terça-feira, 18 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17598: Estórias do Zé Teixeira (45): O Valente, um homenzarrão, com um coração tão grande quanto o seu físico (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf)

Levantamento de mina antipessoal. Foto: © António Inverno (2010).


1. Em mensagem do dia 13 de Julho de 2017, o nosso camarada José Teixeira (ex-1.º Cabo Aux Enf da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), enviou-nos mais uma das suas estórias com dois protagonistas, o Jorge e o Valente, com sortes diferentes na guerra e na paz.


ESTÓRIAS DO ZÉ TEIXEIRA

45 - O Valente

Mina! - Gritou. - Mina!
Ouve-se quase em simultâneo.

Os picadores aninham e aguardam. O resto do pessoal da coluna, uns deitam-se na berma da estrada em construção, outros, baixam-se expectantes. Numa fração de segundos, o inimigo abre fogo cerrado sobre a frente da coluna. Estava acoitado na mata esperando que uma A.P. que tinha colocado no terreno, um pouco mais atrás bem dissimulada, junto a um tronco de palmeira na berma da estrada, desse sinal de vida. Era junto a ela que iam passar os soldados de proteção à coluna. Seria o momento mais oportuno para abrir as hostilidades, dada a confusão que provocaria. O Inimigo sabia que esta mina facilmente escaparia ao apertado controlo dos picadores pelo local onde fora colocada, no topo do tronco ali perdido, desde que fora arrancado à terra para dar lugar à estrada. Esta maldita esperava silenciosa, enquanto o matraquear das armas e os rebentamentos das granadas se faziam sentir. Os “picadores” como que voaram por cima do campo de minas e estatelaram-se na berma. Tiveram sorte.

De repente fez-se silêncio. Aquele silêncio angustiante para o enfermeiro que aguarda temerosamente ser chamado para acudir aos feridos. Basta um eco de dor e lá vai ele em passo ligeiro, na sua missão de salva vidas, sem olhar a riscos. É o sangue que o chama. É o seu sangue que o impele. Não pensa, corre. Age de forma um tanto inconsciente. Sabe que pode salvar uma vida, duas... esquece a sua própria vida.

Não. Não havia feridos. Apenas silêncios e ouvidos atentos. Olhares cruzados assustavam os medos, enquanto o furriel sapador iniciava o seu trabalho de localização e levantamento das assassinas, ali espalhadas no terreno e eram sete.

Um pouco à frente, nota-se a terra remexida. Centram-se aí os olhares, enquanto se espera a ordem do sapador para avançar. Que será? Talvez um cemitério. Quatro cruzes artesanais estavam bem à vista em plena estrada, por onde se tinha passado no regresso do dia anterior. Não era um cemitério, não. Era um simulacro de cemitério com uma mensagem – Branco vai embora se não queres que te aconteça isto!

O tempo passa lentamente, irritantemente. Nada sucede. Apenas o silêncio daqueles olhos focados no sapador que nunca mais acaba de desenterrar a morte escondida. Era um homem calmo e sereno, nervos de aço, olhar de águia, dedos de sensibilidade extrema. Tinha o seu destino na ponta dos dedos. Lentamente, seguramente, uma a uma... queria vencer mais esta batalha com a morte. É então que o Jorge se levanta do seu lugar e palmilha o troco da palmeira, chegando-se um pouco à frente para ver melhor. Não havia perigo. O inimigo afastara-se. As minas estavam no meio da estrada, bem localizadas...

Mas aquela, oculta mesmo no topo da palmeira mantinha-se silenciosamente expectante. Arreganhou os dentes quando o Jorge a pisou fazendo estremecer os corações dos homens, tanto quanto a terra que a acolheu. Pum!!!!!!!

O Jorge foi atirado para o meio da estrada deixando uma perna pelo caminho. Não gritou. Apenas ficou atónito a olhar para si, todo sujo de pó, sem saber o que lhe aconteceu. O sangue, esse escorria pela perna fora e perdia-se na terra remexida de fresco.

Corre enfermeiro que a uma vida está em perigo! Estava ele tão bem recostado no tronco de uma árvore à espera que o tempo passasse, de olho atento ao sapador.
- Só me faltava esta. - Comentou o enfermeiro e aproximou-se do ferido.

O Jorge, no meio da estrada, agora sim, a gemer de dor, não da perna, mas na alma, ao verificar que algo lhe faltava para ser o Jorge. Veio-lhe à mente, ainda confusa, a imagem da Catarina, a noiva a quem prometera fidelidade. Eram uns românticos que o afastamento da guerra não conseguia vencer. Escrevia-lhe todos os dias e recebia “toneladas” de aerogramas no dia do correio. Agora, já não era o seu Jorge. A guerra apossara-se dele de forma inglória. Ela não ia aceitar um Jorge estropiado. Para quê viver. E o Jorge chorou de mágoa.

O enfermeiro chegou num ápice. Viu o Jorge no meio da estrada, mesmo ao lado das minas que o sapador teimava em levantar. O Jorge, as minas e o enfermeiro travaram um diálogo surdo.
- Vou buscá-lo, arrastá-lo para a berma?! Não haverá mais minas?! Trato-o mesmo ali?! - Interrogava-se o enfermeiro enquanto abria a bolsa e procurava o material de apoio. E o Jorge gemia. Gemia na alma e no corpo dorido, esfacelado...

Foi então que o Valente, um homenzarrão, com um coração tão grande quanto o seu físico, agarrou no enfermeiro pelo braço e disse com voz de comando.
- Vamos buscá-lo!
E foram. E trouxeram-no para a berma.

Este Valente, já não está entre nós, a morte apossou-se dele há menos de um ano.
O Jorge casou com a Catarina e ainda hoje são um casal feliz.

José Teixeira
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16914: Estórias do Zé Teixeira (44): A “puta” passa o seu tempo à sombra do cajueiro, junto à porta do Comando (José Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf)

Guiné 61/74 - P17597: Agenda cultural (575): Leiria, Biblioteca Municipal, sarau literário, comemorativo dos 100 anos do nascimento do capitão e escritor Manuel Ferreira (1917-1992)


O convite chegou-nos pela mão do nosso camarada, amigo e colaborador permanente, com raízes familiares em Leiria, o José Marcelino Martins. Faz anos cem anos que nasceu o capitão e escritor Manuel Ferreira (1917-1992) (*) , autor de "Morna" (1948), "Hora di Bai" (1962) (**).


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Notas  do editor:


(**) Vd. poste de 12 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17571: Agenda cultural (572): Exposição "Manuel Ferreira, capitão de longo curso", Museu Malhoa, Caldas da Rainha. Convite para a inauguração, no próximo dia 22 de julho, sábado, às 15h00 (João B. Serra, comissário)

Guiné 61/74 - P17596: Historiografia da presença portuguesa em África (81): Quem foi Abdul Injai, companheiro de armas do capitão Teixeira Pinto, nas 'campanhas de pacificação' de 1913-1915, e por ele promovido a Tenente de 2.ª linha, régulo do Oio e do Cuor?... Herói ou vilão? Mercenário ou nacionalista? Aliado ou inimigo? Cabo de guerra ou bandido?


Foto de Abdul Injai em 1915, herói do Oio, no auge da sua glória. 


1. O nome do "lendário" e "controverso" Abdul Injai, "companheiro de armas" do capitão Teixeira Pinto (1913-1915), tem aparecido aqui, amiudadas vezes, nos últimos tempos, a propósito quer da divulgação do livro "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é hoje", da autoria do 2.º sargento reformado António dos Anjos (edição de autor, impresso na Tipografia Académica, Bragança, 1937), quer da publicação das notas de leitura do livro do nosso grã-tabanqueiro Armando Tavares da Silva , “a Presença Portuguesa na Guiné: História Política e Militar 1878-1926” (Porto, Caminhos Romanos, 2016).

Afinal, quem foi Abdul Injai (ou Indjai ou Njai), nascido no que é hoje o território do Senegal, de etnia uolofe,  muçulmana (, etnia maioritária do Senegal atual)? Herói ou vilão? Mercenário ou nacionalista?  Aliado ou inimigo?  Cabo de guerra ou bandido? Alguns guineenses não hesitam em pô-lo hoje  na galeria dos seus  heróis, nacionalistas, ao lado dos "combatentes da liberdade da pátria".

Sabe-se que em 25 de novembro de 1914, Abdul Injai, já régulo, foi nomeado tenente das forças de 2.ª linha "por ter dado sempre sobejas provas de sua dedicação ao Governo e manifestado a mais heróica valentia", como "chefe indígena", nomeadamente na campanha do Oio, sob o comando do capitão Teixeira Pinto.

Cinco anos depois, ele cai em desgraça, por alegadamente ter usado e abusado do poder como régulo do Oio e do Cuor. Em 8 de julho de 1919, foi declarado o estado de sítio nas regiões de Bissorã e Farim, em virtude de Abdul Injai se recusar a acatar as ordens do Governo. Um mês depois, a 16 de agosto, é preso em Farim, depois de se entregar às forças do Governo.

Acaba por ser destituído dos seus cargos e deportado para a Madeira, por 10 anos, mas morre em Cabo Verde. Faltam-nos também pormenores sobre esta parte final da vida do Abdul Injai.
Aqui ficam alguns excertos, recolhidos tanto no nosso blogue como noutras fontes da WEB. Os títulos e a fixação de texto são da responsabilidade do nosso editor LG. (*****)


(i) Abdul Injai, o maior herói-vilão da Guiné Portuguesa

por Mário Beja Santos (*)

Nenhuma outra figura guineense do período colonial se revelou tão paradoxal, suscitou tanta paixão nas admirações e ódios, sobretudo no chamado período da «pacificação», que se estende até 1936.

Os relatos são muito contraditórios, é patente a falta de objectividade das diferentes fontes de exaltação e detracção. Abdul Injai era um djalôfo ( oriundo do Senegal, não da Gâmbia, como às vezes se lê), trabalhou como criado em Bissau e aparece em 1913 ao lado de Teixeira Pinto, na campanha do Oio, onde se distingue pela sua incontestável bravura. Acompanha Teixeira Pinto em novas surtidas, sobretudo em Bissau e arredores, é reconhecido como herói, à semelhança de Mamadu Sissé.

O prémio foi a sua nomeação para régulo do Oio e do Cuor, nesta última região terá tido um comportamento bárbaro, deu provas de saqueador e chefe de bando que praticava roubos abomináveis. Depois, começou a ser contestado no Oio pelas arbitrariedades, desafiou as autoridades de Bolama, o governador mandou uma coluna militar, em 1919, veio preso, foi desterrado primeiro para Cabo Verde, veio a morrer na Madeira.

O seu nome é referido como de combatente destemido que se corrompeu seduzido pelo oiro, por se ter posto à frente de rapinantes. Ele que garantira morrer a combater foi capturado e deixou-se levar como um qualquer preso de delito comum.

Lânsana Soncó, o almani de Missirá, foi a primeira pessoa que me falou da sua lenda. Prometo estudar melhor tão contraditória e paradoxal figura. (...)


(ii) Operações de polícia na área do comando militar de Bissorã e circunscrição civil de Farim em 1919

por José Martins(**)

Circunscrição de Farim – região do Comando Militar de Bissorã: Declaração do estado de sítio em Julho de 1919, em virtude de Abdul Injai, régulo de Oio, se ter declarado em aberta rebelião, depois de três anos de abusos de autoridade, situação que o governo desculpou, face aos significativos serviços prestados, pelo mesmo, a Portugal nos muitos combates que travou na Guiné, demonstrando uma valentia e lealdade ímpares

Pelos seus serviços a Portugal e à Guiné, foi promovido a Tenente de 2ª Linha, foi-lhe dado o regulado do Oio e, sendo chefe incontestado pela sua gente, foi um grande auxiliar do Capitão Teixeira Pinto e Tenente Sousa Guerra que, apoiado pelas suas gentes, auxiliou muito o governo da província a pacificar aquelas terras.

A causa próxima do estabelecimento do estado de sítio tem as suas origens em Abril de 1916, altura em que o régulo Abdul Injai começou, com prepotência, a aplicar multas aos chefes da povoações limítrofes das suas, fazendo exigências várias, entre as quais, trabalhar nas sua terras sem direito a qualquer pagamento.

Tendo em conta a sua “folha de bons serviços”, foi sendo aconselhado a alterar a sua posição, não só em relação à administração mas também em relação aos povos seus vizinhos. Estes avisos e/ou conselhos não só não surtiram efeito como agravaram a situação, o que levou Abdul Injai, em Abril de 1919, a atacar com a sua gente a povoação de Solinto-Tiligi e, em 29 de Maio do ano de 1919, apoderou-se das espingardas que a administração havia distribuído às populações do Cuor.

Como condição para proceder à devolução das armas, exigia uma indemnização de 40 contos, além da percentagem de 10% do imposto de palhota cobrado em Mansoa, Oio, Costa de Baixo e Bissau.
A aceitação destas condições colocaria, o governo da província, em situação de subalternidade, levaram à constituição de uma coluna de polícia que, em 3 de Agosto de 1919, entrou em combate com as forças revoltosos, tendo aprisionado Abdul Injai e os seus mais directos colaboradores, que foram desterrados para Cabo Verde.

Abdul Injai viria a falecer pouco tempo depois, terminando assim a vida de um aventureiro que prestou relevantes serviços à Guiné, mas também lhe criou grandes problemas, obrigando à adopção de medidas extremas para contrariar a sua atitude.

Nesta operação perdeu a vida o Alferes Afonso Figueira e 9 dos seus soldados.

Condensação de: José Marcelino Martins (**)


(iii) Abdul Injai, um herói guineense, ao lado de Amílcar Cabral  
por Fernando Jorge Pereira Teixeira (***)


(...) Temos até de acreditar, se preciso for, que o nosso povo é mais do que é. Temos que acreditar que é esse é o mesmo povo que gerou Abdul Injai, Unfali Soncó, Mussá Moló, Bacampolo-Có, Okinka Pampa, Honório Barreto, Amílcar Cabral, Domingos Ramos, Osvaldo Vieira, Simão Mendes, José Carlos Shwarz e tantos outros, poderá sublimar-se e superar a si próprio; e quem sabe se das dores dos morticínios, da guerra, dos golpes, e sofrimentos sem fim, não brotara do seio do povo Guineense uma nova plêiade de heróis. (...)


(iv) Abdul Injai, a conquista portuguesa e o levante de 1919 na Guiné-Bissau : manifestação pública de um discurso oculto

por Michelle Sost dos Santos (****)


(...) O presente trabalho tem como objetivo geral analisar as relações estabelecidas entre Abdul Injai - régulo das regiões do Cuor e Oio na Guiné - e os representantes portugueses dentro do contexto imperialista do início do século XX. Apesar de estarem em contato com os povos da Guiné desde o século XV, os portugueses não tinham domínio efetivo sobre a região. No entanto, a partir das transformações no sistema econômico ocidental e a sua necessidade de expansão, o continente africano foi invadido por uma onda imperialista, que resultou na disputa entre os países europeus sobre os seus territórios. Dessa forma, Portugal viu-se obrigado a efetivar seu domínio sobre a região da Guiné. No entanto, é impossível falar de dominação, sem falar de resistência, e é esse o objetivo principal desse trabalho. As ofensivas portuguesas foram ferozmente combatidas pelos diferentes povos da Guiné, o que retardou por quase um século a implantação do sistema colonial nessa região.

O caso de Abdul Injai não se enquadra nesses modelos tradicionais de resistência, e por isso, faremos distinção entre dois momentos em sua atuação: no primeiro, enquanto chefe de um exército de mercenários e agindo em prol de seus interesses, ele estabelece aliança com as forças portuguesas. Através do discurso público de combate aos povos locais, ele afirma seu poder na região e garante suas nomeações de régulo do Cuor e do Oio. No entanto, a condição de régulo não estava de acordo com o poder que Abdul almejava, pois conotava submissão à administração colonial portuguesa. Dessa forma, o seu segundo momento de atuação que é o levante de 1919, além de ser uma resistência armada evidente ao sistema colonial, é a confirmação de que as suas ações anteriores não visavam à afirmação do domínio português na região, mas, provavelmente, a afirmação de seu próprio poder. (...)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 16 de outubro de  2008 >  Guiné 63/74 - P3320: Historiografia da presença portuguesa em África (8): Abdul Indjai, herói e vilão (Beja Santos)

(**) Vd. poste de 1 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11177: Para que a memória não se perca (4): Histórias da dobragem do século XIX para o século XX (José Martins)

(***) Vd texto de Fernando Jorge Pereira Teixeira: refflexões de um nacionaçista: parte I: o nosso desígnio como povo. In: Projeto Guiné-Bissau Contributo

(****) Vd. Santos, Michele Sost dos - Abdul Injai, a conquista portuguesa e o levante de 1919 na Guiné-Bissau : manifestação pública de um discurso oculto. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. Curso de História: Licenciatura. [Consult em 18 de julho de 2017]. Disponível em http://hdl.handle.net/10183/149538

(*****) Último poste da série > 15 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17585: Historiografia da presença portuguesa em África (80): Uma peça de ourivesaria a exaltar o paternalismo colonialista (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17595: "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra", brochura de 2002, da autoria do nosso camarada Gabriel Moura do Pel Mort 19 (6): Págs. 41 a 48

Capa da brochura "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra"

Gabriel Moura

1. Continuação da publicação do trabalho em PDF do nosso camarada Gabriel Moura, "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra", enviado ao Blogue por Francisco Gamelas (ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 3089, Teixeira Pinto, 1971/73).


(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17581: "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra", brochura de 2002, da autoria do nosso camarada Gabriel Moura do Pel Mort 19 (5): Págs. 33 a 40

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17594: Parabéns a você (1289): Jaime Bonifácio Marques da Silva, ex-alf mil paraquedista, BCP 21, Angola, 1970/72


Lourinhã > Ribamar > Porto Dinheiro > Tabanca de Porto Dinheiro > 12 de julho de 2015 >  O Jaime e a Dina, ambos professores,  já então reformados, e dividindo o seu tempo entre a Lourinhã e Fafe. Ela é de Fafe, ele, do Seixal, Lourinhã. Em Fafe o Jaime Silva foi autarca, tendo tido o pelouro da cultura e desporto no respetivo município. O casal vive agora permanentemente na Lourinhã. (Como se costuma dizer, o bom filho à casa torna.)

Foto (e legenda): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O Jaime Bonifácio Marques da Silva, além de conterrâneo do nosso editor, é seu grande amigo e camarada. Foi alf mil paraquedista, BCP 21, Angola 1970/72. É membro da nossa Tabanca Grande. Tem 4 dezenas de referências no nosso blogue.

Faz hoje anos. E tem direito a soneto natalício... O "leitmotiv" é a expressão "mouro/sarraceno"... Conta ele que, em Fafe, amigos e adversários políticos, lembravam-lhe por vezes,  logo no início, a sua terra de origem, Lourinhã, conquistada aos mouros em 1147... E ele retorquia, com evidente sentido de humor,  que pior que os "mouros", ainda eram os "sarracenos"... É evidente que os termos são equivalentes, mas "sarraceno" tinha, no nosso tempo de escola, uma conotação mais pejorativa...

O Jaime passou uma boa parte da sua vida em Fafe, donde é natural a Dina, que ele conheceu na Lourinhã, depois do seu regresso de Angola. O casal tem dois filhos, doutorados. E o Jaime, como vereador no município de Fafe, deixou marcas no domínio da cultura, educação e desporto, incluindo campeões... Ele foi professor de educação física.  (LG).

Soneto para o Jaime
meu conterrêneo, amigo e camarada,
e para a sua querida Dina:
duplos parabéns,
do Luís (e da Alice)


Dom Jaime, fidalgo, de estirpe antiga,
Não nega sua origem sarracena
Ao pai da bela noiva, que é morena,
Celtibera e boa rapariga.

Em Fafe há lendas de moura encantada,
Na Lourinhã há moço que vale ouro,
E casadouro!… Que me importa se é mouro,
Quero é a Dina feliz e bem casada!


... Hoje há festa na casa do Seixal,
Faz anos Dom Jaime, o proprietário,
Mas a festa é dos dois, é do casal:

Diz o jornal de Fafe que vão ser avós!!!
Para ele, um feliz aniversário,
P’rós dois, xicoração... de todos nós!

Luís & Alice

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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P17593: (De) Caras (85): Gente boa, brava e chã da Tabanca dos Melros em dia de apresentação das "Memórias Boas da Minha Guerra", volume II, do José Ferreira: restaurante "Choupal dos Melros", Fânzeres, Gondomar, 8 de julho de 2017 - Parte II (Vídeo, fotos e texto: Luís Graça)


Gondomar > Fânzeres >Tabanca dos Melros > 8 de julho de 2017 > Sessão de apresentação do II Volume do livro "Memórias Boas da Minha Guerra", de José Ferreira (Lisboa, Chiado Editora, 2017) > O autor, visivelmente bem disposto,  no uso da palavra, no final da sessão. Vídeo (8' 45'') disponível em You Tube > Luís Graça
 

Foto nº 1 > Gondomar > Fânzeres >Tabanca dos Melros > 8 de julho de 2017 > Sessão de apresentação do II Volume do livro "Memórias Boas da Minha Guerra", de José Ferreira (Lisboa, Chiado Editora, 2017) > À direita, uma das quatro amorosas netas do escritor. De pé, os "melros", da esquerda para a direita, David Guimarães, Gil Moutinho e António Marques Barbosa.



Foto nº 2 > Aspeto geral da assistência


Foto nº 3 >  A "bicha" para a sessão de autógrafos


Foto nº 4 >  O escritor e...  o professor (Joaquim Peixoto). Em segundo plano, de costas, à direita, o Manuel Carvalho; ao fundo, ao centro, o José Cancela.


Foto nº 5 > Dedicatória "ao amigo penafidelense Joaquim Peixoto, camarada da Guiné e de outras guerras, com muita estima e admiração".


Foto nº 6 > O António Barbosa assina o "livro de honra da Tabanca dos Melros", neste caso o cartaz com o evento do dia.


Foto nº 7 > Aspeto dos aperitivos servidos em mesas de tampos de carros de bois, sob uma belíssima latada.


Foto nº 8 > Uma casa cheia de memórias vivas, uma quinta que é também um núcleo museológico da ruralidade gondomarense... e da guerra colonial.  O concelho de Gondomar teve mais de 7 dezenas de mortos na guerra do ultramar / guerra colonial.


Foto nº 9  > Belo exemplar de uma prensa de varas, de um antigo lagar de vinho, em uso no país até meados no séc. XX,  uma tecnologia que remonta aos romanos


Foto nº 10 > Restaurante Choupal dos Melros > À mesa, o "melro" Antero Santos e a esposa. Deste restaurante típico, gerido pelo nosso camarada Gil Moutinho, diz o Expresso ("Boa Cama e Boa Mesa"):

"O restaurante típico Choupal dos Melros, inserido na Quinta dos Choupos, em Fânzeres, está vocacionado para eventos, abrindo apenas ao almoço de domingo para serviço ao público em geral. A sala é cómoda e rústica, com um serviço eficiente e pratos bem preparados em forno de lenha. Tem uma agradável varanda coberta por um telheiro que constitui uma excelente alternativa na época do verão. Boa garrafeira."

Vídeo, fotos e legendas): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Guiné 61/74 - P17592: Efemérides (260): O dia em que entrei para a tropa... Foi há 50 anos, em 10/7/1967, na EPC, Santarém (Valdemar Queiroz, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]



Samtarérm > Escola Prática de Cavalaria > Abril 1971. Junto à entrada da EPC,  o Augusto Silva Santos, ladeado pelos camaradas Lúcio e Miguel Ângelo.

Foto (e legenda): © Augusto Silva Santos (2014). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




O DIA EM QUE ENTREI PRÁ TROPA


[, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70]



Quem, de nós, não se lembra do dia em que entrou prá tropa?

Eu lembro-me. Faz agora 50 anos.

Foi no dia 10 de Julho de 1967, na Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, para o CSM [, Curso de Sargentos Milicanos]. Já tinha 22 anos e, até hoje, não sei a razão por ter sido chamado tão tarde.

Tinha estado, uns dias antes, na Portugália, em Lisboa, a jantar ou, melhor, a comer o bife ‘à Portugália’ com um amigo que ia para Santarém horas depois ou, talvez fosse a um sábado, não me lembro bem. Contou-me que estava na EPC. no Curso de Sargentos Milicianos.
− Eu, também, vou pra lá no dia 10 −  digo-lhe eu. 
− Estás lixado, tens que ser engraxador, polidor de metais e soldadinho de chumbo como o ‘Mouzinho’ e explicou-me o que devia levar e o que lá devia fazer, senão, depois, não ‘vens a fim de semana’, disse ele.

Cheguei a Santarém.  Fui o primeiro a entrar ao Quartel ‘Destacamento’ da EPC., cá em baixo na cidade, na parte da tarde. Levava escovas e latas de graxa prás botas e solarine prós amarelos, na bagagem. 

O Cândido Cunha, que eu não conhecia e que havia de me acompanhar na recruta, na especialidade e até ao fim da tropa, incluindo na mesma CArt. na Guiné [, a CART 2479 / CART 11], também fazia parte deste grupo de recrutas. Fomos encaminhados prós testes psicotécnicos dos dominós e outros pra saberem as nossas capacidades. 

Depois fomos receber o fardamento. Deram-nos o fardamento adequado com a particularidade de nos ser fornecido umas fitas vermelhas/verdes largas e compridas para serem cosidas na boina, assim como um cartão para ser colocado na parte interior/superior da boina para suporte das Espadas de Cavalaria e, também, uns elásticos para segurar/enrolar o final das calças entre as fivelas das botas pra ficarem a ‘golf à Mouzinho’. 

Depois, no final da tarde, já com tudo organizado e equipado viemos prá parada e eis que surge a primeira tropa a sério: 
− Quem dos presentes percebe de laranjas? − foi perguntado. 
− Nós!− , responderam alguns,  e lá foram estes descascar batatas no refeitório pró jantar. 

Espectacular!!!... Até dá gosto ter estado na tropa. Com as botas bem engraxadas e com os ilhós dos atacadores e das duplas fivelas dos plainitos brilhantes/reluzentes como as Espadas da Cavalaria da boina começamos a sair prá cidade e a visitar a família aos fim de semana.

Quem me dera ter agora vinte e dois anos.

Valdemar Queiroz

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Nota do editor:

Último poste da série > 21 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17498: Efemérides (259): Dia do Combatente Limiano - 6.ª Homenagem do Concelho de Ponte de Lima aos seus 79 Heróis Militares caídos em combate pela Pátria, 27 na I Grande Guerra e 52 durante a Guerra do Ultramar (António Mário Leitão, ex-Fur Mil na Farmácia Militar de Luanda)

Guiné 61/74 - P17591: Notas de leitura (978): “a Presença Portuguesa na Guiné: História Política e Militar 1878-1926”, Caminhos Romanos, 2016 (6) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Julho de 2017:

Queridos amigos;

Estamos agora na Guiné com o regime republicano. O primeiro governador queixou-se que encontrou tudo em estado caótico, é recebido em Bissau com críticas severas à monarquia. Não se deixa enganar, é homem crescido e sabe que está a viver num tempo de vira-casacas. O acontecimento preponderante em que se centra esta recensão pára pelo conjunto de feitos do capitão João Teixeira Pinto, caber-lhe-á um papel determinante na submissão de diferentes etnias revoltosas. 

Abandonando um comedimento que se exige a qualquer inventariador documental, o autor entra na defesa de Teixeira Pinto, usa mesmo exclamativas quando necessário, deixa um discurso ambíguo sobre a deportação de um comprovado biltre, Abdul Indjai, como se a colaboração entre ele e Teixeira Pinto maculasse o herói militar que irá morrer em combate em Moçambique, em plena guerra. E o autor começa igualmente a montar uma tese que jamais fundamentará de que há dois blocos em presença e em permanente tensão: a administração e os comerciantes.

Fica por explicar por que razão se meteu por caminhos tão ínvios. É pena. O levantamento ficará para o estudo, a despeito destas veleidades.

Um abraço do
Mário


A presença portuguesa na Guiné: história política e militar 1878-1926, 

Por Armando Tavares da Silva (6)

Beja Santos

“a Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar 1878-1926”, por Armando Tavares da Silva, Caminhos Romanos, 2016, é um contributo documental inescapável doravante para quem se dedicar à historiografia desta região.

Estamos agora em 1910, Carlos Pereira é o primeiro governador do regime republicano. Por razões de ofício, o novo governador expede ofício confidencial ao ministro, dando conta do que encontrou, fala de um estado caótico, de ilegalidades e de abusos. Encontrou alguns indivíduos republicanos, o que descobriu mais foram indivíduos escorraçados, e uma evidente atmosfera de intrigas. Visita Bissau e recebe queixumes do tipo “a inglória monarquia nunca soube aproveitar-se dos valores dos submissos filhos da colónia, alguns de reconhecidíssimas aptidões”. Há um processo contra o antigo governador Oliveira Muzanty, mais uma vez se fala num nome bastante controverso, Graça Falcão. As hostilidades não se compadeceram de um novo regime político, mas não haverá operações militares. O governador quer ver resolvido um sério problema da administração colonial que era a necessidade de encontrar mão-de-obra para S. Tomé, mas o descontentamento era muito e as deserções constantes e numerosas.

O ano de 1911 vê nascer a Liga Guineense, uma associação escolar e instrutiva, um pouco moldada na lógica do centros escolares republicanos adaptada a realidade colonial. No ano seguinte haverá desacatos na circunscrição de Cacheu e um feito que colocou Carlos Pereira na história da colónia: a demolição da muralha de Bissau.

Acontecimento que se revelará marcante é a chegada de um novo Chefe de Estado-Maior, o Capitão João Teixeira Pinto, traz currículo em África, depois de estudar o que podia ser a ocupação e pacificação da província, cedo descobre que a região do Oio é dos pontos fulcrais da insubmissão, é por aí que ele pretende começar. Embrenha-se no mato disfarçado, regressa doente a Bolama, lança a seguir uma operação sem poder socorrer-se dos Grumetes, mas aproveita-se dos irregulares de Abdul Indjai e de uma coluna tendo à frente o administrador de Geba, Calvet de Magalhães. Atacam o Oio, encontra-se séria oposição inicialmente, depois é bem-sucedido na companhia de Abdul Indjai e dos cerca de 400 dos seus irregulares mais um punhado de militares. Assim se chegou à submissão dos Balantas do Oio ao Norte de Bissorã.

O autor está na posse de toda a documentação necessária para nos contar com detalhe esta primeira investida de Teixeira Pinto e os capítulos subsequentes em que há acusações a Abdul Indjai, a tomada de posse do Governador Andrade Sequeira, o massacre do Pelotão de Polícia Rural do Alferes Pedro, as novas operações de Teixeira Pinto na região e Cacheu, a chegada do novo governador, Oliveira Duque, a coluna contra os Balantas, que contou com o apoio indispensável da Armada, bem como Abdul Indjai. Teixeira Pinto manter-se-á na Guiné até Outubro de 1914, regressa a Lisboa, mas é prontamente reenviado para a Guiné. A terceira e decisiva campanha é a de Bissau, Papéis e Grumetes estão de novo revoltados e contam com importantes apoios exteriores. Sem escusar a brutalidade e o castigo mais exemplar, os revoltosos não têm outra solução que a de submeter-se. A Liga Guineense, em conflito frontal com a política de Teixeira Pinto, é dissolvida.

Se até aqui o levantamento documental goza de um discurso neutral, há algo que vai mudar na narrativa, sente-se que Armando Tavares da Silva precisa de chamar a si a defesa do bom nome de Teixeira Pinto, recorrendo mesmo ao espólio documental dos seus herdeiros. O que vai levantar uma questão de princípio, que passa pela extensão dada à defesa do militar perante o acervo de acusações e um certo branqueamento do papel sinistro de Abdul Indjai, isto quando são elevadas as provas do exercício despótico que este antigo djila senegalês praticou em todos os locais por onde combateu, em desmandos, sequestros, prepotências que foram mais tarde o timbre da sua atuação seja no Cuor seja fundamentalmente no Oio.

É também neste contexto que o autor, sem dados factuais irrefutáveis, vai começando a montar a teoria da existência de dois campos opostos e em permanente conflito na Guiné, entre a administração e os mercadores/comerciantes. Exerceria já no dito conflito um papel maquiavélico o Secretário-Geral Sebastião José Barbosa.

Estamos já em 1916, Andrade Sequeira abandona a Guiné, a cobrança do imposto de palhota levanta muitos problemas, o autor estende-se novamente na defesa de Teixeira Pinto, não esconde o afã de deixar impoluto o nome deste herói de ocupação, Andrade Sequeira já partiu, é governador interino Manuel Maria Coelho, este envolver-se-á numa teia de acusações a uma coluna de polícia à ilha de Canhabaque, temos depois Carlos Ivo de Sá Ferreira governador, a partir de Junho de 1917. Dentro daquilo que é paz instável mesmo depois das operações de Teixeira Pinto, haverá novas operações e os Bijagós mantêm-se insubmissos.

Mas Portugal está em guerra, mobilizam-se tropas para a batalha na Flandres, para Angola e Moçambique, no fim do ano será assassinado Sidónio Pais, haverá novo governo e novo presidente da República, o Almirante Canto e Castro. As convulsões irão continuar, como é sabido. Voltando à Guiné, em Outubro de 1918 realizar-se-á uma operação contra os Felupes de Varela. Oliveira Duque ainda volta à Guiné, mas por muito pouco tempo, suceder-lhe-á Sousa Guerra.

Chegamos a outra questão emotiva que é a campanha contra Abdul Indjai e a sua deportação, novamente o autor dá espaço inusitado, até fica no ar uma réstia de possibilidade de que este chefe de guerra não se comportou como um desordeiro e um biltre, quando, afinal de contas, e o próprio autor o desvela, várias figuras que granjearam créditos militares caíram fragorosamente do auto do pódio, nada aponta para qualquer espírito de magnanimidade do aventureiro senegalês. E não há mal nenhum, naquilo que se chama a verdade dos factos, ver ligado o nome Teixeira Pinto ao de Abdul Indjai, o militar português, dentro dos parâmetros mentais da época, agiu em conformidade recrutando um senhor da guerra e já num contexto que será depois aprofundado a partir de Vellez Caroço entre as etnias amigas, as problemáticas, as manifestamente hostis. O dividir para reinar, que presidiu a esta fase da política colonial.

Entramos agora no último período do levantamento documental, está-se em 1920, é publicada uma nova carta orgânica da Guiné, faz-se a redução para metade do número de vogais não funcionários do Conselho de Governo e comete-se exclusivamente ao governador a organização do Conselho de Governo, corpo de consulta representativo da população. Choveram críticas, encontrou-se substância para sempre que necessário, em defesa de certos interesses, vir dizer que o governador é um prepotente…

Em Lisboa, num cenário de crescentes dificuldades de todo o género, procura-se uma nova panaceia para fazer sair Portugal do pelotão dos países europeus mais atrasados, muitos defenderam o desenvolvimento colonial. Já passara o tempo em que se propunha a solução da Guiné ser transformada numa companhia majestática ou algo aparentado. Agora o modelo passava pela criação de colónias agrícolas. Haverá experiências e enormes expetativas, umas no Rio Grande, pensava-se em concessões gratuitas a colonos europeus e cabo-verdianos, demarcando reservas territoriais para os indígenas, outras com culturas altamente desenvolvimentistas, foi assim que se lançou um empreendimento que trouxe à Guiné Armando Zuzarte Cortesão, a Sociedade Agrícola do Gambiel, com sede em Bafatá.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de Julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17582: Notas de leitura (977): “a Presença Portuguesa na Guiné: História Política e Militar 1878-1926”, Caminhos Romanos, 2016 (5) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17590: "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é já hoje", da autoria do 2.º Sargento Ref António dos Anjos, Tipografia Académica, Bragança, 1937 (6): Págs. 52 a 60 (Alberto Nascimento, ex-Soldado Condutor Auto)


1. Continuação da publicação do livro "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é hoje", da autoria do 2.º Sargento António dos Anjos, 1937, Tipografia Académica, Bragança, enviado ao Blogue pelo nosso camarada Alberto Nascimento (ex-Soldado Condutor Auto da CCAÇ 84 (Bambadinca, 1961/63).


(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 13 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17576: "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é já hoje", da autoria do 2.º Sargento Ref António dos Anjos, Tipografia Académica, Bragança, 1937 (5): Págs. 43 a 51 (Alberto Nascimento, ex-Sold. Cond. Auto da CCAÇ 84, 1961/63)

Guiné 61/74 - P17589: Parabéns a você (1288): Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 3492 (Guiné, 1971/74) e José Manuel Pechorro, ex-1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 19 (Guiné, 1971/73)


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Nota do editor

Último poste da série de 13 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17575: Parabéns a você (1287): António Tavares, ex-Fur Mil SAM do BCAÇ 2912 (Guiné, 1970/72) e Rogério Ferreira, ex-Fur Mil Inf MA da CCAÇ 2658 (Guiné, 1970/71)

domingo, 16 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17588: Agenda cultural (574): "Recordações da Pesca do Bacalhau" (5 volumes), do comandante Valdemar Aveiro: apresentação da coleção, 5ª feira, dia 20, às 18h00, a bordo do navio "Gil Eanes", Doca Comercial, Viana do Castelo. Apresentação do eng. Senos da Fonseca.




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Nota do editor:

Último poste da série >  13 de julho de  2017 >  Guiné 61/74 - P17580: Agenda cultural (573): O II volume de "Memórias Boas da Minha Guerra", da autoria de José Ferreira, foi apresentado no passado dia 8 de Julho de 2017, na Quinta dos Choupos, em Fânzeres, Gondomar

Guiné 61/74 - P17587: Blogpoesia (519): "A gaivota sozinha..."; "No bar do Reichelt..." e "Adoração ao sol...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Gaivota sozinha. © Carlos Vinhal


1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


A gaivota sozinha...

Uma gaivota sozinha passou ao meu pé,
pisando a areia,
à borda do mar.

Me olhou de soslaio,
parecia dizer:
- bom dia, amigo.
sabe bem passear,
ver o sol a nascer.
Desejei-lhe um bom dia
e ela desatou a voar
como só ela o sabe fazer.

Harmonia no céu,
serenidade no mar.
Um dia de praia
começava a nascer.

Foi belo o encontro
com a gaivota sozinha
que passeava a pé...

Roses, 16 de Julho de 2017
7h46m
Jlmg

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No bar do Reichelt...

Do canto do bar,
durante a manhã,
vejo quem entra e quem sai,
carregado de compras
do supermercado.

Rostos serenos,
nada expansivos,
enchem os carros
com tudo o que há,
sem olhar para o lado.

Cabelos grisalhos,
são reformados
os maiores clientes,
durante a semana.

Papelinho na mão,
do bom e melhor,
levam de tudo,
conforme precisam.

Independência total,
sem pobres nem ricos,
é tudo igual...

Bar do Reichelt, 12 de Julho de 2017
8h44m
Jlmg


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Adoração ao sol...

Mal acordei,
vi o sorriso do sol,
no casario ao longe
do outro lado do mar
e desatei a sorrir.

Ali, à frente, do outro lado da rua,
e duma restinga de praia,
as gaivotas em linha,
debicam as ondas que chegam
e se espraiam cansadas.

O mesmo tractor de há um ano,
não pára.
Filtra e alisa as areias,
dos restos que ontem
os banhistas deixaram
na volúpia do dia.

Aos poucos, a praia vai animando.
Repetem-se os gestos.
Escolhe-se os poisos,
o mais perto das ondas.
Abrem-se cadeiras,
se estendem toalhas,
cada corpo a sua.

A custo se espetam os guarda-sóis
que o vento destrona num ápice.

Tiram-se as vestes ao corpo.
O recato se enterra
e o que se guardava à chave,
expõe-se sem custos
aos olhos de todos.

Tantas mazelas ocultas
se abrem ao sol.

Afinal, a diferença que parecia reinar,
por debaixo das vestes,
se reduz a nada,
porque, no fundo,
somos todos iguais...

Roses, 15 de Julho de 2017
14h15m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17561: Blogpoesia (518): "Terra queimada..."; "Milhões de folhas" e "No meu paquete...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P17586 Tabanca Grande (441): António Abrantes: foi cadete em Mafra, em julho de 1961, com o Manuel Alegre, Arnaldo de Matos e outros, sendo o Ramalho Eanes tenente; foi alferes mil, CCAÇ 423 (São João e Tite, 1963/65); senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 748.


Foto nº 1 



Foto nº 2 


Foto nº 3 


Foto nº 4


1. Mensagens, de 8 do corrente,  do novo grã-tabanqueiro, António Abrantes, que se vai sentar à sombra do nosso poilão, nº lugar nº 748. Foi alf mil inf, CCAÇ 423 (São João e Tite, 1963/65) (*)

Camaradas:

Só agora reparei que não enviei certos dados necessários:

(i) Fui Alferes Miliciano de Infantaria, especialidade de Armas Pesadas e,  como era dos que tinham melhor classificação e dada a especialidade,  não seria mobilizado.

(ii) Estava a dar instrução de Morteiros, em Viseu, quando a mês e meio de acabar o tempo normal fui mobilizado e para uma Companhia de Cacadores !

(iii) A minha Compannhia, a CCac 423, foi a ultima a ir por terra para o Sul da Guiné ,saindo de Bissau, Nhacra, Mansoa, Mansaba, Bafatá, Xitole, Aldeia Formosa, Buba, onde pernoitamos, Fulacunda, Brandão, Nova Sintra e, dada impossibilidade de chegarmos a S João, desvio para Tite para ao outro dia irmos até ao Enxudé (Porto de Tite ) onde embarcamos numa draga (a Geba) para,  numa viagem atribuladam  passarmos ao lado de Bissau e já no canal de Bolama nos aproximarmos do Continente, e com água pela cinta desembarcamos em S João . 

(iv) Como o IN não contavam  aqui não houve tirosM esses, os tiros começaram com uma emboscada no célebre "cruzamento de Buba" e acompanharam - nos várias vezes até Nova Sintra;

(v) De São João  vim evacuado para o HMP em Lisboa , tendo regressado a Guiné e ficado, como era o alferes com mais antiguidade, coocado na 4ª  Rep  do QG como Adjunto do Chefe de Transportes.

(vi) como curiosidade a minha medalha das campanhas da Guiné (felizmente sem ser herói) é a única que tem na legenda "Guiné 63-64-65-66-67". 

Um Grande Abraço a todos os Camaradas.


2. Nova mensagem do nosso novo membro da Tabanca Grande:

Pedias-me alguns dados meus: 

(i) estou reformado,  dada a provecta idade;

(ii) fui apanhado na Universidade e enfiado em Mafra, na EPI, em 31 de Julho de 1961;

(iii) no curso de oficiais milicianos (COM),  éramos, como eu costumo dizer (na paródia), "eu, o Manuel Alegre, o Arnaldo Matos (MRPP) e mais 493":

(iv) o general Eanes era lá tenente;

(v) depois de passar à disponibilidade,  arranjei emprego ligado a produtos farmacêuticos e acabei a licenciatura como estudante- trabalhador...

Um grande abraço a todos os camaradas, coma esperança de também poder ficar a sombra do poilão da Tabanca Grande.

Nota: Tenho poucas fotografias mas a seu tempo mandarei mais algumas (se me for permitido) bem como algumas "estórias" passadas na Guiné.

Aqui vão as legendas:

Foto do  aspiarnte a oficial miliciano .Antonio Manuel de N. R. Abrantes , pouco antes de embarcar [Foto nº 2]

Foto tirada em Tomar, vê-se parte do meu pelotão, com o malogrado Furriel Hércules Arcádio de Sousa Lobo, da 3ª secção (ainda cabo miliciano) [Foro nº 2] 

Foto tirada em Bissau, a única que possuo com qualidade razoável [Foto nº 3]

Toto  mais recente [Foto nº 4]

3. Comentário do nosso editor LG ao poste P17552 (**):

Caro camarada António:

É uma honra ter, no blogue da Tabanca Grande, um representante dos bravos da CCAÇ 423. Até agora, não havia ninguém que representasse condignamente esta subunidade.

Não leves a mal que a gente se trate por tu, à boa maneira romana: afinal fomos e continuamos a ser camaradas de armas, no sentido forte do termo.

Fica desde já, o convite para te sentares à sombra do nosso poilão. Temos um lugar livre, o nº 748... Só precisamos, de acordo com os nossos regulamentos, de duas fotos tuas, uma dos heróicos tempos de Quínara e outra atual... E dois parágrafos de apresentação: já sabemos quem foste, pode-nos dizer quem és hoje, onde vives, o que fazes... Estás, por certo, reformado mas não "arrumado": precisamos de ti para cobrir esse ano de 1963, e os seguintes... Há falta de documentação fotográfica, de testemunhas, de histórias, etc.

Posso continuar a contar contigo ?

O precioso "comentário" que me mandaste sobre a maldita mina ou fornilho do dia 3/7/1963 (há 54 anos!) foi transformada em poste, como podes ver aqui.

Tens o meu email ou do Carlos Vinhal, para nos contactar, de futuro.
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 30 de junho de  2017 > Guiné 61/74 - P17527: Tabanca Grande (440): Alfredo Roque Gameiro Martins Barata (1938-2017), ex-alf mil médico, CCAÇ 675 (Binta e Guidaje, 1964/66), nosso grã-tabanqueiro nº 747... Mais um camarada que não queremos que fique na vala comum do esquecimento

(**) Vd. poste d e29 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17522: (De) Caras (88): O fur mil inf Hércules Arcádio de Sousa Lobo, natural da ilha do Sal, Cabo Verde, foi gravemente ferido pelo primeiro fornilho acionado no CTIG, às 9h00 do dia 3 de julho de 1963, na estrada São João-Fulacunda, vindo a morrer no HMP, em Lisboa, no dia 16, devido às graves queimaduras. Eu era o comandante da coluna (António Manuel de Nazareth Rodrigues Abrantes, ex-alf mi inf, CCAÇ 423, São João e Tite, 1963/65)