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quinta-feira, 25 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25442: No 25 de abril eu estava em... (33): No regresso de uma operação no mato, já no dia 26, com a malta (que tinha ficado no aquartelamento) a gritar, eufórica, no heliporto, à nossa espera: "Meu furriel, a guerra acabou, a guerra acabou"... A notícia tinha sido escutada na BBC por um dos um militares, rádio-amador na vida civil (José Manuel Lopes, ex-fur mil, CART 6250/72, Mampatá, 1972/74)




Guiné > Região de Quínara > Buba > Julho de 1974 > A LDG carregada com o material da companhia, a CART 6250/72 (Mampatá, 1972/74), a sair do cais de Buba, a caminho de Bissau, depois de terminada a comissão.


Guiné > Região de Tombali > Mampatá > CART 6250 (1972/74) > Em quase todos os aquartelamentos do CTIG, houve a seguir ao 25 de Abril de 1974, entre maio e junho, tentativas mais ou menos bem sucedidas de aproximação do PAIGC às NT, com vista ao cessar-fogo, ao fim da guerra e à reconciliação (e vice-versa, das NT em relação ao PAIGC). Nesta foto, vemos o ex-fur mil José Manuel Lopes (o poeta Josema) com um guerrilheiro do PAIGC.  Mais difícil foi, de facto,  a aproximação entre o PAIGC e os militares e mlícias guineenses que estavam do lado das NT, como foi o caso dos Comandos Africanos.

Fotos (e legendas): © José Manuel Lopes (2008). Todo os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


 1. O José Manuel Lopes, o Josema (pseudónimo literário), o Zé Manel da Régua (terra da sua naturalidade), vitivinicultor (Quinta Senhora da Graça),  foi Fur Mil Inf Armas Pesadas.

É  uma figura, muito querida e popular, da nossa Tabanca Grande.

Soube do 25 de Abril, já no dia seguinte, quando vinha de uma operação no mato e viu um grupo  de camaradas da CART 6250/72,  à sua espera, no heliporto de Mampatá, agitadíssimos, muito eufóricos, a gritar "Meu furriel, a guerra acabou, a guerra acabou!" (*).

Como noutros lados, pela Guiné fora, a notícia tinha sido escutada na BBC, por um dos um militares, que na vida civil era rádio-amador.

2. Recorde-se que a sua  unidade esteve entre 1972 e 1974, sempre em Mampatá, subsector de Mampatá,  sector S2 (Aldeia Formosa).

A tropa vivia misturado com a população (maioritariamente, futa-fula, razão talvez por que nunca foram atacados). Não tinham artilharia, só mais tarde é que passaram a ter obus 14, que dava apoio às operações de segurança de construção da estrada Aldeia Fomorsa (Quebo)-Mampatá-Salancaur. Também aqui, em Salancaur, abriram um destacamento (arame farpado, valas e tendas).

O essencial da missão da companhia era fazer segurança aos trabalhos da nova estrada Aldeia Fomorsa (Quebo) - Mampatá - Salancaur, que ficou asfaltada antes do 25 de Abril... Tratava-se de uma obra que ia ao encontro da estratégia do Spínola, a da contra-penetração nas regiões libertadas do PAIGC. A obra parou com o 25 de Abril: o novo troço deveria ter uns 30 quilómetros.

Segundo a história que nos contou ao entrar para a Tabanca Grande (em 27 de fevereiro de 2008) (**)  , tinha sido inesperadamente mobilizado para a Guiné, já com 18 meses de tropa... Trabalhava numa empresa inglesa de vinhos (se não ero). Juntou se à malta da CART 6250, que era constituída por gente do interior/72 (do Alentejo, das Beiras, do norte)... A unidade mobilizadora foi o regimento de Vila Nova de Gaia.

Após realização da IAO, de 30jun72 a 26jul72, no CIM, em Bolama, seguiu em 29jul72 para Mampatá, a fim de efectuar o treino operacional e  a sobreposição com a CCaç 3326.  Em   Buba tiveram logo o baptismo de fogo.

Em 24ago72, assumiu a responsabilidade do referido subsector de Mampatá, ficando integrada no dipositivo e manobra do BCaç 3852 e depois do BCaç 4513/72, sendo orientada, inicialmente, para a segurança e protecção dos trabalhos da estrada Marnpatá-Buba e depois para a contrapenetração no corredor de Missirã, em conjugação com outras subunidades do sector. 

Em 10fev73, a CART 6250/72  destacou dois pelotões para Colibuia, no mesmo subsector, para construção do aquartelamento respectivo e execução dos trabalhos de reordenamento das populações.

Em 6set73, após substituição pela 2ª Comp/BCaç 4516/73, os pelotões recolheram à sede da subunidade, voltando, em 9nov73, a destacar um pelotão para Colibuia, a fim de integrar um destacamento, em conjunto com outro pelotão de outra subunidade, o qual substituíu a 3ª Comp/BCaç 4516/73, ali colocada do antecedente.

Em 22 e 23lu174, após ter sido substituída no subsector de Mampatá por forças do BCaç 4513/72, recolheu a Ilondé, a fim de aguardar o embarque de regresso.

 
3. Ele e a companhia dele seguiram os acontecimentos de Guileje em maio de 1973, e saíram de Mampatá para fazer segurança à CCAV 8530, restantes forças e população civil, que andaram perdidos, nesse perigoso campo de minas, que era todo o corredor de Guileje, montadas umas pelo PAIGC e outras pelas NT. 

Aliás, a sua CART 6250 foi uma das unidades que mais minas levantou, durante a guerra e no final da guerra; recorda-se que se pagava mil escudos por cada mina levantada...

Durante a sua comissão, ele próprio costumava andar com um lápis e um caderninho n0 bolso, onde nomeadamente ia escrevendo os seus poemas... Fez versos  que depois  eram acompanhados com músicas conhecidas da época, de autores contestatários como o Zeca Afonso. Chegou a fazer um poema por dia. A maioria foi destruída, já depois da "peluda"... Salvaram-se umas escassas dezenas, que fomos publicando na série "Poemário do José Manuel" (trinta postes, desde março de 2008: o último em  29 de setembro de 2009)...

Durante anos não falou da guerra colonial com ninguém... Teve conhecimento do nosso blogue, porque viu o programa Câmara Clara, da RTP Dois, a Paula Moura Pinheiro, edição de 24 de Fevereiro de 2004, que foi dedicado à literatura sobre a guerra colonial, e teve dois convidados em estúdio, os escritores Lídia Jorge (autor da Costa dos Murmúrios...) e Carlos Matos Gomes (que assina Carlos Vale Ferraz, o autor de Soldadó, Nó  Gordio, Geração  D).

Nessa edição, o fundador e editor deste blogue foi entrevistado; o nosso blogue foi amplamente divulgado; o programa passava também na RTP África e na RTP Internacional.

Ficou muito sensibilizado e até emocionado, e foi visitar o blogue de que passou a ser visita diária nessa altura...
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domingo, 19 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9506: Blogpoesia (179): Os Unidos de Mampatá: Do Zé Manel Lopes (Josema) para o seu camarigo António Carvalho, hoje com 62 anos

1. O Josema (José Manuel Lopes) não nos leva a mal se a gente pegar num dos versos do seu poemário de Mampatá, já aqui publicados, e dedicá-lo ao António Carvalho, na semana em que as nossas tabancas (a Grande e a Pequena) celebram os seus jovens 62 anos... [Foto do António,à direita]

Nada disto foi combinado: conheci o António Carvalho depois do Zé Manel, ambos pertencentes aos Unidos de Mampatá (a CART 6250, 1972/74).


Tenho pena de não poder estar no almoço da próxima 4ª feira, na Tabanca Pequena de Matosinhos, para cantar em coro os parabéns ao Carvalho de Mampatá, considerado por todos os tabanqueiros de Lisboa, Porto e arredores como "um bom camarada e um melhor amigo".

Talvez ninguém melhor que o Josema [, foto à esquerda,] traduziu,  em versos diários, espontâneos, sinceros e singelos, esse sentimento de "camarigagem" que, de Mampatá a Buruntuma, de Guidage a Guileje, todos experimentámos no TO da Guiné, a par da saudade da nossa terra em tempo de guerra... 

Parabéns aos "unidos de Mampatá" pela sua lição de vida, traduzida hoje numa cultura sã de amizade, camaradagem, convívio e solidariedader que já vem dos tempos duros da Guiné.

  
Calor, cansaço, suor,

saudades de tudo
e de um rio...
mas podia ser pior,
pois há ali o Corubal
com sombras e água boa;
nem tudo é mau afinal,
não é o Douro, eu sei,
nem o Tejo de Lisboa,
são outros os horizontes,
falta o xisto e o granito,
as encostas e os montes,
mas diga-se na verdade
há o Carvalho, há o Rosa,
há um hino à amizade,
há o Gomes e o Vieira,
a sonhar com a Madeira,
há o Farinha e o Polónia,
gestos e solidariedade,
há o Esteves e o Pinheiro,
amigos e sinceridade,
há o Nina e até amor,
também sofrimento e dor,
há o desejo de voltar
e um apelo à liberdade.

Josema
Mampatá, 1974

_________________

Nota do editor:

 Último poste da série > 14 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9482: Blogpoesia (178): No tempo em que eu colhia rosas nas covas do teu rosto... (António Graça de Abreu)

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P9052: Tabanca Grande (306): José Santos, ex-1º Cabo Enf, CCAÇ 3326 (Mampatá e Quinhamel, Jan 71/Jan 73)

Guiné > Região de Tombali > Mampatá (?) > CCAÇ 3326 (1971/73) > Ex-1º Cabo Enf José Santos

Foto: © José Santos (2011). Todos os direitos reservados


1. Mensagem, de 14 do corrente, do novo membro da Tabanca Grande, José Santos, que mora em Algés, Oeiras:

Caro amigo Luís Graça, fui 1.º Cabo Enfermeiro da Companhia de Caçadores 3326, de Janeiro de 1971 a Janeiro de 1973 em Mampatá (Aldeia Formosa) e Quinhamel.

Tenho lido algumas descrições da tabanca, e em uma delas fui encontrar o meu colega Brum, rapaz do meu pelotão e que se encontra no Canadá, e a carta foi escrita pela sua filha.

Caro Luís, tenho dois episódios muito significativos para mim, que me ficarão para sempre na minha memória, e são para serem publicados na tabanca caso entendas ok.

O primeiro aconteceu em Mampatá, certo dia estando de serviço à enfermaria cerca das 3 horas da madrugada, foi solicitada a minha presença numa tabanca a fim de dar assistência a uma africana. Quando cheguei encontrei um panorama tremendo, a mulher deu à luz um casal de gémeos que ainda respiravam, e com o estetoscópio verifiquei seus batimentos cardíacos, mas as crianças acabariam por falecer cerca de uma hora depois. A mulher encontrava-se deitada em cima de uma esteira com todo o aparato inerente a uma gravidez.

A mulher teria 7 meses de gestação, mas abortou derivado a ter levado uma tareia do marido. Cuidei dela aplicando-lhe uma injecção de buscopan para as dores, uns comprimidos,  e ajudei a limpá-la pois ainda continha impurezas.

Dias depois de já se encontrar restabelecida, foi ter comigo à enfermaria levar-me uma galinha de mato pelo reconhecimento da forma como a tratei.

O segundo  episódio passou-se em Quinhamel, também uma rapariga apresentava a canela com um buracão, carne esponjosa, ulceração, com as moscas era horrível, levei cerca de 7 a 8 semanas a tratá-la mas ficaria curada.

A seguir a isto tudo, surgiu na enfermaria com uma galinha de mato e uma dúzia de ovos, pela ajuda prestada.

Estes dois casos deixaram em mim imenso orgulho, tanto pessoal como profissional na área da saúde e não só, aliás fui durante 40 anos técnico de farmácia, e um dos meus patrões era enfermeiro diplomado da Cruz Vermelha como seu filho e nora, e aprendi muito com estas pessoas.

Estando em Mampatá fui sempre eu que acompanhava os doentes ao Hospital de Bissau, o capitão não confiava essa missão ao furriel, e assim viajei muito entre a Aldeia Formosa e Bissau.

Amigo Luís Graça,  já nos conhecemos na livraria em Oeiras, e agora vou-te comunicar o seguinte: etou com ideias de ir exercer voluntariado para o Hospital de Cumura, fui convidado por um padre médico que exerce lá esse serviço, já falei pessoalmente com ele, de momento encontra-se cá em Lisboa a fim de recolher medicamentos e material necessário, porque a falta destes é evidente.

Para mim a nível sentimental e profissional é uma enorme alegria, e caso concretize tal acto será sem duvidas poder pôr ao serviço da saúde todos os meus conhecimentos adquiridos, e ajudar e contribuir para as melhoras desta gente tão desprotegida.

Os meus contactos são (...).
 
 Um abraço

Santos

2. Comentário de L.G.:

Deixa-me, camarada José Santos, dar-te as boas vindas em nome de todos os membros da Tabanca Grande que, com a tua entrada, passam a perfazer um total de 526.  Já nos encontrámos, de facto,  na Livraria-Galeria Municipal Verney, em Oeiras, há uns meses atrás. Esse primeiro encontro deu para nos apresentarmo-nos. Depois disso já temos falado (e continuaremos a falar) ao telefone.

Ficas formalmente apresentado aos amigos e camaradas da Guiné que fazem parte deste blogue. Conheces as nossas regras de convívio [, que consta da coluna do lado esquerdo do blogue,] e comprometes-te a colaborar connosco sempre que achares oportuno e necessário.

Para já ficam aqui as tuas primeiras fotos e histórias. Mais tarde falar-nos-á com mais detalhe da tua CCAÇ 3326, e dos sítios por onde andaste. Julgo que és o primeiro da tua companhia a figurar na nossa Tabanca Grande. Se não erro, só tenho uma ou duas referências à CCAÇ 3326.

Aproveito para acrescentar algo sobre esta subunidade (que, tanto quanto sei, era independente):

(i) Foi mobilizada pelo BII 17 (Angra do Heroísmo);
(ii) Partiu para o TO da Guiné em 21/1/1971 e regressou quse 24 meses depois, a 7/1/1973;
(iii) Esteve em Mampatá e Quinhamel;
(iv) Comandante: Cap Mil Art José Carlos de Paula Carvalho.

Seguiu para a Guiné, no mesmo navio, com a CCAÇ 3325 (Guileje e Nhacra), a CCAÇ 3327 (Brá, Bachile, Bassarel, Tite, Bissau), e ainda a CCAÇ 3328 (Bula, Ponta Augusto Barros e Bula). A CCAÇ 3325 era madeirense (BII 19, Funchal), e as restantes, açorianas (BII 17, Angra do Heroísmo). 

terça-feira, 14 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8419: Cancioneiro de Mampatá (3): Estrada da morte [ Buba-Aldeia Formosa] ( António Samarra / Mário Pinto)

1. Mensagem do nosso camarigo Mário Gualter Rodrigues Pinto (ou tão só Mário Pinto), inserida como comentário ao poste P8414 (*):

Como diz quem sabe e por lá passou,  Mampatá inspirava os 'Poetas',  talvez por isso vários foram escritos por quem tinha arte e jeito. O Zé Manuel [Lopes],  além de arte e engenho para tal,  teve o condão de nos despertar para as rimas contadas das vivências por todos os que passaram por Mampatá... Aos que naquela estrada Buba-Aldeia Formosa lutaram. Mário Pinto



Cancioneiro de Mampatá (3) (**)

ESTRADA DA MORTE

Naquela maldita estrada,
A morte nos espreita;
Se o IN nos metralha,
A malta logo se deita.

Há minas e fornilhos 
Que fazem muitas mazelas,
As picas vão a caminho
Com a malta à procura delas.

De repente a emboscada,
Na curva de Sare Usso
A malta responde à metralha
Com tudo o que tem a uso.

Chamem os bombardeiros
Para os turras desalojar,
Bombas, roquetes e tiroteios,
Tudo para o IN matar.

Na puta da confusão
Abrimos fogo, ao desnorte,
Os turras fugiram em turbilhão
E nós tivemos manga de sorte.

Buba, estamos chegando,
Vindos de Mampatá, 
Com' esta 'strada d'embrulhanço,
De má memória, não há.

Escrito por: 


António Samarra
Sold At Cart 2519 
(Os Morcegos de Mampatá, Mampatá, 1969/71)  

[ Revisão / fixação de texto / título: L.G.]
_________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 14 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8416: Blogpoesia (151): Gostava de vos falar dos esquecidos... (Josema)

segunda-feira, 14 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7942: Cancioneiro de Mampatá (2): Versos de Edmundo Santos (CART 2515, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, 1969/71), reproduzidos no blogue do nosso camarada Mário Pinto



Blogue do nosso amigo e  camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, dedicado aos Morcegos de Mampatá, também conhecidos por Coirões de Mampatá, que fizeram parte da CART 2515 (Mampatá, 1969/71)... A companhia passou também por Buba e Aldeia Formosa. O Mário Pinto, que vive no Barreiro,  está profissionalmente ligado à hotelaria. Tem, além deste, mais dois blogues que merecem uma visita: A Ilha do Rato (ele é um paixonado do seu rio, o Tejo)  e O Tacho ao Lume (ou não fosse ele também chef e gourmet).


1. Os Morcegos de Mampatá vão comemorar este ano os 40 anos do seu  regresso a casa, como de resto já aqui noticiámos no nosso blogue... A festa vai ser na Quinta do Branco, na Moita do Ribateja, no próximo dia 7 de Maio. A concentração do pessoal que vai chegando será  junto à estação da CP. Os Coirões que fazem parte da Comissão Organizadora são: Mário Pinto (Tel. 212051384 / Tm 931648953);  Inácio (Tel 922094072 /Tm 965268234); e Edmundo (Tm 963735598),.

2. Entretanto, de uma visita mais detalhada ao blogue do Mário Pinto [, foto à esquerda, quando jovem combatente], descobrimos três poemas que fazem parte do Cancioneiro de Mampatá (*), em boa hora recolhidos e divulgados pelo Mário. A autoria é do Edmundo Santos.

Com os meus parabéns, e a devida vénia,  a ambos, tomo a liberdade de os reproduzir aqui, de modo a poderem chegar ao conhecimento de um público mais vasto, de leitores, combatentes e não-combatebtes.  No final de cada poema, indica-se a data de publicação do poste com o respectivo link.

Fazemos, mais uma vez, um apelo para que  estas manifestações (culturais) do nosso quotidiano no teatro de operações não se percam por esquecimento, ignorância, negligência, incúria... Há um espólio (imaterial) por fazer... Essa é também a razão de ser do nosso blogue... (LG)



OS MORCEGOS
por Edmundo Santos

Aqui não temos parança,
andamos sempre a alinhar,
uns a fazer segurança
e outros a patrulhar.


Só nos resta a esperança
de um dia poder voltar.
Ai!,  uma vida pior
do que esta não há,
chamamo-nos os MORCEGOS,
mas ai, vejam lá,
a malta só nos conhece
pelos COIRÕES de Mampatá.


Todos os dias há saídas,
com o perigo sempre a rondar,
são poucas as alegrias
e muito para contar,
não há lugar p'ra sossego,
é a vida de um MORCEGO.


Edmundo Soares
Guiné 1969


ESTOU FARTO DELES,  TIREM-ME DAQUI!
por Edmundo Santos


Tenho corrido manga de estradas,
que em tão má hora eu conheci,
tenho caido em emboscadas,
Estou farto deles,  tirem-me daqui!


Noites no mato debaixo de água
são realidades que eu já vivi,
tenho a alma cheia de mágoa,
Estou farto deles tirem-me daqui!


Muita fominha tenho passado,
por causa dela me ressenti,
tenho o corpito todo enfezado,
Estou farto deles,  tirem-me daqui!


Edmundo Santos
Guiné 1969


FADO DA METRALHA
por Edmundo Santos


De pica na mão,
lá ia a maralha
com toda a metralha,
de olhos no chão;
para não haver falha,
piquem bem o trilho,
tomem atenção;
sou de opinião
que se houver fornilho
ai que Deus nos valha.


E naquela estrada,
junto ao cruzamento,
as dores que me deste,
mais uma emboscada,
no meu pensamento,
nessa mata agreste
e os bombardeiros,
fiéis companheiros,
em qualquer momento
iam atacando
e turras matando,
sem dó nem lamento.


Adeus, Mampatá,
quero-te esquecer,
fizeste sofrer
quem andou por cá,
pronto a combater,
ó maldita terra
onde nada há
e digo-te já
que toda esta guerra
foi dura a valer.


25/9/2009

[ Revisão / fixação de texto: L.G.]

______________


Nota de L.G.:

Vd. poste anterior desta série > 18 de Novembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3471: Cancioneiro de Mampatá (1): Hino da CART 6250, Os Unidos (Mampatá, 1972/74) (José Manuel Lopes)