio de 2023, nas Caldas da Rainha, no restaurante a Lareira. Facebook do grupo (público): (20+) ANTIGOS ALUNOS DO EXTERNATO RAMALHO ORTIGÃO | Facebook

Contactos do ERO: João Jales 962638683 - João Santos 968573660 - Audiomanias 262823380)
___________

Nota do editor:

Último poste da série > 10 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24213: Convívios (954): 51.º Almoço/Convívio do pessoal da CCAÇ 414, a levar a efeito no próximo dia 30 de Abril de 2023 em Arcozelo, Vila Nova de Gaia (Manuel Barros Castro, ex-Fur Mil Enfermeiro)

segunda-feira, 17 de abril de 2023

Guiné 61/74 - P24229: Notas de leitura (1573): "Seis Irmãos em África", segunda edição; Porto, 2017; edição de autor, mas os autores são seis: Fernando, Rogério, Dálio, Carlos, Álvaro, Abílio, quem compilou os textos foi o Abílio, trata-se dos manos Magro que percorreram diferentes paragens africanas (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Abril de 2023:

Queridos amigos,
Fernando Magro é um reincidente, no blogue já falei das Memórias da Guiné, ele depois apareceu e mais contou. O que nós não sabíamos é que ele era o mais velho de 6 irmãos que andaram por Angola, Guiné e Moçambique, estiveram 5 deles em simultâneo nas fileiras, entenderam-se para organizar as suas memórias, aqui temos "Seis Irmãos em África". Hoje falamos dos dois mais palradores, Fernando e Rogério, terá sido este o que mais pensou (é esta a opinião de todos os outros), mais adiante falaremos do Dálio, do Carlos, do Álvaro e do Abílio, terão constituído uma família muito unida, lembram no relato deste memorial a mãe Adelina, a 2.ª comandante, é um texto muito bonito: "Os tempos eram difíceis, as bocas eram muitas, os mancebos eram 'levados da breca', mas a 2.ª comandante nunca fraquejava e demonstrava possuir a força mental que um verdadeiro militar deve possuir em situações adversas e era um exemplo vivo para os mancebos em fim de formação. Descansa em paz, mãe. Regressámos todos sãos e salvos."

Um abraço do
Mário



Os seis manos Magro, façanha única, foram todos à guerra (1)

Mário Beja Santos

A obra intitula-se "Seis Irmãos em África", segunda edição, Porto, 2017, edição de autor, mas os autores são seis: Fernando, Rogério, Dálio, Carlos, Álvaro, Abílio, quem compilou os textos foi o Abílio, trata-se dos manos Magro que percorreram diferentes paragens africanas. Nasceram entre 1936 e 1951, a casa paterna, repleta de juventude, ficou num espaço de dois ou três anos, vazia. “Em 1971, estavam quatro dos seis irmãos a cumprir serviço militar em África, e em 1972, quando o irmão mais novo foi incorporado no Exército, estavam ainda esses quatro irmãos em pleno nas Forças Armadas: Fernando e Álvaro na Guiné, Carlos em Angola, e Dálio no Hospital Militar de Doenças Infectocontagiosas, em Lisboa, evacuado de Moçambique.” Será provavelmente um caso único em Portugal.

O Rogério foi o primeiro a partir, mobilizado para a Angola em 1967 e regressado em 1969, passou à disponibilidade antes de qualquer outro irmão ter sido mobilizado. O Fernando (de nós bem conhecido, com histórico detalhado no blogue), o mais velho, depois de ter cumprido o serviço militar obrigatório entre 1958 e 1960, voltou a ser incorporado em 1969, permaneceu na Guiné de 1970 a 1972.
Dálio, que andava a estudar, foi pedindo adiamento, acabou incorporado em 1969, mobilizado para Moçambique, também de 1970 a 1972, só passou à disponibilidade em janeiro de 1974, este a tratar-se no Hospital Militar de Doenças Infectocontagiosas.
Carlos optou por se oferecer como voluntário para a Força Aérea e foi incorporado também em 1969, seguiu para a Angola, ali permaneceu de 1970 a 1972, e só passou à disponibilidade em 1974, já que o tempo mínimo de prestação de serviço na FAP era de seis anos.
Álvaro, com menos de dois anos de idade do que o Carlos, foi incorporado em 1970 e mobilizado para a Guiné de 1971 a 1974, foi contemporâneo do irmão Fernando.
Abílio, com menos de um ano e meio do que o Álvaro, foi incorporado em 1972 e mobilizado para a Guiné em 1973, onde conviveu com o irmão Álvaro e só regressou em setembro de 1974.
Assim se explica a permanência e simultâneo de cinco irmãos nas Forças Armadas portuguesas.

Os manos Magro decidiram agora fazer a compilação do acervo das suas memórias, como escrevem, “relatos simples, sem bazófias ou falsos heroísmos, de episódios vividos no dia a dia nos três teatros de guerra; na maioria dos casos, só viveram raras situações de perigo.”

Começa-se pelo mano Fernando, bem conhecido no blogue. Andava em vilegiatura nas termas de Monte Real, e conversando com um antigo companheiro da Escola Prática de Vendas Novas, curso de 1958, descobriu que em breve iria ser incorporado, fez curso em Mafra, em 1969 e no processo da mobilização foram revelados graves problemas de saúde, resolve escrever ao General Spínola, põe-se à disposição, como técnico de engenharia, para cooperar de acordo com os seus conhecimentos. Foi colocado nos serviços de reordenamentos populacionais e mais adiante no Batalhão de Engenharia n.º 447, deixa-nos um conjunto de apontamentos onde sobressaem a famosa reunião de abril de 1970 em que o general Spínola convocou para uma reunião na grande sala do Palácio muitos oficiais e anunciou que se entrara numa fase de negociações, ficariam doravante excluídas atitudes ofensivas, dias depois desmoronou-se tal expetativa, foi o massacre de oficiais em Jolmete, em 20 de abril de 1970. Fala-nos do seu quotidiano familiar, dos problemas suscitados pelos reordenamentos populacionais, o trabalho desenvolvido no Batalhão de Engenharia, as aulas que deu na Escola Comercial e Industrial de Bissau, os acontecimentos inerentes à operação Mar Verde, o relato feito pelo tenente Januário nessa operação se entregou com o seu pelotão às autoridades da Guiné-Conacri, a sua recordação das amostras de 1971 e até de uma emboscada a uma coluna militar do BENG 447 em 22 de março de 1974, entre Piche e Nova Lamego.

Temos agora o mano Rogério, furriel de Infantaria, Angola, percorreu Lucusse, Gago Coutinho e Dundo, CCAÇ 1719/BCCAÇ 1920. Os manos Magro admitem que terá sido o Rogério o que terá tido o percurso militar mais duro, o que enfrentou maiores perigos, preparou-se nas Caldas da Rainha e em Tavira. Participou em várias operações na zona militar leste, louvado pelo seu comportamento numa emboscada e pelas suas qualidades militares evidenciadas durante cerca de 2 anos. Fala-nos de 48 dias em Lumbala, a comer rações de combate, não esquece os desarranjos intestinais, as lavagens das fardas no rio Zambeze, um episódio pícaro na compra de frangos, a emboscada na picada de Gago Coutinho para Ninda, paira sempre na narrativa a questão da comida, não esquece no início de 1969, na capital da Diamang uma estadia para descomprimir e repousar, é aqui que se viu no papel de mestre de obras, havia que construir uma escola, conta-nos todo o episódio. Segue-se a peripécia da ordem de prisão a um piquete, cumpriu o castigo na caserna, e conclui, pícaro: “Quinze militares foram presos por não existirem meios que possibilitassem a execução do serviço de que estavam incumbidos; os mesmos quinze militares foram soltos no segundo dia de prisão a fim de participarem numa operação.” São as tais coisas absurdas que só podem acontecer numa atmosfera de guerra.

O mano Rogério é decididamente aquele que mais penou, como descreverá na operação Lumai, depois como a morte lhe passou perto, descreve a coluna para Caripande, depois a coluna que foi buscar o T-6 a Mussuma e os seus aspetos insólitos, o destacamento para Sessa, a missão acabou por se revelar um descanso, e depois partiram com destino ao Dundu, ali a sua companhia ficou até ao fim da comissão. Deixa-nos um retrato humaníssimo do seu comandante de companhia, o capitão Azuil Dias de Carvalho. “Percorremos quase todo o Leste de Angola em operações militares; estivemos no Cazombo, no Lumbala, etc. efetuando operações com os fuzileiros, paraquedistas e comandos. O capitão Azuil foi sempre um acérrimo defensor dos homens que comandava.” Ferido em combate, no helicóptero que o transportou para o Luso terá proferido as seguintes palavras ao comandante de Batalhão: “Meu comandante, espero que os meus homens não sejam prejudicados na transferência que se vai efetuar pelo motivo de me encontrar ferido e ausente.”

E findo este tocante In memorium, vamos agora falar de Dálio Magro, alferes-miliciano de Engenharia, Companhia de Engenharia 2686, Marrupa, Moçambique, 1970-1972.


(continua)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 14 DE ABRIL DE 2023 > Guiné 61/74 - P24222: Notas de leitura (1572): "As Voltas do Passado, A Guerra Colonial e as suas Lutas de Libertação", com organização de Miguel Cardina e Bruno Sena Martins, com vasto número de colaboradores; Tinta-da-China, 2018 (Mário Beja Santos)

quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Guiné 61/74 - P23654: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (97): os geradores militares: contributos para a história da eletricidade no território (Manfred Stoppok / José Nunes / Eduardo Estrela / Fernando Gouveia / António J. Pereira da Costa / Carlos Silva / Cherno Baldé / José Colaço / Magalhães Ribeiro / Valdemar Queiroz / Manuel Gonçalves / Luís Graça)


Guiné > Região do Oio > Porto Gole > Março / Abril de 1968 > CART 1661 > Trabalhos de electrificação do aquartelamento a cargo de uma equipa do BENG 447, onde se integra o José Nunes, autor desta imagem... (José Silvério Correia Nunes, ex-1º Cabo Mecânico de Eletricidade,  BENG 447m Brá, 1968/70: esteve na Central Elétrica do Quartel General, em Bissau).

Foto (e legenda): José Nunes (2009).  Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Comentários ao poste P23647 (*): 

(i) Manfred Stoppok, antropólogo social,  Universidade de Bayreuth, Alemanha

Muito obrigado pelos vossos valiosos comentários! Posso partilhar aqui algumas informações sobre a evolução do sistema de eletricidade na Guiné:

Distribuição e iluminação publica em Bolama e Bissau a partir de 1930; em Bafatá a partir de 1933. Nos anos 1920 já tinha iluminação de alguns prédios em Bubaque, e provavelmente também em Bolama, mas não foi uma distribuição publica.

Em outros lugares somente depois da segunda guerra mundial, respetivamente a partir de 1947 foram instalados geradores em vários sítios (cerca 20 lugares).

O fornecimento de energia elétrica 24/7 somente realizou se em Bissau. Existiam planos para criar uma rede de distribuição em alta tensão mesmo para o interior – mas não foram realizados. A administração optou pelo sistema de pequenos geradores em todos lugares, porque no curto prazo foi o mais viável, o mais barato, o mais rápido. Mesmo que, já naquele tempo, se subesse que um sistema assim iria criar muitas problemas na manutenção e  ser muito fraco ao longo prazo.

Deve ser por isso que os militares instalaram a maior número de geradores no país na sequência da guerra.

A fonte sobre os geradores no país é um relatório do engenheiro José Correia da Cunha Barros,  de 1969. Em anexo ao relatório há uma tabela que lista 73 lugares, dos quais 59 têm gerador. E daqueles, a maioria eram propriedade do exército. Naquele tabela constam de mesmo os nomes e números dos geradores – tudo bem detalhada.

Barros, José Correia da Cunha (16.07.1969): Problemas eléctricos na Província de Guiné - Visita efectuada de 18 a 30 de Junho de 1969. Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), PT/IPAD/MU/DGOPC/DSE/1579/00782.

Bem, foi este fonte que me avisou, que os militares têm um certo papel na história da eletricidade na Guiné. E parece que este papel foi maior de que somente iluminar os próprios aquartelamentos.

Sie alguém está interessado nos detalhes dos geradores,  posso partilhar o relatório com a tabela numa versão digital. Parece que esta lista não é completa. Como eu li nos comentários havia mais aquartelamentos, e todos tinham um gerador.

Em geral, o engenheiro Cunha Barros descreve o sistema dos geradores como um sistema muito degradado já no final dos anos 1960. Falta de peças, faltas de manutenção, diferentes marcas, mal instalados, sistemas avariados há muito tempo e ele não entende porquê. Ele deu algumas ideias para melhorar o sistema (entre outras, unificar os geradores, ter somente uma marca, e somente três, quatro diferentes potências), mas aparentemente não se realizou antes da independência.

Depois, aquele sistema de geradores caiu totalmente. Por outro lado, o sistema é persistente. Ate hoje, a distribuição elétrica na Guiné funciona a partir de pequenos grupos de geradores, são frequentemente adquiridos novo grupos, instalados, abandonados, degradados, um circulo vicioso. Mas é desta maneira que o sistema de eletricidade funciona principalmente até hoje. O fundo do poço foi em 2008, quando mesmo a cidade de Bissau raramente tinha luz – isso melhorou bastante desde 2014/15.

Por isso o meu projeto fala de um período de eletrificação (até os anos 1980): eletrificação (anos 1980 – até 2008) e re-eletrificação (a partir de 2008),  na Guiné-Bissau.

Neste sentido, quero comprender melhor qual foi o impacto da electricidade fornecida pelas forças armadas.


(ii) Eduardo Estrela:

Os geradores que operavam no interior do quartel de Bolama, alimentavam os candeeiros de iluminação pública da cidade.

(iii) Fernando Gouveia: 

Tanto quanto me lembro, em Bafatá acontecia um caso curioso. Ali, em 1968/70, o quartel, pelo menos o do Comando de Agrupamento nº 2987 e o do Esquadrão de Cavalaria ao lado, recebiam a energia elétrica pública da Administração a troco do combustíbel para os geradores.

(iv) António J. Pereira da Costa:

Nos quartéis onde estive, quem trabalhava com o gerador era um soldado que tinha jeito e tinha aprendido a reabastecer, mudar o óleo e vigiar os manómetros... Era como se fosse uma viatura. Recordo-me que em Cameconde, os dois condutores "residentes" eram os responsáveis pelo motor.

(v) Carlos Silva:

No meu Sector O2 - Farim que compreendia, além de Farim, o subsector de Jumbembem onde estive 18 meses, o aquartelamento era dotado de um gerador que apenas funcionava durante a noite e a população que até meados de Setembro também beneficiava da iluminação porque estava enquadrada dentro do aquartelamento. Com o reordenamento a partir de meados de 1970 a população ficou fora do arame farpado e, como tal, deixou de beneficiar de iluminação, excepto as tabancas que estavam próximas do arame farpado.

Creio que esta situação também se verificava nos aquartelamentos de Canjambari e Cuntima. Estive no mês de Novembro de 1969 no K3/Saliquinhedim, e o abastecimento/funcionamento eléctrico era igual.
Os frigoríficos eram alimentados a petróleo.

Quanto à vila da Farim onde estive 4 meses até Dezembro 1969, os edifícios militares dispersos, e os arruamentos tinham iluminação pública abastecida por uma central eléctrica que lá existia / existe junto às piscinas. Actualmente creio que não funciona, mas existe iluminação com a implantação de postes solares.

Os comerciantes, alguns, tinham geradores.

Mas para mim, presumo que a electrificação ou fornecimento de energia nos aquartelamentos em toda a Guiné, era semelhante com recurso aos geradores excepto nos grandes aglomerados, como Farim, Mansoa, Teixeira Pinto, Bafatá, Nova Lamego, Cacheu etc, etc

Portanto para mim, esta era a característica geral da Guiné no que se refere à energia.

(vi) Cherrno Baldé:

No quartel de Fajonquito (sede da companhia) situado ao lado da aldeia, havia um pequeno e barulhento gerador a diesel que servia para iluminar dentro e à volta do aquartelamento que, se a memória não me falha, chegou em meados de 1968/69, antes utilizavam-se candeeiros vácuos em alguns sítios (para iluminar a zona do refeitório e a messe de oficiais e sargentos, entre outros). Havia um militar encarregue especialmente dos seus cuidados de manutenção.

Após a independância, ainda funcionou durante alguns meses (penso que enquanto durou a reserva de combustível deixado pela tropa portuguesa), mas com a decisão de acabar com o aquartelamento e centralizar tudo na sede do Sector (Contuboel), destruiram as instalações que eram antigas casas comerciais e levaram consigo o gerador. Ninguém deu satisfação à populaçao local, também não fazia muita falta, porque nunca tinham beneficiado dos seus serviços, salvo a criançada que procurava as zonas iluminadas para brincadeiras nocturnas.

De qualquer modo a nossa aldeia ficou mais escura e triste com a partida da tropa e, mais tarde, da confiscação do gerador. Sou de opinião que a tropa metropolitana concentrada mais nas manobras da sua retirada e regresso a casa, nao teria qualquer interesse em retirar os geradores nos aquartelamentos que já tinha entregue, de forma pacifica e amistosa, aos guerrilheiros.

(vii) Tabanca Grande Luís Graça:

Obrigado, Cherno, mais uma vez, pela partilha das tuas memórias de menino e moço em Fajonquito. Também me parece que, com a retirada das NT, ao longo de julho/agosto/setembro de 1974, o essencial do equipamento (geradores, incluidos...), tirando o armamento, ficou lá nos quartéis do mato, e naturalmente em Bissau... Era um gesto de paz e amizade, depois dos acordos de Argel...

De resto, o custo de transporte para a metrópole era elevado, para não dizer proibitivo...nem havia meios de transporte suficientes... Para os guinenenes, o grande desafio era depois a manutenção... E aí foi um desastre, o PAIGC foi um "bluff", não tinha quadros para desempenhar tarefas, aparentemente tão simples como a manutenção e reparação da "rede elétrica" deixada no mato... Confiaram nos amigos russos, suecos, cubanos e outros... Em Bissau, não sei como foi, mas pelo que vi, "in loco", em 2008, era uma dor de alma aquela cidade... Não consegui sequer entrar nos meus antigos aposentos, em Bambadinca, tive vontade de chorar...

(viii) José Botelho Colaço

Luís,  nem dá para comentar,  é do conhecimento geral o PAIGC só foi rico em propaganda antes da independência, porque após independência não preservou nada, foi a  degradação total tanto de móveis como de imóveis. Enquanto durou e funcionou OLm  a seguir sucata ou ruinas. Veja-se a linda cidade colonial de Bolama como eu a conheci, hoje um abandano total de ruínas, mas é que não foi só Bolama foi a totalidade de quase tudo para não dizer tudo, o que os tugas lá deixaram. É desolador.

(ix) Eduardo Magalhães Ribeiro:

Em Mansoa, em 9 de Setembro de 1974, naquela que era a central eléctrica, localizada entre o quartel e a cidade, ficaram perfeitamente funcionáveis 2 geradores movidos a diesel, não me lembro se eram de 0.8 ou 1,1 MW. Dias antes e uns dias após, foi explicado e estiveram em estágio conjunto de formação aos futuros donos da central vários elementos da tropa portuguesa e do P.A.I.G.C.

A CCS do BCAÇ 4612/74 e toda a tropa ainda estacionada em Mansoa abandonaram o quartel no dia acima indicado. A CCS a que eu pertencia,  foi deslocada para o Batalhão de Engenharia 447 em Brá.
Três dias depois estava eu de sargento de dia, junto à porta de armas, quando surgiu um jipe com 4 PAIGC a pedirem para falar com o nosso comandante. Perguntei qual o assunto que pretendiam os trazia ali. Resposta de um deles: "Os geradores deixaram de trabalhar."

Liguei então, via telefone, ao coronel Américo Varino a narrar a informação recebida. Passado um tempo vem o nosso furriel mecânico com 2 soldados num jipe dos nossos que seguiu atrás dos PAIGC.

Horas mais tarde surge o nosso jipe. Perguntei ao furriel: "Então, pá, o que se passou?"... Resposta: "Aqueles nabos trocaram tudo. Meteram diesel no depósito do óleo, água no sítio do óleo e óleo no depósito do diesel. Está todo partido por dentro e sem reparação possível."

PS - Ainda me segredou que os PAIGC  murmuraram que foram os nossos homens que sabotaram os ditos geradores. Coisa que eu nem vou comentar aqui, para não meter nojo, claro.

(x) Valdemar Queiroz:

Julgo que em Nova Lamego o gerador produzia electricidade para os civis e para a tropa, e penso que a manutenção e a segurança eram feitas por gente da administração e sipaios. Digo isto por, nunca a minha CART 11 ter feito segurança ao gerador, mas montava emboscados e rondas nocturnas como o pessoal do Batalhão.

Quando Nova Lamego foi atacada por foguetões122 mm,  os nosso soldados foram fazer a segurança ao gerador, o meu pelotão não foi e não me lembro se estava assim pré-definido ou se foi alguma ordem ocasional. Mas os frigoríficos da companhia trabalhavam a petróleo.

Não vem a propósito mas pode interessar, o sistema de iluminação que estava montado na fiada interior do arame farpado em volta de Giro Iero Bocari era o cúmulo do desenrasca das invenções. Guiro Iro Bari era um destacamento de Paúnca com dois pelotões junto da população, apenas com umas tendas, valas e duas fiadas de arame farpado em todo o perímetro.

Uma lata vazia, das grandes, de doce/feijão aberta ficando a tampa presa por forma a ser dobrada para se aproveitar ao máximo, como uma pala virada para o céu. Dentro da lata uma garrafa de cerveja com petróleo tapada com uma carica furada e uma torcida. Á noite acendia-se a torcida e a luz refletida na tampa da lata dava um bom candeeiro que só dava luz para a frente.

(xi) Manuel Gonçalves:

O nosso amigo e camarada, transmontano de Bragança, Manuel Gonçalves, ex-Alf Mil Manutenção da CCS/BCAÇ 3852 (Aldeia Formosa, 1971/73) (e que estudou nos Pupilos do Exército), disse-me ao telemóvel o seguinte sobre os geradores:

(i) havia dois em Aldeia Formosa, no seu tempo;

(ii) a responsabilidade pela sua gestão era do pelotão de manutenção da CCS/BCAÇ 3852, de que ele era o responsável, enquanto alferes miliciano;

(iii) em caso de avaria, é que se chamava o BENG 447 (que estava em Brá, Bissau);

(iv) funcionavam os dois, alternadamente, até à 1h00 da noite, depois eram desligados;

(iv) forneciam luz para o quartel e parte da tabanca;

(v) não tinham potência para iluminar a tabanca toda;

(vi) ele chegou a sugerir a eletrificação da pista de aviação (onde aterravam todas as aeronaves, exceto o FIAT G-91); mas nunca se concretizaou: em caso de emergência, à noite, usavam-se garrafas a petróleo para balizar a pista (!)...

(vii) ficou de nos dar mais informação técnica sobre os geradores de Aldeia Formosa (hoje Quebo).