Mostrar mensagens com a etiqueta Comandos. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Comandos. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 10 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25366: Trabalho sobre a formação dos Comandos na Guiné, publicado na Revista da Associação de Comandos, MAMA SUME - Parte II (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando)



"Os Comandos na Guiné", artigo da autoria do nosso camarada Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando, publicado na Revista MAMA SUME, da Associação de Comandos, e enviado ao Blog no dia 22 de Março de 2024:

“Comandos” do CTIG - Parte II

Resumo sobre a História dos Cmds do CTIG[4]

I. Cronologia

˗ Partida, em 29 de Outubro de 1963, para Angola dos Oficiais, Sargento e Praças, do CTIG, a fim de frequentarem um curso de Comandos, no C.l.16 na Quibala - Norte:
˗ Maj. Inf.ª Correia Diniz
˗ Alf. Mil. Maurício Saraiva
˗ Alf. Mil. Justino Godinho
˗ 2º Sarg. Inf.ª Gil Roseira Dias
˗ Fur. Inf.ª Mário Roseira Dias
˗ Fur. Milf. Cav. Artur Pereira Pires
˗ Fur. Milf. Cav. António Vassalo Miranda
˗ 1º Cb. At. Inf.ª Abdulai Queta Jamanca
˗ Sold. At. Inf.ª Adulai Jaló
˗ Regressaram a Bissau em 6 de Dezembro de 1963, e, formaram um grupo que participou na Operação "Tridente" (Ilha do Como), de 15Jan. a 22 Mar. 1964.
˗ Em 3 de Agosto de 1964, início das actividades do CIC/Brá, com a Escola de Quadros para dar instrução ao 1.°Curso de Comandos da Guiné, que decorreu entre 24 de Agosto e 17 de Outubro de 1964.
Deste curso saíram os três primeiros grupos de Comandos, que desenvolveram actividade operacional na Guiné até Julho de 1965:
˗ "Camaleões": Alf. Mil. Cmd Justino Godinho (Cmdt)
˗ "Fantasmas": Alf. Mil. Cmd Maurício Saraiva (Cmdt)
˗ "Panteras": Alf. Mil. Cmd Pombo dos Santos (Cmdt)

Militares seleccionados para o GrCmds na op. Tridente:

˗ Alf Mil Pombo dos Santos, do PelAA 943 (juntou-se ao GrCmds no Como, já depois do início da op "Tridente")
˗ 1º Cabo Marcelino da Mata, da 1ª CCaç (idem)
˗ Soldado 1/63 António Paulista Solda
˗ Soldado 75/63 J. Ramalho Godinho, da CCav 487
˗ Soldado 235/63 S. Conceição Veiga, da CCav 488
˗ Soldado 749/83 J. Firmino Martins Correia, da CCav 487
˗ Soldado 674/63 António Gomes, da CCaç 510
˗ Soldado 338/63 Francisco da S. Duarte, da CCaç 510
˗ Soldado 194/63 Joel António Pereira, da CCaç 487 (regressou à Cª, após o final da op. “Tridente”)
˗ Soldado 225/63 Maurício Romão Conceição, da CCav 488 (idem)
˗ Soldado 221/63 J. Trindade Cavaco, da CCav 487
˗ Soldado 598/63 Manuel Martins da Cunha, da CArt 494
˗ 1º Cabo foto-cine Celestino Raimundo, da CCS/QG/CTIG (evacuado Mai64 devido a acidente em serviço, para o H.Militar de Belém. Foto-cine ao serviço da 3ª Rep/QG, encarregado da cobertura da operação, juntou-se ao GrCmds e a ele se devem as poucas imagens da referida operação).

II. Comandos do C.T.I.Guiné: efemérides

˗ 23/7/64: início das actividades do Centro de Instrução Comandos em Brá.
˗ O CIC/Brá, sob o comando do Maj. Inf.ª Cmd Correia Diniz, recebeu do CIC de Angola, para a formação de quadros, os seguintes militares:
Ten. Mil. Cmd Abreu Cardoso
Alf. Mil. Cmd Luís Câmara Pina
2.º Sarg. Infª. Cmd Ferreira Gaspar
Fur. Mil. Cmd Pompílio Gato
1.º Cb. Cmd Pires Júnior (Pegacho)
1.º Gr. Cmds "GATOS" / BART 400, comandado pelo Alf. Mil. Cmd Martins Valente
Estes elementos participaram nas primeiras acções conjuntas com os grupos acima referidos.
˗ 3/8/64: início da Escola Preparatória de Quadros.
˗ 24/8 a 17/10/64: Iº Curso de formação dos GrsCmds (Camaleões, Fantasmas e Panteras
˗ 20/10/64 a Junho de 1965: actividade operacional dos GrsCmds.
˗ 1/7/65: extinção do CIC de Brá.
˗ Para dar continuidade à formação de Grupos de Comandos, foi criada a Companhia de Comandos do CTIG (CCmds/CTIG), tendo sido nomeado seu comandante o Cap. Art.ª Nuno Rubim, substituído em 20 de Fevereiro de 1966 pelo Cap. Art. Garcia Leandro.
˗ 24/05/65 a 22/06/65 : IIº Curso da Escola de Quadros do C. I. Comandos.
˗ O 2º.Curso de Comandos teve início em 07 de Julho de 1965, terminando em 04 de Setembro, com a formação de 4 Grupos de Comandos, que tomaram os nomes:
"Apaches": Alf. Mil. Cmd Neves da Silva (Cmdt)[5]
"Centuriões": Alf. Mil. Cmd Almeida Rainha (Cmdt)
"Diabólicos": Alf. Mil. Cmd Silva Briote (Cmdt)
"Vampiros": Alf. Mil. Cmd Pereira Vilaça (Cmdt)[6]
˗ Set. 65 a 30/6/66 : actividade operacional dos grupos.
˗ 20/2/66: nomeado o capitão Artª Garcia Leandro para Comandante da CCmds.
˗ O 3.º Curso de Comandos, realizado pela CCmds/CTIG, aquartelada em Brá, decorreu de 09 de Março de 1966 a 28 de Abril de 1966, e foi constituído por militares voluntários pertencentes a Unidades sediadas na Guiné e que se destinaram a recompletamento dos Grupos de Comandos. O alf. Mil. V. Briote foi o responsável pelo curso tendo sido aprovados 2 sargentos e 18 praças, englobados no GrCmds "Diabólicos, cerca de um mês depois.
˗ Com a chegada à Guiné da 3.ª Companhia de Comandos, vinda do CIOE - Lamego, a CCmds/CTIG foi extinta em 30 de Junho de 1966, mantendo-se em actividade o Grupo de Comandos "Diabólicos", até finais de Setembro de 1966, data em que a maioria dos militares que o integravam terminaram a sua comissão de serviço.
Partida para zona de Mansoa – Diabólicos.
Heliembarque de GrCmds.
Operação Atraca, heliassalto – Grupo Diabólicos.
Operação Atraca – recolha.

III. Militares naturais da Guiné que fizeram parte dos Grupos de Comandos iniciais (1964/1966)

1.º Cabo Braima Seidi, da BAC
1.º Cabo Tomaz Camará, da CCS/QG
1.º Cabo Marcelino da Mata, da CCS/QG
Sold. Momo Camará
Sold. Lifna Cumba
Sold. Bacar Jassi
Sold. Gouveia Yalá
Sold. Mamadu Jaló
Sold. Justo Orlando Nascimento
Sold. Pedro Costa Malan Sani
Sold. Raul Manuel Gomes
Sold. Bacar Mané
Sold. Mamadu Bari
Sold. António Mamadu Saboli Camará
Sold. Augusto Alfredo de Sá
Sold. Braima Bá
Sold. Adriano Sisseco
Material capturado pelo Grupo de Comandos Apaches, em Bigene.

IV. Resultados da Cª Cmds da Guiné (23/08/64 a 31/08/66)

˗ Efectivos envolvidos: 211
˗ Mortos em combate: 12
˗ Feridos em combate: 19
˗ Acções realizadas: 113[7]
 Gr. “Fantasmas”: 21 operações
 Gr. “Camaleões”: 9
 Gr. “Panteras”: 11
 Gr. “Apaches”: 14
 Gr. "Centuriões": 12
 Gr. “Diabólicos”: 24
 Gr. “Vampiros”: 14
˗ Armas apreendidas: 71

____________

Notas de VB:

[4] - In Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961/1974); 14º Vol. “COMANDOS”

[5] - Razões familiares obrigaram o alf. Neves da Silva a deixar o comando do grupo, sendo substituído pelo Sarg. Mil. Mário Dias

[6] - Inoperacional por motivos de saúde após 7Set1965, sendo substituído pelo Furriel Mil. Moura dos Santos e mais tarde pelo alf. Mil. Vítor Caldeira

[7] - Total de operações, incluindo acções executadas apenas por oficiais e sargentos.


********************

A opinião do Comandante John MacCain, oficial norte-americano, sobre os Comandos do CTIG

O comando militar da Guiné lançou a operação Tridente. Uma operação com o objectivo de limpar as ilhas de Caiar, Como e Catunco, que ficavam no sul, entre os rios Cumbijã e Tombali. A acção durou setenta e um dias entre Janeiro e Marco de 1964 e nela foram utilizados praticamente todos os recursos militares, na altura, disponíveis na Guiné.

A força de “Comandos”, ainda a nascer não foi poupada, e um grupo foi formado com oito dos nove que tinham sido treinados em Angola a que se juntaram mais treze militares que ainda não tinham recebido instrução de “Comandos”. O grupo de “Comandos” foi integrado na força terrestre para a operação, que incluiu três destacamentos de fuzileiros, um pelotão de para- quedistas, um pelotão de artilharia, três companhias de cavalaria e um pelotão de infantaria africana, sob o comando de um oficial de cavalaria, o tenente- coronel Fernando Cavaleiro. Durante a operação, o grupo de “comandos” teve um desempenho que mereceu destaque, sem sofrerem baixas.

Depois da op. Tridente, o comando militar autorizou a abertura de um Centro de Instrução de Comandos, num aquartelamento em Brá, , uma aldeia localizada a meio caminho entre Bissau e o aeródromo principal em Bissalanca ao norte, que foi oficialmente inaugurado em Julho de 1964 sob o comando do major Correia Dinis, um dos militares que tinham recebido instrução em Angola. O CIC da Guiné teve muitas dificuldades para obter o apoio necessário e não pôde dar a formação requerida. Em Dezembro desse ano, um frustrado Correia Dinis levantou a questão ao Comandante-em-Chefe, pois não havia livros, maquetes de instrução, ou qualquer outro material de apoio. Não havia veículos, nem armas para praticar pontaria, não havia munições, granadas de mão nem explosivos, e assim por diante. Também era importante ter armas capturadas para instrução. Eventualmente, alguns desses problemas foram sendo resolvidos, mas tudo à custa de um tempo precioso e de enorme esforço.

A instrução e a administração no CICmdss acompanharam o CIC em Angola e seguiram o que agora se tornou uma rotina padronizada. A preparação dos instrutores do CIC levou treze semanas e começou em Junho de 1964, após a conclusão da Tridente. No final do curso de instrutores em Agosto, participaram na operação Alfinete em que o grupo executou um ataque a um acampamento PAIGC de oito barracas no mato da floresta Oio da aldeia de Santambato. Isso completou a formação e o primeiro curso de comandos formal teve início rapidamente no mesmo mês. Sairam deste curso três grupos de “Comandos” depois de oito semanas de instrução, e como era agora tradição cada grupo adoptou um nome: Fantasmas, Camaleões e Panteras.

Após o primeiro curso, o número de instrutores do CIC foi aumentado em cinco, dois da metrópole e três de Angola, em preparação para o segundo curso. O aumento adicional foi solicitado e recebido de Angola sob a forma de um grupo, os Gatos, que tinha sido treinado um ano antes e tinha já uma considerável experiência de combate. Este grupo realizou uma série de operações com instrutores para os orientar em operações de “comandos”.

O segundo curso começou em Junho de 1965 e durou oito semanas e dele saíram quatro grupos: Apaches Centuriões, Diabólicos e Vampiros.

Na conclusão deste segundo curso, houve uma reavaliação da organização dos “comandos” na Guiné, e o comando militar decidiu criar uma Companhia de “comandos” autónoma. Devido aos requisitos específicos para os “comandos”, pensou-se que seriam mais eficazes em vez de fazerem parte de uma estrutura regular de tropas. A instrução avançada, o ethos (hábitos ou crenças que definem um grupo), o trabalho em equipa e a moral eram muito diferentes do “mainstream”, e a separação era indispensável para preservar a diferença que os “comandos” tinham.

Assim, a partir de Novembro de 1965, Brá passou a ser o aquartelamento da Companhia de Comandos, que foi formada pelos grupos existentes. Houve resistência a este movimento por parte dos comandantes de batalhão que anteriormente tinham fornecido os militares e agora se viam obrigados a renunciar à valiosa capacidade dos grupos. No entanto, no início de 1966 começaram os preparativos para o terceiro curso em Brá e deu-se início ao recrutamento. O curso começou em Março e, como os anteriores, durou o período de oito semanas.

Alguns dos grupos estavam então fortemente engajados e sofreram baixas significativas. O preço do combate foi reduzindo o seu número, uns por doença e outros por baixas em combate, e enquanto o terceiro curso iria aliviar um pouco a situação, a integridade dos grupos foi ameaçada. Os Apaches, Centuriões e Vampiros acabaram por ser dissolvidos, e os seus sobreviventes juntaram-se num grupo, os Diabólicos. Estes estiveram fortemente envolvidos em torno de Mansoa e Jugudul e acabaram por sofrer o mesmo destino em finais de Agosto.

Os vários grupos estiveram na vanguarda da acção de combate desde a sua organização, sempre sob as circunstâncias mais desafiadoras e perigosas, e demonstraram grande coragem. Com a sua dissolução, terminou a primeira fase da história dos Comandos na Guiné. Em fins de Junho de 1966, a 3.ª CCmds, formada em Lamego, desembarcou em Bissau. Esse desdobramento de “Comandos” iria abrir uma nova fase da guerra e, como se quisesse assinalar isso, os seus homens usavam uma boina camuflada. Os Comandos na Guiné acabariam por se estender a doze companhias, três das quais africanas.

_____________

Nota do editor

Vd. post anterior de 9 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25362: Trabalho sobre a formação dos Comandos na Guiné, publicado na Revista da Associação de Comandos, MAMA SUME - Parte I (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando)

segunda-feira, 18 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25285: Os 50 anos do 25 de Abril (3): "Geração D - Da Ditadura À Democracia", por Carlos Matos Gomes; Porto Editora, 2024 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Março de 2024:

Queridos amigos,
É uma agradável surpresa, Carlos de Matos Gomes é ele próprio, com infância, vida familiar, a decisão tomada de ser oficial do quadro permanente, a sua passagem por Angola, como combateu em Moçambique, faz um compasso de espera em Lisboa e oferece-se para a Guiné, aí contribuirá para o desempenho do MFA. E irá contar como se processou a sua participação no processo revolucionário. O leitor será subjugado do princípio ao fim, eviscera-se a instituição militar com os seus valores, a sua burocracia, contam-se histórias hilariantes, perdas humanas, e aquele jovem capitão pergunta-se seriamente o que estava a fazer ali. Perguntado sobre o que o movia, responderá: "Não tinha um pensamento crítico organizado, e isso não dizia nada. A tropa é a tropa, é a malta. É o que a gente tem de fazer, vamos a eles e tal, aquela conversa. A seguir à primeira comissão, quando não estava na guerra, estava na Escola Prática de Cavalaria a dar instrução. O que dizia aos jovens que andavam a tirar o curso de oficiais milicianos: 'Vamo-vos preparar para vocês não morrerem. Vão para lá, são obrigados a ir, é preciso é que não morram e voltem." Um livro primoroso, um abençoado complemento para tornar mais cristalino o romance Nó Cego, a indiscutível obra-prima absoluta da literatura da guerra colonial.

Um abraço do
Mário


Porventura o testemunho mais eloquente sobre a guerra colonial e o depois,
Palma de ouro para a literatura nas comemorações dos 50 anos do 25 de Abril (1)


Mário Beja Santos

Carlos de Matos Gomes é o romancista Carlos Vale Ferraz, autor do romance mais influente de toda a literatura de guerra colonial. Agora muda de rosto, volta a ter perto de 20 anos, faz comissões em Angola, Moçambique e na Guiné, prepara muita gente para a guerra, pertenceu ao grupo mais ativo do MFA na Guiné. Posteriormente, envolveu-se no processo revolucionário, chegou a hora de fazer um balanço do que viveu e do que se lembra.

Acaba de sair o seu livro de memórias "Geração D, Da Ditadura à Democracia", agora é, sem margem para equívocos, Carlos de Matos Gomes, Porto Editora, 2024, um assombroso ecrã sobre as primícias da guerra, os seus bastidores, o funcionamento da hierarquia castrense, a burocracia, sobretudo o exame de consciência do que é que um oficial do quadro permanente ia assimilando nas matas e nos quartéis quanto ao tremendo equívoco que era procurar até ao desespero urdir uma ficção sobre a propaganda doutrinal do Estado Novo sobre uma “guerra justa” para aquele império com pés de barro. É esta a parte das memórias construídas com uma assombrosa arquitetura literária que aqui se procura, aos poucos, desvelar.

Logo no arranque da obra, aquele jovem oficial é levado a pôr uma interrogação quem tem a espessura de um cataclismo moral, está no Tete:
“Num dia de maio de 1971, perguntei-me o que estava a fazer numa paisagem lunar, cinzenta e alaranjada, de rochas escaldantes, árvores de ramos secos, enquanto comia uma lata de conserva da ração de combate, sob uma temperatura superior a 40ºC, nas imediações dos morros de Cabora Bassa. Suava e afastava mosquitos. Não me queixava das condições da natureza. Prepara-me para a enfrentar e aos inimigos, mas chegara o momento das interrogações. Era um intruso. Que causas me haviam trazido até ali? Estar ali resultava da minha vontade e da minha liberdade, ou fora fruto de um conjunto de acasos, pelo que tanto podia estar naquele como noutro lugar ou situação, segundo o meu livre-arbítrio?”

E este jovem oficial que abriu o veio à consciência, apresenta-se:
“Tinha 24 anos, o posto de capitão comandante de uma companhia das tropas especiais, os Comandos, com o nome totémico de ‘Escorpiões’. Estava a terminar os dois anos de comissão. Chegara a Moçambique em 1969, como tenente, vindo do Centro de Instrução de Comandos de Angola, a casa-mãe daquelas tropas. Formara esta companhia em Montepuez com voluntários, havíamos combatido nas grandes operações do Norte em Cabo Delgado, no planalto dos Macondes. Os dirigentes da FRELIMO haviam decidido abrir a frente de guerra em Tete, e para ali viera eu enfrentá-los com os meus experientes, silenciosos e atentos comandos.”

Está para ali acompanhado de duas equipas de pisteiros rodesianos, é costume fazerem operações conjuntas. Acompanha-o um desses seres humanos sujeito a duas causas:
“Perto de mim, um negro esfarrapado, descalço, magro, sem idade identificável, quase uma múmia de pele seca e escamada. O guia que a PIDE me tinha envergado para me levar ao acampamento dos guerrilheiros, vindos do Norte, que haviam atravessado o rio Zambeze. O negro, sentado sob os calcanhares, amarrado pela cintura a um soldado, comia em silêncio o que lhe tínhamos dado – mastigava lentamente, com a boca de lábios rebentados pela pancada no interrogatório de há dois dias, numa tenda, na povoação de Estima, na base dos morros do Songo, no quartel-general do Comando Operacional das Forças de Intervenção.
Perguntei-me de novo o que fazia naquele fim do mundo, no interior de África, com um negro atado pela cintura a um soldado, transformando-o num moderno caçador de escravos e a mim num negreiro.
Aquela não era a terra a que eu pertencia. Nada me ligava àquele negro, nem àquelas rochas, nem àquele sol abrasador, nem aos mosquitos que entravam pela boca, nem aos rodesianos brancos que mandavam os seus militares combater ao nosso lado, no lado de cá da nossa fronteira, para evitar que os guerrilheiros anti-apartheid realizassem ações do seu lado.
Que causa me ligava àquele negro e aos homens que estavam sob o meu comando?”


A PIDE insistia na existência de uma base naquela região, a missão era aniquilá-la. Depois de muito caminhar encontraram-se na orla de uma mata no fundo de um pequeno vale, não havia base nenhuma, escreve o autor, manda o soldado soltar o preso, houve quem perguntasse ao capitão se o guia devia ser abatido, o capitão disse que não. E disserta sobre o Exercício Alcora, um protocolo estabelecido entre a África do Sul, a Rodésia e Portugal, os brancos da África Austral sonhavam com a criação de um bloco branco. Depois do 25 de Abril, o autor teve a oportunidade de ler os relatórios secretos dos aliados rodesianos, pouco generosos para nós: que tínhamos pouca vontade de combater, que não perseguíamos rapidamente as forças da guerrilha.

A graduação de memórias oscila entre o teatro de operações moçambicano e o curso que ele fez na Academia Militar, assim caminhamos para uma história brejeira, a da tropa de Lione, destacamento que distava poucos quilómetros em linha reta da fronteira com Maláui, vale a pena contar a história:
“A interpretação tática do comandante da companhia do Lione de não sair da quadrícula do seu aquartelamento, definida por uma ferrugenta rede de arame farpado pendurada em troncos apodrecidos, foi aceite como um facto pelo comando militar de Vila Cabral. Como tratar uma birra? O capitão miliciano comportava-se com a maior civilidade, revelava um espírito alegre, indiferença pela situação política, mandava vir revistas e jornais de Inglaterra e resumia o seu comportamento declarando que estava bem, na medida em que não podia estar pior. Se o punissem iria para outro local que seria, com elevada probabilidade, melhor do que o Lione.”

Carlos de Matos Gomes sai de Lione e vai em direção ao Malawi, cerca uma aldeia, quem lá vive não mostra temor, alguém se aproxima e se apresenta como polícia rural do Malawi. O capitão toma a decisão de pôr toda aquela gente numa coluna até Vila Cabral. Os comandos ficam petrificados quando dão conta do tremendo engano, aquela gente do Malawi após uma refeição oferecida foi reconduzida à sua terra-mãe.

Procede com ironia quando nos fala no Dia da Raça, muda de agulha quando a narrativa se prende com o primeiro morto em combate:
“Embarcámos numa lancha de desembarque pequena da base de Metangula, que oficialmente albergava o Comando da Defesa Marítima dos portos do lago Niassa. Desembarcámos numa pequena praia com o percalço de a lancha ter ficado presa num tronco, o que nos obrigou a sair com água pelo peito e a lancha a fazer muito mais barulho com o esforço dos motores para se libertar. O assalto correu como correm os assaltos: um grupo cercou a base e outro entrou a disparar. Os guerrilheiros deviam esperar-nos e responderam. O Armando, um negro robusto, sereno e de poucas falas, era sipaio da administração e servia de intérprete entre nós e o Zé Palangué (guerreiro capturado). Foi atingido no peito e caiu à minha frente. Julgo que os guerrilheiros o quiseram visar. Pertencia à tribo dos ajaua, um dos grupos étnicos da região. O Zé Palangué podia ter fugido, mas manteve-se connosco, não sei por que razão. Integrou-se na comunidade de Meponda e no espírito português de cumprir regras segundo as conveniências, apesar de islamizado preferia as latas de conserva de chouriço em óleo de mendubi às de atum ou sardinhas. Iniciámos o difícil regresso pelos montes e vales das margens do lago, com o corpo do Armando para o entregarmos à família, com toda a dignidade. Eu tinha 20 anos e também cumpri a minha escala de trazer o Armando às costas, na maca improvisada com dois troncos e panos de tenda".

(continua)
____________

Nota do editor

Último poste da série de 16 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25279: Os 50 anos do 25 de Abril (2): O meu primo Luís Sacadura, furriel miliciano, natural de Alcobaça, hoje a viver nos EUA, estava lá, no RI 5, Caldas da Rainha, no 16 de marco de 1974, e mandou-me fotos dos acontecimentos (Juvenal Amado)

sábado, 23 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24991: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XL: Morte do irmão Braima Djaló,da 3ª C/BCmds, na Caboiana, em setembro de 1973


Guiné > Região de Cacheu > Carta de Cacheu / São Domingos (1953) > Escala 1/50 mil > Pormenor dos rios Cacheu e seus afluentes: Pequeno de São Domingos (margem norte); Caboi, Caboiana  e Churro (margem sul), a montante da vila de Cacheu.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015).

1. Continuação da publicação das memórias do Amadu Djaló (Bafatá, 1940-Lisboa, 2015), a partir do manuscrito, digitalizado, do seu livro "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada) (*).

O nosso  camarada e amigo Virgínio Briote, o editor literário ou "copydesk" desta obra,  facultou-nos uma cópia digital. O Amadu Djaló, membro da Tabanca Grande, desde 2010, tem mais de nove dezenas de referências no nosso blogue. Tinha um 2º volume em preparação, que a doença e a morte não  lhe permitaram ultimar.



Capa do livro do Amadu Bailo Djaló,
"Guineense, Comando, Português: I Volume:
Comandos Africanos, 1964 - 1974",
Lisboa, Associação de Comandos,
2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada.



O autor, em Bafatá, sua terra natal,
por volta de meados de 1966.
(Foto reproduzida no livro, na pág. 149)

Síntese das partes anteriores:

(i) o autor, nascido em Bafatá, de pais oriundos da Guiné-Conacri, começou a recruta, como voluntário, em 4 de janeiro de 1962, no Centro de Instrução Militar (CIM) de Bolama;

(ii) esteve depois no CICA/BAC, em Bissau, onde tirou a especialidade de soldado condutor autorrodas;

(iii) passou por Bedanda, 4ª CCaç (futura CCAÇ 6), e depois Farim, 1ª CCAÇ (futura CCAÇ 3), como sold cond auto;

(iv) regressou entretanto à CCS/QG, e alistou-se no Gr Cmds "Os Fantasmas", comandado pelo alf mil 'cmd' Maurício Saraiva, de outubro de 1964 a maio de 1965;

(v) em junho de 1965, fez a escola de cabos em Bissau, foi promovido a 1º cabo condutor, em 2 de janeiro de 1966;

(vi) voltou aos Comandos do CTIG, integrando-se desta vez no Gr Cmds "Os Centuriões", do alf mil 'cmd' Luís Rainha e do 1º cabo 'cmd' Júlio Costa Abreu (que vive atualmente em Amesterdão);

(vii) depois da última saída do Grupo, Op Virgínia, 24/25 de abril de 1966, na fronteira do Senegal, Amadu foi transferido, a seu pedido, por razões familitares, para Bafatá, sua terra natal, para o BCAV 757;

(viii) ficou em Bafatá até final de 1969, altura em que foi selecionado para integrar a 1ª CCmds Africanos, que será comandada pelo seu amigo João Bacar Djaló (Cacine, Catió, 1929 - Tite, 1971)

(ix) depois da formação da companhia (que terminou em meados de 1970), o Amadu Djaló, com 30 anos, integra uma das unidades de elite do CTIG; a 1ª CCmds Africanos, em julho, vai para a região de Gabu, Bajocunda e Pirada, fazendo incursões no Senegal e em setembro anda por Paunca: aqui ouve as previsões agoirentas de um adivinho;

(x) em finais de outubro de 1970, começam os preparativos da invasão anfíbia de Conacri (Op Mar Verde, 22 de novembro de 1970), na qual ele participaçou, com toda 1ª CCmds, sob o comando do cap graduado comando João Bacar Jaló (pp. 168-183);

(xi) a narrativa é retomada depois do regresso de Conacri, por pouco tempo, a Fá Mandinga, em dezembro de 1970; a companhia é destacada para Cacine [3 pelotões para reforço temporário das guarnições de Gandembel e Guileje, entre dez 1970 e jan 1971]; Amadu Djaló estava de licença de casamento (15 dias), para logo a seguir ser ferido em Jababá Biafada, sector de Tite, em fevereiro de 1971;

(xii) supersticioso, ouve a "profecia" de um velho adivinho que tem "um recado de Deus (...) para dar ao capitão João Bacar Jaló"; este sonha com a sua própria morte, que vai ocorrer no sector de Tite, perto da tabanca de Jufá, em 16 de abril de 1971 (versão contada ao autor pelo soldado 'comando' Abdulai Djaló Cula, texto em itálico no livro, pp.192-195) ,

(xiii) é entretanto transferido para a 2ª CCmds Africanos, agora em formação; 1ª fase de instrução, em Fá Mandinga , sector L1, de 24 de abril a fins de julho de 1971.

(xiv) o final da instrução realizou.se no subsector do Xitole, regulado do Corunal, cim uma incursão ao mítico Galo Corubal.

(xv) com a 2ª CCmds, comandada por Zacarias Saiegh, participa, em outubro e novembro de 1971, participa em duas acções, uma na zona de Bissum Naga e outra na área de Farim;

(xvi) em novembro de 1971, participa na ocupação da península de Gampará (Op  Satélite Dourado, de 11 a 15, e Pérola Amarela, de 24 a 28);

(xvii) 21-24 dezembro de 1971: Op Safira Solitária: "ronco" e "desastre" no coração do Morés, com as 1ª e 2ª CCmds Africanos  (8 morts e 15 feridos graves);

(xviii) Morés, sempre o Morés... 7 de fevereiro de 1972, Op Juventude III;

(xix) o jogo do rato e do gato: de Caboiana a Madina do Boé, por volta de abril de 1972;

(xx)  tem um estranho sonho em Gandembel, onde está emboscado très dias: mais do que um sonho, um pesadelo: é "apanhado por balantas do PAIGC";

(xxi) saída para o subsetor de Mansoa, onde o alf cmd graduado Bubacar Jaló, da 2ª CCmds Africanos, é mortalmente ferido em 16/2/1973 (Op Esmeralda Negra)M

(xxii) assalto ao Irã de Caboiana, com a 1ª CCmds Africanos, e o cap cav 'cmd' Carlos Matos Gomes como supervisor;

(xxiii) vamos vê-lo a dar instrução a futuros 'comandos' no CIM de Mansabá, na região do Oio, no primeiros meses do ano de 1973, e a fazer algumas "saídas" extras (e bem pagas) com o grupo do Marcelino, ao serviço do COE (Comando de Operações Especiais), que era então comandado pelo major Bruno de Almeida; mas não nos diz uma única sobre essas secretas missões; ao fim de 12 anos de tropa, é 2º sargento e confessa que está cansado;

(xxiv) antes de ir para CCAÇ 21, como sede em Bambadinca, como alferes 'graduado" (e sob o comando do tenente graduado Abdulai Jamanca, ainda irá participar na dramática Op Ametista Real, contra a base do PAIGC, Cumbamori, no Senegal, em 19 de maio de 1973;  esta parte do seu  livro de memórias  (pp. 248-260) já aqui foi transcrita no poste P23625;

(xxv) no leste, começa por atuar no subsetor do Xime, em meados de 1973;

(xxvi) em setembro de 1973, quando estava em Piche, já na CCAÇ 21, recebe a terrível notícia da morte do seu querido irmão mais novo, Braima Djaló, da 3ª CCmds.


 Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XL:

Morreu em combate o Braima Djaló, da 3ª C/BCmds, meu irmão (pp. 263/264) 

O Braima, meu irmão mais novo, frequentou o curso de comandos de 1972, em Fá Mandinga.

Estivemos juntos nos Comandos, quase perto de um ano. Uma vez, íamos efetuar um assalto com helicópteros a oeste de Madina do Boé. O assalto era para ser desencadeado depois do bombardeamento da aviação. Quando era assim, tínhamos que sair dos helicópteros com o dedo no gatilho.

Calhou o meu irmão ir no meu grupo e, quando chegámos à BA 12, em Bissalanca  eu só tinha olhos para o meu irmão. Cada vez que levantava a cara só o via a ele. Então, pedi ao capitão Folques para mandar o meu irmão para outro grupo, para que ele fosse numa situação menos perigosa. O capitão aceitou o pedido e trocou-o.

Realizámos o assalto, sem problemas do nosso lado. O bombardeamento causou vítimas ao PAIGC, apoderámo-nos de vários materiais e regressámos a Bissau, de helicóptero também.

Depois, em 5 de junho de 1973, eu e mais oito oficiais fomos transferidos para a CCaç 21. A nossa companhia ficou  com sede em Bambadinca e passámos a atuar na zona leste.

Em setembro estávamos em Piche. A coluna regressava nesse dia, vinha trazer géneros. Eu estava sentado no posto da administração, a conversar com os funcionários, quando chegou um soldado europeu.

- Meu alferes, o nosso tenente-coronel  mandou-o chamar.

No caminho, o militar perguntou-me se eu tinha algum irmão nos Comandos. Sim, tenho, respondi.

- Morreu! Mas o meu alferes não diga nada ao nosso tenente-coronel.

Fiquei sem ter nada para dizer. Quando cheguei, à sala de operações, o tenente-coronel (##) disse-me:

- Djaló, o teu irmão morreu (#). A coluna já partiu para Bambadinca, mas tens aí uma viatura para te levar e depois a viatura regressa com a coluna.

Não esperei mais nada. Tomei o lugar no carro, rumo a Bafatá.

Quando cheguei a minha casa, encontrei lá muita gente. O condutor parou, dei-lhe dinheiro para almoçar no restaurante, e disse-lhe que aguardasse, ao pé da estrada, pela coluna de regresso.

O meu irmão, Braima Djaló, morreu na Caboiana, numa operação da 3ª Companhia de Comandos. Nesse dia perdi o meu irmão mais amigo.

A morte do meu irmão trouxe consequências. A minha mãe já era idosa e estava muito fraca. Toda a minha família se juntou e quiseram fazer uma reunião comigo.

Um tio meu disse-me que eu já tinha mais de onze anos de serviço militar. Que, com a morte do meu irmão, a família achava que eu devia deixar a tropa ou então deixar de ser operacional. Insistiram muito, tanto que eu contactei o major Folques quando me desloquei a Bissau para recolher a bagagem do meu irmão. Coloquei-lhe a questão, ele ouviu-me atentamente e respondeu-me:

- Na próxima 4ª feira vamos encontrar-nos no CAOP do Gabu, CAOP2, e vamos falar com o nosso coronel.

Na 4ª feira seguinte aluguei uma carrinha em Bafatá para transportar a minha mãe e desloquei-me na minha motorizada. Mas o major não apareceu. O coronel ainda me disse para aguardar, mas soubemos que o major Folques estava impossibilitado de sair de Bissau.

O coronel perguntou-me de que assunto se tratava. E eu disse-lhe qual era. Perguntou-me se eu, deixando de ser operacional, concordava em ser desgraduado para 1.º sargento.

Uma proposta injusta,  foi o que lhe respondi. Há onze anos, praticamente seguidos, sempre a percorrer o território e vir agora ser tratado assim numa secretaria do Gabu!

Acabei por lhe dizer, sabe Deus como, que concordava e perguntei-lhe se também podia sair da tropa e passar à disponibilidade.

- E,  se passares à disponibilidade, como é que vais viver?

- Há muita gente que está a viver e nunca foi tropa - foi assim que respondi.

- Onde vais viver?

- Meu coronel, já cumpri serviço durante mais de onze anos! Posso viver em qualquer parte do mundo.

- Mas como? Para onde?

As perguntas não acabavam e as minhas respostas eram sempre as mesmas, tinha cumprido muito mais que a minha obrigação e se quisesse sair podia ir ou ficar no lugar que eu encontrar-se para viver, Bafatá, Senegal, Gâmbia, Guiné-Conacri.

- Está bem, a gente vai tratar disso - rematou.

Quinze dias depois, um soldado de Bambadinca veio à minha procura dizendo que um tenente responsável pelas informações do batalhão de Bambadinca queria falar comigo.

Era meu conhecido e encontrei-o num gabinete do batalhão, com um placard na porta “informações”. Passou-me o meu processo para as mãos e pediu-me para ir para junto da janela, abrir bem os olhos e só depois assinar.

Era um dossiê. Li apenas a primeira página.

- Eu, meu tenente, não assino este documento. Quem vai tratar deste assunto vai ser o major Folques, que é o meu comandante.

_____________

Nota do editor LG:

(#) Tenho indicação que a morte em combate terá ocorrido nesta acção:

Ver. CECA (2015):

Acção - 24 a 27Set73

As 1ªe 3ª/BCmds da Guiné levaram a efeito missões de patrulhamento e montagem de emboscadas na região de Caboiana, 06. Na área de S. Domingos, as NT sofreram 3 mortos, 5 feridos e 6 desaparecidos em vários contactos pelo fogo. O inimigo sofreu 1 morto e outras baixas prováveis. 

Fonte: Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 6º volume:  aspectos da actividade operacionaç Tomo II: Guiné, Livro III,  Lisboa: 2015, pág. 344

(##) Deveria tratar-se do comandante do BART 6523/73 (Nova Lamego, 1973/74).

[ Seleção / adaptação / revisão / fixação de texto / negritos, para efeitos de publicação deste poste no blogue: L.G.]
______________

Nota do editor LG:

Último pposte da série > 2 de dezembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24906: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XXXIX: alferes graduado na CCAÇ 21, combatendo no Leste (pp. 261-263)

sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24549: Notas de leitura (1605): "O Elogio da Dureza", por Rui de Azevedo Teixeira; Gradiva Publicações, 2021 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Agosto de 2021:

Queridos amigos,
Trata-se inegavelmente de uma surpresa, pelo assombro como desvela a intimidade, por descrições duríssimas, é muito difícil não acreditar que tudo isto que ali se escreve não vem da experiência vivida. Sabe-se que Rui de Azevedo Teixeira combateu em Angola, é doutor em Literatura Portuguesa, ensinou em universidades europeias e africanas e no seu currículo há obras de grande importância como A Guerra Colonial e o Romance Português: Agonia e Catarse ou O Fim do Império e a Novelística Feminina e também A Guerra de Angola: 1961-1974. Não custa crer que o autor entendeu que este legado de crueza e terror é importante para que as novas gerações recebam agora o que nos aconteceu há mais de 50 anos.

Um abraço do
Mário



O terror puro e duro para iluminar a noite interior

Mário Beja Santos

Rui de Azevedo Teixeira nasceu em Argivai, Póvoa de Varzim. Combateu em Angola. É doutorado em Literatura Portuguesa e ensinou em universidades europeias e africanas. Organizou os congressos internacionais sobre a Guerra Colonial (Instituto de Defesa Nacional, 2000) e a Guerra do Ultramar (Fórum Cultural do Seixal, 2001). Sobre o conteúdo do livro, Rui de Azevedo Teixeira deixa no ar: “Será Vila Velha do Mar a Póvoa ficcionada? E qual é a aldeia? E as personagens da vila e da aldeia, transfigurados pela ficção, serão alguns dos professores e estudantes do Liceu do fim dos anos 60 ou princípios de 70? São reconhecíveis? O jogo literário de quem é quem puxa pelas memórias saudosas dos leitores”, explica.

É um romance singular no amplo contexto da literatura da guerra colonial este "O Elogio da Dureza", Gradiva Publicações, 2021. Paira a sombra da autobiografia, o rasgar da intimidade de alguém que descobre que é filho ilegítimo de pai incógnito. Sabemos que na juventude muito leu, autores de diferentes proveniências e que cedo começou a escrever um diário incerto, mau aluno até chegar ao fim do Liceu, aí desabrochou; os estudos em Coimbra não o mobilizaram, Paulo de Trava Lobo Ferreira oferece-se como voluntário, lega-nos páginas manuscritas onde fala do padrasto, gente com quem se relacionou, as obras que leu. Salta no tempo, já regressou da guerra em Angola, onde viveu o último capítulo.

“Vivia entre dois tempos e dois espaços, entre o recentíssimo passado angolano e o presente português. Um tempo misturado em que a componente angolana dominava. Mesmo com as obsessivas leituras, mesmo com o processo revolucionário em curso, ainda assim eram as recordações de Angola que mais lhe ocupavam a cabeça. Pensou até em voltar lá como mercenário, numa empresa de um almirante comunista, para lutar pelo MPLA. Um mercenário marxista leninista?! Baralhado, largou a ideia, substituindo-a por outra, por uma vida também dedicada à violência”.

Os problemas familiares acentuam-se, reencontra-se com gente dos Comandos, convém não esquecer que estamos perante um oficial Comando, com prestação assinalável na contraguerrilha. E de novo regressamos a Luanda, salto diacrónico, Paulo está a chegar à guerra, fala-nos do violentíssimo curso de Comandos, provas brutais, tudo minuciosamente contado para se perceber como se cria um militar disciplinado, uma máquina de combate. Nos momentos de ócio, desce até à cidade de Luanda, anota o seu fervilhar:
“Circulavam miúdas e miúdos pretos com olhos brilhantes como refletores e sorrisos imensos. A estragar a alegria do quadro, os pretos descalços e os pretos de calções e os pretos de roupa rota e os pretos servis e os pretos com medo. Mas havia também um ou outro preto bem vestido e integrado no sistema colonial. E tropa e mais tropa. Soldados da pacaça em grupos de três e quatro, sem aprumo, com mal ajangadas fardas número dois e até com camisas de camuflado. E, de vez em quando, passavam os raros e orgulhosos Comandos de farda número dois, com cinturão, crachá ao peito e dístico no ombro esquerdo, calças e camisa de manga curta bem passadas e as mãos atrás das costas”.

Fala-se de comezainas, de sexo, caminhamos para a vida operacional, já temos os Comandos formados. Volta-se inopinadamente ao processo revolucionário, sabe-se que Paulo detesta os comunistas e esquerdistas e dentro deste processo diacrónico voltamos ao Paulo operacional, e aqui o autor esmera-se, a partir do Luso entramos diretamente na Operação Empurra Tudo, vamos assistir a homicídios com faca, escalpes, chegou a hora do puro horror: “Meteu então a faca na barriga do velho e fê-la girar lá dentro como o corno do motor numa colhida. O velho gritou. Paulo e Ferro viraram-se e ainda o viram a ser degolado. O meio bóer deu um pontapé no cadáver fresco do velho, antes de se dirigir para a bicicleta. Enlouquecido de violência, esfaqueou o selim, os pneus e até o farol. Paulo viu, então, junto a uma árvore, sentado, imóvel, uma mulher com um bebé que mamava regaladamente. Ambos miraculosamente ilesos. Paulo ordenou a Ferro que acabasse com os feridos graves. Antes da saída do quartel, tinha visto o furriel a raspar a ponta das balas no chão de cimento à entrada da secretaria. Em segundos, três tiros. As balas atravessaram as cabeças aos trambolhões e saíram levando pedaços de cada uma. Miolos à mostra”.

A operação prossegue, dão-se mais tiros de misericórdia a moribundos, descobrimos que há uma ética: “Os Comandos não abandonavam inimigos feridos. Deixados vivos, ficariam a morrer aos poucos, gritando de dor, antes de serem comidos e passados a esqueleto e a fezes de animais”. Havia, pois, tiros de misericórdia. Entre as operações Paulo leva uma rica vida com a amante e a criada da amante, tudo isto na zona militar leste. Ficamos a saber que nas dez operações dos primeiros quatro meses o corpo de combate de Paulo e os vinte e cinco mortos confirmados. Por vezes as coisas correm para o torto, mas mata-se muito mais do que se sofre. Mas Paulo está a mudar. “Paulo começava a dividir-se, a cindir-se mesmo, entre o idealismo imperial e a justiça histórica. Amava criticamente a História de Portugal e o Império, mas os angolanos já eram crescidos, tinham todo o direito a sair de casa. Todo o direito a serem independentes”. Do Leste irá partir para outro local, o Mayombe, mas, entretanto, damos outro salto diacrónico, voltamos ao processo revolucionário em curso, virá o 25 de novembro, Paulo volta aos estudos, torna-se bacharel, percorrerá vários lugares a dar aulas.

"O Mayombe, floresta equatorial ainda mais impenetrável do que as florestas tropicais, era o absoluto oposto à que agora parecia a Paulo a simpática savana”. Numa operação descobre-se um depósito de armamento, Paulo não sentiu orgulho, apenas sorte, e depois vem o grande combate, o inimigo atacava, eram da FLEC. “Chamou a atenção de Paulo um carregador furado e um cadáver de barriga para baixo. Pegou no carregador e foi tirando as balas. Encontrou o que procurava – a bala furada por uma bala dos Comandos. A bala da G3 acertara em cheio fazendo um buraco perfeito no cartucho da bala de Kalashnikov. Paulo guardou a bala furada, passou a ser o seu talismã”.

Veio o 25 de Abril, o bacharel irá fazer mais estudos, o professor Paulo Lobo tem destino universitário. De novo saltamos para o fim da guerra, quando ele se encontrava especificamente em pré-desagregação, regressa à pátria. Toda esta noite interior parece chegar à irradiação da luz, conhece o amor, dá-se a doce domesticação de Paulo, é já assistente estagiário do porto e acaba por descobrir, graças à mulher, que era filho de sangue do capitão Antero Gomes Ferreira. Não fica contente com aqueles pais que nunca se interessaram pelo seu sofrimento. E decidiu nunca mais voltar a falar com os pais. É uma irradiação de luz feita de trevas. Romance singular, está comprovado, percebe-se este elogio da dureza, é memória que não se apaga, talvez por isso a catarse da escrita, de indiscutível qualidade.

____________

Nota do editor

Último poste da série de 7 DE AGOSTO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24538: Notas de leitura (1604): Uma nova biografia de Amílcar Cabral, de Peter Karibe Mendy (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 23 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24426: In Memoriam (480): Carlos Nuno Carronda Rodrigues (1948-2023), ex-alf mil, CCAÇ 6 (Bedanda, 1970/72), cor inf ref... Passa a integrar a título póstumo a Tabanca Grande, sob o n.º 876


Tabanca da Linha > Carcavelos > Hotel Riviera > 21 de janeiro de 2016 > Carlos Nuno Carronda Rodrigues, cor inf 'cmd'  (1948 - 2023).  

Foto (e legenda): © Manuel Resende (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné > Região de Tombali > Bedanda  CCAÇ 6 (ex-4ª CCAÇ) (1964/74) > Guião das "Onças"  cuja lema era  "Aut vincere aut morire" [Vencer ou morrer].

Foto: © Amaral Bernardo (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

 Carlos Nuno Ca

Mealhada > Pedrulha > Restaurante "A Portagem" > 9 de junho de 2012 > 2 .º Encontro Nacional "Onças Negras de Bedanda",  CCAÇ 6 > Uma foto histórica: da esquerda para a direita, o ex-cap inf  Aurélio Manuel Trindade (hoje ten gen ref), o último cmdt da 4.ª CCAÇ e o primeiro da CCAÇ 6 (1965/67), o Lassano, o Rui Santos, Amará e ex-alf mil Carronda Rodrigues (cor cmd ref).

Foto (e legenda: © António Teixeira, "Tony" (2012). Todos os direitos reservados. [ Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Amadora >  Venda Nova > Restaurante O Gomes, às portas de Benfica > 19 de dezembro de 2013 >  Almoço de Natal dos bedandenses do sul, com homenagem ao  Tony Teixeira  (António Henriques Campos Teixeira, 1948-2013) > Em primeiro plano, o cor Carronda Rodrigues. (que andou a pisar a bolanhas de Bedanda como alferes miliciano) e a esposa a Manuela Carronda Rodrigues.

Foto: © Manuel Lema Santos (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, com a ajuda  do Hugo Moura Ferreira]

Oeiras > Algés > 21 de julho de 2016 > Restaurante Caravela de Ouro> 26.º convívio da Magnífica Tabanca da Linha > Caras conhecidas: Carlos Carronda Rodrigues, cor ref  e esposa Manuela (Alguerião)

Foto: © Manuel Resende (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] 

Tabanca da Linha > 34.º Almoço-convívio > Algés > Restaurante "Caravela de Ouro" > 16 de novembro de 2017 > 73 camaradas e amigos/as compareceram à chamada e desta vez bateu-se o recorde de inscrições e presenças... A localização do restaurante (Algés) e a ementa (cabrito no forno...) também ajudaram. Na foto, o Carlos Carronda Rodrigues, cor cmd ref, e a esposa., Manuela. O casal vive em Algueirão.

Fotos (e legendas): © Manuel Resende (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Morreu no passado dia 21, o nosso camarada Carlos Nuno Carronda Rodrigues, ex-alf mil, da CCAÇ 6, "Onças   Negras", Bedanda, 1970/72, cor cmd ref (*). Tinha 75 anos.

Sobre ele escreveu, ontem, na página do Facebook da Magnífica Tabanca da Linha, o Manuel Resende,  respetivo régulo e administrador:

(...) O Sr. Coronel Carronda Rodrigues foi quem colocou a medalha de ex-Combatente ao Diniz Souza e Faro, numa cerimónia em Comandos de Carregueira.

Já nos conhecíamos dos convívios, e fiquei muito satisfeito quando ele, sabendo que eu estava a filmar, me veio dar um grande abraço. São coisas que não podemos esquecer.

O Sr. Coronel Carronda Rodrigues veio a 11 convívios da Magnífica Tabanca da Linha, e sua esposa D. Manuela participou em 6 com o marido.

O 1.º Convívio em que o Sr. Coronel participou foi o n.º 22 em Oitavos, em 19-11-2015. O 1.º em que a D. Manuela o acompanhou foi o n.º 24 em 17-03-2016 em Oitavos. O último em que a esposa o acompanhou foi o n.º 34 em Caravela de Ouro em 16-11-2016.

O último convívio do Sr. Coronel foi o n.º 44 em 25-07-2019 em Caravela de Ouro – Algés. (...)

(Negritos nossos: editor LG)

2. Mais elementos, segundo nota biográfica disponibilizada pelos nossos camaradas do portal UTW - Dos Veteranos da Guerra do Ultramar

(i) nasceu em 2 de maio de  1948,  em Castelo Branco;

(ii) Foi mobilizado para o CTIG, de 15 de janeiro de 1970, como alf mil,  em rendição individual, para a  CCAÇ 6 (Bedanda, 1970/72);
 
(iii) em 1 de setembro de 1973, foi  colocado na Escola Prática de Infantaria (EPI, Mafra)  como tenente QEO (Quadro Especial de Oficiais);

(iv) em 26 de setembro de 1974 foi transferido para o BCmds 11, Amadora;

(v) em 12 de Maio de 1975 foi promovido a capitão ‘comando’ do Regimento de Comandos, Amadora;

(vi) no período 1993-1995, foi promovido sucessivamente a major e tenente-coronel no Regimento de Infantaria de Angra do Heroísmo.

(vii) em 2005, alcançou o posto de coronel de infantaria, do Quadro Especial de Oficiais (QEO) Infantaria ‘Comando’, sendo cmdt da Unidade de Apoio da Área Militar Amadora-Sintra;

(viii) em 3 de maio de 2009, na situação de reserva, cessa funções na Comissão para o Estudo das Campanhas de África (CECA) da Direcção de História e Cultura Militar (DHCM) do Estado-Maior do Exército (EME).


3. Como nos lembra o Virgínio Briote  (poste P4014, de 11 de março de 2009),  o cor cmd Carronda Rodrigues foi o coautor (juntamenmte com o cor cmd José Castelo Glória Alves e o cor cmd Horácio Silva Ferreira) do 14.º Volume (Comandos), Tomo I (Grupos iniciais), da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974), Edição do Estado-Maior do Exército / Comissão para o Estudo das Campanhas de África, Lisboa, 20009.

Em resumo: Carronda Rodrigues não só foi combatente na Guiné, um "onça negra", como participou nas nossas tertúlias e convívios, e deu, ainda, um valioso contributo para a preservação e divulgação das nossas memórias... 

Por todas estas razões, e sob minha proposta, o camarada Carronda Rodrigues passa integrar, a título póstumo, a Tabanca Grande, sob o n.º 876 (**), seguindo-se à Inês Allen. Infelizmente não temos ainda nenhuma foto dele no CTIG. À viúva, a nossa amiga Manuela, com quem convivemos na Tabanca da Linha, e demais família, apresentamos as condolências da Tabanca Grande.
____________

Notas do editor:

(*) Último poste da série >  11 de junho de 2023 > Guiné 61/74 - P24389: In Memoriam (479): António Branquinho (1947-2023), ex-fur mil, Pel Caç Nat 63 (Fá e Missirá, set/69 - out/71)... Nosso tabanqueiro desde 24/9/2010, era irmão do advogado e escritor Alberto Branquinho, também ele membro da nossa Tabanca Grande

(**) Último poste da série > 1 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24275: Tabanca Grande (549): As "fotos da praxe" do cor inf ref Mário Arada Pinheiro, que completou 90 anos em 12/12/2022... Foi 2.º cmdt do BCAÇ 2930 (Catió, 1971/73) e Cmdt do Comando Geral de Milícias (1973)

Vd. também poste de 27 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24259: Tabanca Grande (548): Inês Allen, senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar n.º 875... Voltou a Empada, 17 anos depois, para cumprir a última vontade do pai, Xico Allen, entregar ao clube de futebol local, "Os Metralhas", o emblema da divisa da CCAÇ 3566 (Empada e Catió, 1972/74)

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2023

Guiné 61/74 - P24046: Efemérides (381): Os 60 anos da formação dos primeiros Comandos, em Zemba, Angola... Convite para a sessão solene comemorativa do encerramento das Comemorações, no auditório do Instituto de Defesa Nacional, Lisboa, 15/2/2023, 17h00 (Associação de Comandos)



1. Convite que nos chegou ontem por intermédio do cor inf ref Manuel Bernardo, com uma mensagem da Associação de Comandos (Delegação de Lisboa), que é do seguinte teor:

De: Associação de Comandos Delegação de Lisboa <associacao.comandos.lisboa@gmail.com>
Date: segunda, 6/02/2023 à(s) 11:40
Subject: Convite

Caros Sócios, Companheiros e Amigos,

Anexo convite para a sessão solene do 60º aniversário da formação dos primeiros Comandos em Zemba.

Mama Sume
Jaime Silveira

2. Chama-se a atenção para os nossos camaradas que queiram comparecer a esta sessão solene, que deve ser dada, até ao dia 10 do corrente, a  confirmação de presença,  para estes contactos;

Telf: 21 353 83 73 

Tlm: 926 991 129

email: associacao.comandos.dn@gmail.com
__________

Nota do editor:

terça-feira, 26 de julho de 2022

Guiné 61/74 - P23461: Blogues da nossa blogosfera (169): O blogue de Alberto Hélder, antigo árbitro de futebol, e que fez a comissão de serviço militar em São Tomé e Príncipe (1964/66): destaque para as séries já concluídas: A Polícia Militar no Ultramar, Os Comandos nos três teatros de operações da guerra do ultramar; o Estado da Índia - 466 anos de história... E para a série em curso, As Companhias Móveis de Polícia

1. O blogue "Alberto Helder" foi criado em agosto de 2007,  por Alberto Hélder (nascido em Lisboa, em 1942). É um conhecido antigo árbitro de futebol.  Fez o serviço militar no Comando Territorial Independente de São Tomé e Príncipe, como Soldado e depois 1.º Cabo de Transmissões de Infantaria, entre junho de 1964 a junho de 1966. 

"Blogar" é agora das suas paixões, depois de reformado. O seu blogue tem uma  exaustiva investigação sobre os Comandos na guerra do Ultramar (série iniciada em 15 de dezembro de 2019): sua composição orgânica, lista das principais operações, condecorações e louvores, mortos e feridos, incluindo os fuzilados pelo PAIGC a seguir à independência, no caso do Batalhão de Comandos Africano, etc. (*)

Tem outras séries que podem interessar os nossos leitores tais como a Polícia Militar no Ultramar...

É de  referir, no entanto, que a "navegação" neste blogue blogue não é amigável, não havendo links de ligação entre os diferentes postes. É,  em todo o caso, um trabalho de grande mérito, que merece o nosso aplauso e apreço.(**)
 

2. Mensagem de Alberto Hélder, de 25  do corrente, às 18h56, e dirigida ao nosso camarada Virgílio Teixeira, com conhecimento ao nosso blogue:

Exmº Senhor
Virgílio Teixeira

Ilustre! Boa tarde.

Muito, mas muito feliz fiquei com a sua mensagem e as excelentes imagens, nalgumas delas com o tema que estou a trabalhar: a Polícia! (***)

Portanto, aqui fica o meu profundo e sentido agradecimento pela valiosa e importante colaboração no projeto “As Companhias Móveis de Polícia no Ultramar”.

Quanto ao título que adotei para o tributo àqueles que tudo deram em Goa, Damão e Diu, fui buscá-lo aos primórdios da sua designação pelos portugueses àquele território, lá bem longe… Não existe outra razão.

Devo dizer que tal empreendimento é dedicado ao meu irmão (Fernando Plácido Henrique dos Santos: 18.09.1939/04.11.2002), que foi um dos soldados prisioneiros, aquando da invasão de 18 de dezembro de 1961.

Quanto ao resto resta-me destacar o muito material que me enviou, assim as amáveis palavras que me dedica, que muito agradeço.

Entretanto, caso seja de interesse, divulgo a seguir os trabalhos que, até agora, publiquei no meu espaço na net, podendo aceder em:

A POLÍCIA MILITAR NO ULTRAMAR

130 episódios – de 15 de maio de 2107 a 4 de setembro de 2017

http://albertohelder.blogspot.com/2017/05/tributo-policia-militar-apresentacao-do.html

OUTRAS UNIDADES MILITARES QUE SERVIRAM SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

32 episódios – de 29 de novembro de 2018 a 29 de janeiro de 2019

 http://albertohelder.blogspot.com/2018/11/unidades-militares-que-serviram-na.html


OS COMANDOS NOS TRÊS TEATROS DA GUERRA DO ULTRAMAR

201 episódios – de 15 de dezembro de 2019 a 28 de maio de 2021

 http://albertohelder.blogspot.com/2019/12/os-comandos-nos-tres-teatros-da-guerra.html


MILITARES FALECIDOS NO COMANDO TERRITORIAL INDEPENDENTE DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE

1 episódio – em 3 de janeiro de 2021

http://albertohelder.blogspot.com/2021/01/militares-falecidos-na-entao-provincia.html


ESTADO DA ÍNDIA – 466 ANOS DE HISTÓRIA

66 episódios – de 27 de setembro de 2021 a 25 de junho de 2022

http://albertohelder.blogspot.com/2021/09/estado-da-india-466-anos-de-historia.html

Saudações de apreço, consideração e respeito.
Alberto Helder
___________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 10 de junho de 2021 > Guiné 61/74 - P22271: Blogues da nossa blogosfera (161): Os Comandos nos Três Teatros da Guerra do Ultramar (1961/75) (Alberto Helder)


Vd. também postes de:

24 de julho de 2022 > Guiné 61/74 - P23458: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (94): A sede da PSP e 7ª Companhia Móvel de Polícia era no bairro de Bandim (José L. S. Gonçalves / Amílcar Mendes / Carlos Pinheiro / Valdemar Queiroz / Virgílio Teixeira)

24 de julho de 2022 > Guiné 61/74 - P23456: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (93): (i) A 7.ª Companhia Móvel de Polícia atuava também fora de Bissau? (ii) Onde se situava, em Bissau, a sede ou o aquartelamento principal da PSP? (Alberto Helder)

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22271: Blogues da nossa blogosfera (161): Os Comandos nos Três Teatros da Guerra do Ultramar (1961/75) (Alberto Helder)

 
Imagem: Alberto Helder, com a devida vénia


1. Mensagem do nosso leitor,  camarada e "blogger", Alberto Helder.

 [O seu blogue, "Alberto Helder", foi criado em agosto de 2007; fez o serviço militar no Comando Territorial Independente de São Tomé e Príncipe, como Soldado e depois 1.º Cabo de Transmissões de Infantaria, entre junho de 1964 a junho de 1966; tem exaustiva investigação sobre os Comandos na guerra do Ultramar (série iniciada em 15 de dezembro de 2019), a par da Polícia Militar (com 121 unidades): sua composição orgânica, lista das principais operações, condecorações e louvores, mortos e feridos, incluindo os fuzilados pelo PAIGC a seguir à independência, no caso do Batalhão de Comandos  Africano; refira-se que a "navegação" no blogue não é amigável, não havendo links de ligação entre os diferentes postes; em todo o caso, é um trabalho de grande mérito, que merece o nosso aplauso e apreço.]  

Date: sexta, 28/05/2021 à(s) 02:57
Subject: Os Comandos nos  Teatros da Guerra do Ultramar 

Exmª Senhora ou Exmº Senhor

Com os melhores cumprimentos e com imensa satisfação que dou conta ter concluído, hoje, o projecto acima referido, após 530 dias do primeiro tema publicado, que ocorreu em 15 de dezembro de 2019. Este empreendimento estava previsto concretizar num espaço de cinco anos (1826 dias), mas, uma das consequências da crise epidemiológica que nos afeta gravemente, deu para reduzir substancialmente a planificação.

Entretanto, avanço já com os sinceros e profundos agradecimentos às entidades, seus responsáveis, representantes e colaboradores, dado que, sem a sua valiosa ajuda, importante e imprescindível não seria possível concretizar esta tarefa, inédita e histórica.

Eis os signatários: 

  • Associação de Comandos, Arquivo da Defesa Nacional, 
  • Arquivo Geral do Exército, 
  • Arquivo Histórico-Militar, 
  • Biblioteca da Defesa Nacional, 
  • Biblioteca do Exército, 
  • Biblioteca da Liga dos Combatentes, 
  • Câmara Municipal de Lamego, 
  • Câmara Municipal de Tarouca, 
  • CAVE-Centro de Audiovisuais do Exército, 
  • CECA-Comissão para o Estudo das Campanhas de África (Estado-Maior do Exército) (já extinta), 
  • Cinemateca Portuguesa-Museu do Cinema, IP, 
  • CTOE-Centro de Tropas de Operações Especiais, 
  • Direção de Administração dos Recursos Humanos do Exército (Ordem do Exército), 
  • Direção de História e Cultura Militar, 
  • Hemeroteca Municipal de Lisboa, 
  • Liga dos Combatentes, 
  • Radio e Televisão de Portugal, SA, 
  • Regimento de Artilharia Antiaérea 1 
  • e Regimento de Comandos.

Naturalmente que o reconhecimento é extensivo a todos aqueles a quem contatei para saber mais e melhor, especialmente junto do saudoso, leal e sempre pronto e prestável Amigo José Manuel Pinto Gomes (27.05.1951/07.01.2021), colaborador da Associação de Comandos, que muito pugnou para que este projeto tivesse o desejado êxito, razão, porque todo este trabalho é-lhe dedicado, pelo merecimento e em sua memória. 

Contudo, a todos, sejam coletivos ou individuais, o meu bem haja, extensivo, como se compreende, aos 40.430 visitantes que fizeram o favor de ir acompanhando e visualizando o trabalho através do blog!

Foi, sem dúvida, para mim, uma agradável tarefa desenvolver esta iniciativa, a qual foi por mim idealizada, planeada, produzida e publicada, a tempo e horas e sem qualquer falha, no meu espaço na Net (http://albertohelder.blogspot.com/), e que se resume em: 

  • 25 séries; 
  • 201 episódios;
  • 2.483 imagens;
  • 10.588 militares mobilizados para África; 
  • 14.966 instruendos frequentaram os cursos da especialidade;
  • 425 óbitos; 
  • 530 condecorações para 412 galardoados;

 entre outros temas que marcaram a vivência dos Comandos naquele confronto.

Recordo que também fui o autor de dois outros trabalhos idênticos, isto é, relacionados com aquele conflito armado, como a coleção "A Polícia Militar no Ultramar", que abrangeu a sua participação em:

  • 131 episódios, referentes às 121 unidades que estiveram em: 
  • Angola (42), 
  • Cabo Verde (12), 
  • Guiné (16), 
  • Macau (8), 
  • Moçambique (21), 
  • São Tomé e Príncipe (15), 
  • e Timor (7); 
  • ilustrados com 2197 imagens; 
  • 11.071 os militares mobilizados para o Ultramar; 
  • 48 óbitos 
  • e 33.515 visualizações. 

Trabalho publicado no mesmo local de 15 de maio de 2017 a 10 de agosto de 2019.

E da colectânea "Outras Unidades que Serviram no Comando Territorial Independente de São Tomé e Príncipe", e "Militares Falecidos em São Tomé e Príncipe", entre 1961 e 1977, onde se destacaram: 

  • 34 episódios; 
  • 31 Unidades militares;
  • 34 imagens; 
  • 2.659 militares; 
  • 15 óbitos; 
  • e 5.948 visualizações. 

Também dado a conhecer no blog, de 29 de novembro de 2018 a 29 de janeiro de 2019.

 Há que dizer que estes desenvolvimentos não tiveram qualquer apoio monetário ou outro e, por mim, foram oferecidos, graciosamente, às 2 Associações das referidas forças militares, assim como os direitos de autor, se vierem a ser acionados. Uma delas já editou o trabalho em papel, tipo "Revista", publicando os contingentes que cumpriram a sua missão em São Tomé e Príncipe, Macau, Timor e Angola.

Para quem não sabe direi que, com 22 anos de idade, cumpri o serviço militar obrigatório no Comando Territorial Independente de São Tomé e Príncipe, de junho de 1964 a junho de 1966, como Soldado/1.º Cabo de Transmissões de Infantaria,  experiência que me ajudou na execução destas tarefas, contribuindo, assim espero, para destacar e registar temas de relevante interesse para memória futura e para o conhecimento geral do que foi a Guerra do Ultramar.

Resta acrescentar a informação que a documentação que serviu de suporte ao tema "Os Comandos nos Três Teatros da Guerra do Ultramar", irá ser entregue na Associação de Comandos, cumprindo o prometido, para que as inúmeras fotocópias, dados e gráficos, assim com as largas centenas de fotografias e imagens, estejam disponíveis a quem desejar continuar a saga, com novas ideias e trabalhos sobre a vivência dos Comandos em terras de África.

Finalmente: o meu próximo passo, a aventura que se segue, a qual está prevista realizar em dois anos:

 "Estado da Índia, 463 anos de história".

Saudações de apreço, consideração e respeito.

 Alberto Helder

 ____________

Nota do editor:

Último poste da série > 9 de junho de 2021 > Guiné 61/74 - P22266: Blogues da nossa blogosfera (160): Vida e morte do capitão Sebastião Roby (Braga, 1883 - Angola, 1915) (Excerto de "O sal da história", de Cristiana Vargas)